Na vida ou nos negócios, a chave da longevidade está no foco e na persistência. Essa definição, que remete aos mantras de autoajuda, também norteia a trajetória da Lupo, tradicional fabricante de meias fundada há 101 anos em Araraquara, no interior paulista. Sob comando da diretora-presidente Liliana Aufiero, neta do fundador, a empresa encontrou no segmento fitness um caminho para se reinventar. E crescer, claro. Enquanto a receita bruta aumentou 17,8% no acumulado de janeiro a setembro deste ano, na comparação com o mesmo período de 2021, a divisão Lupo Sports disparou 80%, com vendas de R$ 158,6 milhões. A empresa que nasceu como uma grife de meias, e depois de moda íntima, como cuecas e calcinhas, hoje sua a camisa para se tornar uma referência também nas academias. Embora represente uma fatia ainda pequena diante do faturamento de R$ 1,3 bilhão do grupo neste ano, o bom desempenho da nova frente de negócios sinaliza que o investimento na diversificação do portfólio foi acertado, segundo Liliana. “A Lupo Sports já está pareada com as principais marcas esportivas do Brasil”, afirmou a executiva, em entrevista à DINHEIRO.

A confiança de Liliana está expressa nos números de investimento. Nos primeiros nove meses do ano, a empresa desembolsou R$ 80 milhões na ampliação da capacidade de produção. Foram adquiridos 148 novos teares de meias e outros 150 teares sem costura — capazes de produzir, entre outros, as peças da linha esportiva. “Antes, as pessoas queriam comprar nossos itens da linha fitness, mas a gente não dava conta para produzir o suficiente para atender à demanda”, disse Liliana. “Só depois de superar a fase mais crítica da pandemia os ventos foram favoráveis para estar tudo pronto para a gente conseguir crescer.”

FRANQUIAS EXCLUSIVAS Para fortalecer a marca Lupo Sports, empresa aposta na ampliação da rede de franquias exclusivas e no multimarcas. (Crédito:Divulgação)

Já do ponto de vista de mercado, as roupas fitness ganharam espaço em tempos de pandemia, seja pela maior preocupação com as atividades físicas, ou pela vontade de ter mais conforto nas roupas do dia a dia. Fato é que o uso de peças antes restritas a ambientes esportivos ganhou as ruas, e o athleisure (junção das palavras atlético e lazer, em inglês) virou tendência e fez aumentar a procura do setor fitness de forma geral. De acordo com Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail, “é um fenômeno generalizado no qual esse segmento passou com pouco impacto na pandemia e isso não arrefeceu, porque virou um novo hábito. Então o vento sopra a favor para esse negócio.”

REDE Na estratégia de fortalecimento da Lupo Sport, entram as franquias. A marca ganhou unidades exclusivas, saltando de 13 nos primeiros nove meses de 2021 para 27 no mesmo período deste ano. Na meta geral do grupo, o objetivo é alcançar 950 lojas em 2022, considerando todas as marcas. A rede de lojas corresponde a 33% do faturamento da empresa e, seguindo a onda de digitalização, elas se tornam ferramentas fundamentais na jornada omnichannel, com 90% das franquias participantes. Na cidade de São Paulo, 54% dos pedidos são entregues no mesmo dia e saem dessas unidades. “Eu não quero entrar em briga com os nossos canais”, disse Liliana em referência à operação própria de e-commerce da marca. “O omnichannel é uma forma de lidar com o conflito e não ser concorrente da nossa própria franquia.”

Para garantir os bons resultados, além da diversificação do portfólio, entra na equação a busca por mais competitividade, tão necessária em um mercado com grandes players. Seguindo esse propósito, em abril a empresa migrou parte de sua operação para o Ceará, após a compra de uma fábrica da Marisol por R$ 40 milhões. O estado foi escolhido por seus incentivos fiscais e pela mão de obra.

Nos planos da centenária Lupo, segue o desejo de abrir capital, interrompido pelo momento desfavorável do mercado. “Nós crescemos bastante e já temos um porte para entrar na bolsa”, disse Liliana, que afirma estar esperando ventos favoráveis para retomar o movimento. A entrada no mercado de capitais parte do desejo de organização do quadro acionário, do qual participam os herdeiros da empresa fundada em 1921 por um imigrante italiano.