Felli, diretor: Empresa criou resina que resiste a altas temperaturas

A Braskem é a maior indústria petroquímica da América Latina. Possui 14 plantas industriais e fatura R$ 15 bilhões com a venda de seis milhões de toneladas de resinas termoplásticas e insumos petroquímicos básicos. Com números dessa magnitude seria de imaginar que a companhia voltasse sua atenção apenas para projetos bilionários. Certo? Não exatamente. A mais nova aposta da empresa é o segmento de copinhos de café e outros descartáveis (copos de refrigerante e pratos, por exemplo). É um nicho que movimenta R$ 490 milhões, consome 90 mil toneladas de resina e cresce à taxa anual de 6%. Até então a Braskem estava fora do universo dominado pelas rivais (Basf, Dow, Inova) porque não atua com o poliestireno ? a resina tradicionalmente usada na fabricação desses produtos. A saída, então, foi desenvolver uma fórmula capaz de fazer com que o polipropileno (insumo no qual a Braskem tem uma posição de destaque) pudesse competir em custo e eficiência com o poliestireno. Foi assim que nasceu o polipropileno H502HC. Mais que uma sucessão de letras e números, essa matéria-prima é a responsável por uma revolução na indústria de embalagens. ?Com ela é possível fazer copos e outros utensílios domésticos leves e capazes de resistir a altas temperaturas. E, mais importante, com preço competitivo?, diz Luis Felli, diretor comercial da Braskem.

São diferenciais importantes em relação ao poliestireno, que tem limitações à temperatura. A substância que garante tamanha flexibilidade ao polipropileno da Braskem é um catalisador cuja fórmula é mantida a sete chaves. Segredos à parte, o certo é que se trata de um produto vencedor. Graças a ele, em menos de dois anos a Braskem saiu do zero e hoje domina uma fatia de 30% do mercado. E a expectativa é avançar cada vez mais. Em 2006 entra em vigor a norma técnica que obriga a elevação do peso mínimo dos copinhos de 1,4g para 2,2g. ?Nossa resina pode cumprir esse requisito com baixo custo?, diz Felli. A descoberta, no entanto, não garantiu dividendos imediatos à Braskem. Isso porque, para aderir à nova resina, seria preciso investir em máquinas importadas ao custo de US$ 1,2 milhão cada. Um gasto elevado para fazer copinhos de café.

R$ 490 milhões: é quanto movimenta
o segmento de copos e pratos descartáveis no Brasil

Foi aí que a Braskem resolveu radicalizar. Deixou de lado sua porção ?petroquímica? e se aliou à Descartáveis Zanatta (de Santa Catarina) para montar a NTS Máquinas. Investiu R$ 30 milhões no projeto. Hoje, a NTS fabrica máquinas que custam US$ 300 mil e têm produtividade 40% maior que as importadas. As primeiras 29 unidades foram absorvidas pela Braskem, que cedeu os equipamentos em comodato para seus clientes. Em troca eles assinaram acordo de exclusividade na compra de resinas. Hoje, a sobrevivência da NTS, controlada por ex-funcionários da Zanatta, não depende mais da Braskem. ?Eles têm competitividade para buscar clientes até no Exterior?, diz Felli. A ambição da Braskem é ocupar todos os espaços no segmento de resinas termoplásticas. Para isso, a direção da petroquímica investe R$ 50 milhões ao ano em seu centro de pesquisas, no pólo petroquímico de Triunfo (RS), onde atuam 150 técnicos. Foi essa equipe a responsável pela criação do pote de requeijão de ?plástico?, que enterrou a embalagem de vidro nesse nicho e deu à Braskem 40% do mercado. Agora, a gigante quer repetir o feito com o cafezinho.