Graças a superproduções como Titanic e Avatar, o diretor canadense James Cameron se transformou em um rosto conhecido mundialmente e em um interlocutor das causas ambientais. No total, essas duas produções arrecadaram cerca de US$ 4 bilhões, em nível global. 

Apesar do estrondoso sucesso, Cameron em nada se assemelha ao estereótipo do diretor de cinema: aquele sujeito arrogante e autoritário que distribui baforadas de charuto no ar. Pessoa de trato afável e gestos contidos, ele pede ajuda ao interlocutor para escolher um vinho branco para harmonizar com a costela de tambaqui assada que estava prestes a degustar, em um restaurante rústico de Manaus. 

 

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“Os projetos governamentais devem levar em conta os ganhos econômicos e também os sociais”

James Cameron diretor de cinema

 

Foi nesse ambiente descontraído que DINHEIRO falou com exclusividade com um dos mais bem-sucedidos diretores de Hollywood. No ano passado, ele liderou a lista dos mais bem pagos do mundo do cinema com US$ 257 milhões. 

 

Em sua segunda passagem pelo Brasil, Cameron e o ator e amigo Arnold Schwarzenegger, parceiro em superproduções como O Exterminador do Futuro e  True Lies, visitaram indígenas na região de Altamira (PA), onde será construída a usina hidrelétrica de Belo Monte. 

 

Durante o jantar, que reuniu também integrantes das etnias kayapó e juruna, Cameron recebeu do cacique Raoni o nome de batismo de Kapremp-ti (homem que tem a força da natureza, em português), uma honraria raramente concedida a caras-pálidas.

 

Questionado sobre seu envolvimento na polêmica sobre Belo Monte, Cameron desconversou: “Fui convocado para essa causa por ONGs e entidades ligadas aos índios”, diz. Segundo ele, ao insistir nessa obra, o governo brasileiro perde a oportunidade de liderar a corrida pela energia verdadeiramente sustentável. A intimidade com o tema foi obtida no último ano, período no qual Cameron participou de seminários e conversou com especialistas na matéria. A seguir, os principais trechos da entrevista:      

 

Guerreiro ambiental

 

DINHEIRO – A crise envolvendo a hidrelétrica de Belo Monte pode se tornar um mote para seu próximo filme?

JAMES CAMERON – Não penso nisso. Entrei nesse debate porque fui convidado, na qualidade de personalidade global, a defender a causa das pessoas que serão prejudicadas pela obra.

 

 

DINHEIRO – O sr. se uniu a essa causa como um desdobramento do filme Avatar, cuja mensagem é preservacionista?

CAMERON – Avatar é uma ficção e Belo Monte é uma realidade. O filme foi feito com coração e fala de coisas nas quais eu acredito. Apesar disso, são duas instâncias diferentes da minha vida.   

 

 

DINHEIRO – A impressão que se tem é que o sr. caiu de para-quedas no debate sobre a sustentabilidade…

CAMERON – Não é verdade. Entro de cabeça em tudo que faço. Antes de filmar Titanic fiz inúmeras pesquisas submarinas. Sou mergulhador e desci ao local da tragédia de submarino, diversas vezes. O mesmo foi feito em relação a Avatar. Estudei essa temática durante cinco anos. 

 

 

DINHEIRO – Como o sr. recebe as críticas dos que dizem que estaria interferindo nos assuntos domésticos do País?

CAMERON – Gostaria de reiterar que não entrei nesse debate por conta própria. Minha presença foi solicitada por ONGs internacionais e comunidades brasileiras ligadas aos índios. Eles avaliaram que o prestígio amealhado no mundo do cinema ajudaria a divulgar a luta dos que são contra a construção da usina. Depois de Avatar, eu recebi convites para atuar em causas semelhantes na Indonésia e muitos outros países. 

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Campeão de audiência: com Avatar, Cameron obteve a maior bilheteria da história,

US$ 2,5 bilhões, e se tornou um defensor das florestas

 

DINHEIRO – Mas é notório que o Brasil precisa de energia extra para manter sua taxa de crescimento no patamar acima de 5%?

CAMERON – É claro que o Brasil precisa crescer e se desenvolver. No entanto, há várias formas de fazer isso. Pelo que aprendi com os especialistas, as necessidades energéticas do País são imensas, mas podem ser supridas de outra forma. Uma delas  é o uso de energia sustentável como a solar. A Alemanha é um país que possui insolação muito menor que o Brasil e mesmo assim conseguiu fazer com que 20% de sua matriz energética seja obtida com projetos de geração solar. 

 

 

DINHEIRO – E quem banca o custo mais elevado em relação à opção hídrica?

CAMERON – Quando se fala em projetos de infraestrutura é preciso fazer as contas,  levando em consideração aspectos econômicos e sociais. Se colocarmos na balança apenas os números, pode ser que a opção solar seja mais cara. Porém, ao pesarmos a questão social, fica claro que os investimentos em energia solar e eólica, por exemplo, são bastante competitivos.