A gigante italiana Parmalat, famosa pela agressividade em mercados como os de leite tipo longa vida, biscoitos e laticínios, iniciou nos últimos meses estudos estratégicos para definir se vai virar uma guerreira também no ramo de chocolates. Desde 1998, quando adquiriu a Neugebauer, sua primeira fábrica do tipo no mundo, a Parmalat vinha caminhando timidamente no negócio. Não quis mexer nas estruturas do setor nem desafiar concorrentes, preferindo melhorar a qualidade dos tabletes e bombons e aumentar a produtividade. O objetivo foi tocado à risca pelo diretor geral da linha de biscoitos, Paulo Rossetto, encarregado da missão. ?Em três anos, elevamos o faturamento em 30% e saímos do vermelho. Nossa receita anual passou para R$ 45 milhões?, conta. ?Agora chegou o momento de definir de vez o futuro da companhia.? A decisão tem o aval da matriz e, mais que isso, envolve um operação mundial.

De olho em grandes concorrentes como a norte-americana Mars e a suíça Nestlé, a companhia adquiriu no semestre passado, sem nenhum alarde, a indústria de chocolates finos Streglio, de Turim. Foi um negócio de apenas US$ 47 milhões, mas que pode trazer benefícios diretos para a ambição brasileira. Uma das idéias é justamente transferir tecnologia para a filial, para que crie músculos e possa enfrentar de vez as gigantes Nestlé, Lacta e Garoto. Pode ser o início de um plano mundial de arrancada no ramo de chocolate.

A Neugebauer é hoje uma marca considerada barata, que não prima pela qualidade. Um de seus carros-chefe são os tabletes Bib?s. Possui apenas 4,5% de um mercado de R$ 1 bilhão ao ano, vendendo, sobretudo, na região Sul. É um número quase irrisório frente aos 26,5% da Garoto, por exemplo. O executivo da Parmalat, no entanto, prefere ser cauteloso quanto ao novo destino de seus chocolates. ?Estamos avaliando se uma ofensiva nacional é realmente vantajosa ou se é melhor nos restringirmos ao Sul, garantindo uma pequena mas rentável participação?. A modéstia surpreende. Uma empresa como a Parmalat não é de se contentar com nacos de mercado, ainda mais quando há uma operação mundial envolvida na história. Tanto é que foi criada há quatro meses uma gerência para se dedicar ao assunto. Um dos motivos que favorece o pulo do gato é que a capacidade de produção da fábrica da Neugebauer, em Porto Alegre, está no limite. ?São 10 mil toneladas por ano. E não há como expandir ali?. A decisão de investir em uma nova unidade, talvez em Jundiaí, no interior de São Paulo, faz mais sentido quando os objetivos são ambiciosos. Mesmo o fim da marca Neugebauer, estigmatizada pela baixa qualidade, está em análise. Seria substituída pelo nome Parmalat, conhecida em todo o Brasil. A empresa fez algo parecido em acordo com a rede de hipermercados Carrefour, estabelecendo que os bombons e tabletes seriam vendidos com a marca Status.

Rossetto sabe que uma investida contra companhias como a Nestlé ou Lacta, que dominam o negócio, pode gerar mortos e feridos de todos os lados. Para ganhar vantagem, contratou profissionais com experiência em empresas de chocolate como a Ferrero, fabricante dos bombons Ferrero Rochet. A Parmalat pensa em voar bem alto. Os estudos de mercado estão sendo elaborados e até julho a matriz dará sua palavra final. Os mamíferos estão famintos.