14/11/2007 - 8:00
São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro. São 11 horas da manhã e a loja da marca italiana Salvatore Ferragamo, famosa na arte de fabricar sapatos, está agitada. Vendedores andam de um lado para o outro, ficam de prontidão caso sejam chamados e prestam atenção em cada detalhe. Não é para menos. Ali, no ponto da Haddock Lobo, no bairro dos Jardins, encontrava-se Michele Norsa, o capo de tutti capi da grife italiana. Sua visita ao Brasil representa muito mais do que uma simples vistoria de lojas: simboliza uma nova era na tradicional casa de moda sediada em Florença, na Itália. Norsa é o primeiro CEO da Ferragamo a não ostentar o sobrenome Ferragamo em um período de 80 anos.
Pode parecer mero detalhe, mas se tratando de uma marca ligada às raízes é algo que chama atenção. ?A grife está em busca de uma estrutura mais profissional?, disse Michele Norsa à DINHEIRO. ?Vou trabalhar para globalizar e aumentar a rentabilidade da empresa?. Quanto ao fato de não fazer parte da família, ele se mostra tranqüilo em relação ao assunto. ?Tenho uma relação de amizade com os Ferragamo, eles são muito acolhedores e fizeram da marca a minha casa?, completa.
Vale lembrar que esse ambiente familiar é apenas o resquício de anos glamourosos em que a criação era mais importante do que os números.
Hoje, a Ferragamo, empresa que faturou 630 milhões de euros em 2006, e prevê faturar mais 1 bilhão de euros ainda em 2007, se prepara para abrir capital na Bolsa de Milão, investir na expansão nos mercados em desenvolvimento e consolidar as vendas em países como Estados Unidos e Japão. É aí que entra a experiência de Michele Norsa, que já trabalhou com Luciano Benetton, liderou a Casa Valentino e vê no mercado brasileiro um importante canal de expansão na América Latina. ?O Brasil tem tudo para estar entre os dez mercados mais importantes do mundo?, revela.
Atualmente, a marca possui quatro lojas no País e, até 2010, pretende abrir mais quatro espalhadas em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Paralelamente à expansão física do grupo, a Ferragamo também pretende aumentar a sua linha de produtos, que já inclui sapatos, gravatas, acessórios em couro, perfume e roupas masculinas. Em 2008, a grife lançará uma coleção de relógios masculinos e femininos que deverão custar entre US$ 5 mil e US$ 30 mil.
Fundada em 1927 pelo sapateiro Salvatore Ferragamo, a marca com sede no palácio Spini Ferroni, na cidade de Florença, na Itália, se tornou objeto de desejo no mundo da moda. Os negócios da marca prosperaram e hoje é possível ver os tentáculos da grife até em áreas como hotelaria e vinicultura.
Durante seus 80 anos de existência, o comando da empresa passou pelas mãos de diversos membros da família. Primeiro foi Salvatore Ferragamo, o fundador, depois Wanda Ferragamo, viúva de Salvatore e atual presidente honorária do conselho, que cedeu o lugar no dia-a-dia da empresa para os filhos Ferrucio, presidente da marca no mercado italiano, Massimo, que comanda a grife nos EUA, e Leonardo, responsável pelos hotéis da família. ?A tradição é um elemento que complementa o prestígio da marca?, analisa Marcos Machado, sócio da Top Brands Gestão de Marcas, empresa especializada em avaliação de marcas. Deve, contudo, haver um contrapeso. ?Essa formação mais profissional contribui para ampliar a imagem da marca?, avalia José Roberto Martins, diretor da Global Brands. Ao que tudo indica, é o sinal de uma nova era.