temporada de balanços ofuscou todo o brilho da renda variável. Segundo levantamento do TradeMap divulgado na quinta-feira (17), o lucro das companhias com ações na Bolsa de Valores recuou 39,5% no terceiro trimestre de 2022, de R$ 54,1 bilhões para R$ 32,7 bilhões. Mesmo nesse momento complicado e desafiador, dois setores brilharam e chamaram a atenção. As empresas do setor elétrico e saneamento foram destaques. As companhias de energia elétrica tiveram o maior lucro total entre as que não pertencem ao setor financeiro. A cifra chegou a R$ 9,68 bilhões entre julho e setembro.

Já o setor de água e saneamento teve a maior alta percentual. Quando comparado com o lucro do mesmo período de 2021, o avanço foi de 95,9%. Para o analista da Top Gain Sidney Lima, tanto energia quanto saneamento, por serem prioridades básicas, “tendem a ser mais estáveis devido a necessidade das pessoas independentemente do cenários”.

No caso da energia elétrica, outro fator que beneficiou o resultado foi a inflação. Se por um lado ela arrefece muitas empresas, por outro, pode ajudar algumas. Especialista de renda variável e sócio da Acqua Vero Investimentos, Heitor De Nicola explica que o setor possui majoritariamente contratos indexados pela inflação, seja por IPCA ou IGP-M. “Isso acaba se beneficiando do atual cenário macroeconômico local de um ciclo inflacionário ainda persistente”, disse.

Ainda assim, de acordo com os dados da TradeMap, as empresas de energia elétrica tiveram queda de 37,4% no lucro em relação ao mesmo período do 2021. Para De Nicola, os números até podem assustar, mas escondem uma operação robusta das companhias. “Embora as empresas de distribuição tenham sido impactadas por volumes menores, elas entregaram números operacionais decentes.” Outro fator, explica ele, se deu no segmento de geradores hidrelétricos, que teve os resultados pressionados pelos altos custos de compra de energia. Mesmo assim, os números mostraram robustez na comparação anual, “graças a uma base comparativa mais fácil devido à hidrologia ruim do ano passado”.

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“Nenhuma empresa do setor está com dividend yield acima de 13,75% previsto para 2023” Heitor De Nicola especialista de renda variável e sócio da Acqua Vero Investimentos.

A expectativa do mercado é que o setor elétrico siga pagando bons dividendos, mas é preciso cautela. O investidor não deve esperar que os proventos sejam tão polpudos a ponto de superar a Selic de 13,75% ao ano. Os especialistas acreditam que essas empresas dificilmente vão superar os investimentos da renda fixa. Segundo De Nicola, nenhuma companhia do setor está com dividend yield (DY) acima de 13,75% previsto para 2023. “Ainda que Engie e Alupar se aproximem, com DY estimado para 2023 em 11,4% e 10,1%, respectivamente”, disse. Ele completa que a Equatorial pode ser uma das melhores no segmento de distribuição de energia. Já o analista-chefe da VG Research, Luan Alves, aponta outras companhias do setor devem aparecer como pagadoras de proventos aos seus acionistas. “CPFL, Taesa, Copel, ISA Cteep, vão entregar dividendos entre 8% e 11% ao ano”, afirmou.

SANEAMENTO Se o setor elétrico ainda enfrentou a dicotomia de ter o maior lucro, mas ainda ter queda na comparação anual, o de saneamento apresentou a maior alta entre todos os segmentos analisados pela TradeMap, impulsionado principalmente pelo desempenho da Sabesp. A companhia apresentou resultados operacionais sólidos, aumento de tarifas e um menor impacto financeiro da variação cambial. “Dessa forma o lucro líquido da Sabesp aumentou 130% no período, puxando a média do segmento”, disse Alves.

Para os próximos anos, Luan Alves e Heitor De Nicola concordam que as empresas de saneamento vão enfrentar o mesmo dilema que as do setor elétrico, dividendos abaixo da taxa básica de juros. No entanto, mesmo com o rendimento inferior à renda fixa, o segmento tem uma empresa favorita eleita pelo mercado, o que o difere das companhias de energia. “A Sabesp é a preferida, ainda mais após a possibilidade de uma privatização, que reduziu o risco e deixou o papel mais atrativo”, disse Nicola. Sendo assim, ainda que os setores elétrico e de saneamento possuam um brilho que acaba não encantando o investidor que procura por rendimentos de curto prazo em aplicações de renda fixa, os segmentos devem continuar como alternativa para o horizonte de longo prazo.