O Don Melchor, um dos grandes vinhos chilenos, nasceu como um autêntico cabernet sauvignon. Em suas primeiras safras, na década de 1980 e 1990, o tinto era elaborado apenas com esta variedade. Em 1995, sua mescla teve 3% de merlot e, desde 1999, o cabernet franc entra em pequenas quantidades no blend na maioria dos anos, nunca em porcentagem maior do que 8%. Nos 127 hectares de vinhedos próprios, na nobre região de Puente Alto, há também petit verdot plantado. Mas são vinhas novas, ainda sem a complexidade necessária para entrar na receita do Don Melchor.

Os sete hectares de cabernet franc, plantados há 26 anos, vem surpreendendo por sua qualidade safra após safra. Tanto que Enrique Tirado, o enólogo do Don Melchor deve lançar no começo do ano que vem um tinto elaborado apenas com esta uva. Não será um Don Melchor, apesar de as uvas serem originarias do seu vinhedo. Será um Gravas del Maipo, linha criada pela Concha Y Toro para vinhos ícones e de pequena produção.

Tirado está bem feliz com o projeto, que ele também coordena. A linha Gravas (palavra que significa cascalho em espanhol) surgiu em 2007, com um syrah, e agora terá mais dois vinhos: este cabernet franc, com primeira safra em 2013, e também um sauvignon blanc, da safra de 2014, com uvas da região fria de Bio-Bio, ao sul do Chile. “É um desafio voltar a elaborar brancos”, diz ele, que foi o responsável pelo Amélia, um potente chardonnay da CYT no final da década de 1990.

Tirado veio ao Brasil apresentar a nova safra do Don Melchor, a de 2010, que ganhou novo rótulo, mais “clean”. Na taça, o tinto tem cor rubi concentrada, é bem elegante, com notas de frutas vermelhas, cassis, nuances minerais e de grafite. No paladar, é potente, mas com taninos macios, sedosos, com boa persistência. Premiada, esta safra acabou de ser eleita entre as 10 melhores vinhos do mundo pela revista norte-americana Wine Spectator, e é vendida por R$ 419, na VCT.