As fotos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o líder francês Emmanuel Macron, tiradas na quarta-feira (27), não deixam dúvidas de que os dois vivem uma espécie de lula-de-mel diplomática. Algumas imagens, de tão fora do script para dois chefes de estado, rodaram o mundo e viraram memes na internet como “ensaio pré-casamento” ou “trash the dress”, quando os noivos posam em situações e paisagens inusitadas. Mas por trás do romantismo das fotos existem muitos interesses — de ambos os lados. No lado de Lula, a maior ambição é convencer Macron a destravar o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia.

Com ajuda dos ministros Marina Silva (Meio Ambiente), Fernando Haddad (Fazenda) e o vice-presidente Geraldo Alckmin (Desenvolvimento), o governo brasileiro atua nos bastidores para dissuadir os franceses. É sabido que Macron enfrenta o poderoso lobby do agro francês, que se sente ameaçado pela abertura do mercado a produtos mais baratos vindos da América do Sul.

Inicialmente, os franceses culpavam a devastação ambiental do governo Bolsonaro para não concretizar o acordo. “O acordo tal como está agora é péssimo, porque foi negociado há 20 anos. Precisamos reconstruí-lo pensando no mundo como ele é hoje”, afirmou o presidente francês, em encontro com empresários e banqueiros na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na quarta-feira (27). “Não defendo, porque não leva em conta o clima como deveria. E digo isso num país que está muito empenhado na luta contra o desmatamento”, disse.

(Luc Auffret)

Ao lado de Alckmin e Haddad, Macron defendeu a construção de um novo acordo, que permita reciprocidade entre os mercados sul-americano e europeu, com mais exigências de todas as partes. “Se o Brasil quer avançar nas negociações com a gente, precisa apresentar metas e compromissos concretos, principalmente no que trata de proteção da Amazônia”, afirmou Macron. “França e Brasil têm uma agenda comum para combater as mudanças climáticas.”

Tirando o que deu errado, quase tudo deu certo na vista de Macron ao Brasil.
Pelo lado de Macron, a visita objetivou, no campo político, tratar do combate à desinformação, conter o avanço da direita e valorizar a democracia. Comercialmente, o mais emblemático gesto do encontro foi o compromisso do francês com o Programa de Desenvolvimento de Submarinos da Marinha, o Prosub. Macron se comprometeu a trocar tecnologia para fabricação de submarinos convencionais, a diesel, e nucleares.
Por isso, ao lado de Macron, Lula lançou o submarino Tonelero em Itaguaí, litoral do Rio de Janeiro, o terceiro da Marinha brasileira. “Hoje, com o complexo instalado aqui, o Brasil se posiciona dentro de um pequeno grupo de países que domina a construção de submarinos. O Prosub garante a soberania brasileira no nosso litoral, fortalece a indústria naval e promove o desenvolvimento do setor com muita inovação”, disse Lula.

BILATERAL

Em sincronia com a visita do presidente da França ao País, a ApexBrasil lançou estudo para promover relações econômicas bilaterais entre os dois países. Chamado de Perfil de Comércio e Investimentos —França, o levantamento mostra que há mais de 400 oportunidades comerciais para produtos brasileiros, totalizando um mercado potencial de mais de US$ 120 bilhões. Investimentos franceses no Brasil também são destaque.

Em 2023, a corrente de comércio entre Brasil e França foi de US$ 8,4 bilhões e as exportações brasileiras chegaram a US$ 2,9 bilhões.
Desde 2019, as vendas brasileiras cresceram, em média, 3% ao ano, mas a participação brasileira no mercado francês (0,5%) ainda é inferior à média de participação global do Brasil (1,2%).
Além de aumentar seu market share, o País tem o desafio de diversificar os produtos exportados.
Os dez principais grupos de produtos vendidos pelo Brasil para a França representam mais de 70% do valor total, com destaque para commodities como farelos de soja, óleos brutos de petróleo e minérios de ferro.

Quanto às importações, a França é um dos mais importantes fornecedores do Brasil (9º). As compras brasileiras têm aumentado nos últimos anos, a uma taxa anual de 3,2%. Defensivos agrícolas, em especial, ganharam importância nas importações brasileiras em decorrência do bom desempenho do agronegócio e da guerra da Rússia na Ucrânia.