Nos últimos 22 anos, a italiana Barilla, maior fabricante de massas do mundo, com faturamento de ? 3,9 bilhões em 2012, reinou absoluta no segmento de produtos feitos de trigo grano duro no Brasil. Ocorre que esse nicho representa apenas 2,8% de um setor que movimentou R$ 6,2 bilhões no ano passado. Para crescer por aqui, seria necessário tomar medidas drásticas, como mexer na receita que deu origem à empresa fundada em 1877 por Pietro Barilla, em Parma. Isso porque a preferência dos consumidores da América Latina é pelo macarrão que utiliza trigo grano macio e ovos em sua composição, responsável por 97% do volume consumido e por 60% das vendas do setor de massas.

 

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Quem deu o sinal verde para alterar pela primeira vez em sua história essa tradicional e centenária receita foi o italiano Claudio Colzani, CEO global da empresa. O executivo enxerga a região, em geral, e o País, em particular, como um dos motores para atingir a meta de dobrar o tamanho da Barilla até 2020. Os brasileiros, é verdade, adoram macarrão. O Brasil é o terceiro maior consumidor do mundo, com uma média de 6,1 quilos per capita. Perde apenas para a Itália (25 quilos) e para os Estados Unidos (nove quilos). ?A crise econômica de 2008 e a continuidade da recessão nos países mais ricos mostraram que a Barilla precisava ter em seu cardápio opções à Europa e aos Estados Unidos?, afirma Maurízio Scarpa, CEO da Barilla do Brasil. 

 

Colzani é um velho conhecido do Brasil, onde comandou a subsidiária brasileira da divisão BestFoods, da anglo-holandesa Unilever, entre 2002 e 2005. A primeira etapa de seu plano consiste na produção terceirizada das massas mais populares e dos molhos de tomate da Barilla nas unidades da mineira Vilma Alimentos e da paulista Predilecta, respectivamente. As linhas consideradas nobres ainda serão importadas da Itália ? até hoje a Barilla não opera fábricas próprias no País. ?A produção local só começará a fazer sentido quando dominarmos uma fatia de, pelo menos, 5% das vendas de macarrão?, diz Scarpa. Atualmente, sua fatia não passa de 1%, o que lhe garantiu uma receita de R$ 80 milhões em 2012. 

 

Com a entrada na faixa popular, cujo preço representa até um quarto do cobrado pelos produtos premium, a expectativa é ampliar o faturamento em 65%, para R$ 132 milhões neste ano. O otimismo dos italianos não é compartilhado por alguns analistas. ?A Barilla demorou a olhar o Brasil como uma prioridade?, diz Graham Wallis, diretor da consultoria paulista Data­mark Market Intelligence Brazil, especializada em bens de consumo. ?A explosão desses mercados ocorreu em meados da década passada.? De fato, nos últimos dois anos, o setor de massas secas, que responde por 60% das vendas totais do segmento, cresceu, em média, apenas 0,5%.De acordo com Wallis, em 2013, deverá haver até mesmo uma queda de cerca de 1% nas receitas. 

 

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Prato cheio: com produtos mais baratos, a empresa italiana, do CEO Maurízio Scarpa,

espera aumentar em 65% seu faturamento

 

A equipe comandada por Scarpa terá de conquistar espaço de concorrentes como a fluminense Piraquê e as cearenses Adria, da M. Dias Branco, e Petybon, da J.Macêdo. Trata-se de missão difícil, pois uma das características desse setor é o domínio de marcas regionais, nas quais o preço e uma eficiente logística de distribuição fazem toda a diferença. O desafio é semelhante ao caso dos molhos, em que, pelas contas da própria Barilla, a taxa de crescimento para 2013 é estimada em apenas 1%. Esses desafios, porém, parecem não intimidar a empresa italiana. Para viabilizar o novo desenho da filial, a matriz liberou uma verba de R$ 11 milhões. 

 

Os recursos foram usados na ampliação do portfólio, que passou a contar com 53 itens, entre macarrão importado e fabricado localmente, além da linha de molhos prontos. ?Contamos com a força da marca e a qualidade dos itens ofertados para ampliar o número de consumidores?, diz Scarpa. Um exemplo, segundo o executivo, são os molhos, cuja fórmula inclui até 30% mais tomates que os concorrentes, além de possuírem um apelo relacionado ao bem-estar. ?Produtos químicos não têm vez em nossas receitas.? As iniciativas terão como foco inicial os Estados do Sudeste. A fim de reforçar a equipe, a Barilla recrutou profissionais na Cargill, na Nívea e na Unilever para comandar as áreas de marketing, logística e vendas. 

 

Também nomeou novos distribuidores. ?Em Minas Gerais tínhamos um profissional para atender 50 clientes?, diz Scarpa. ?Agora, temos nove.? A distribuição, que hoje inclui 30 mil supermercados e mercearias, será expandida para 70 mil, até o fim do ano. A partir de 2014, será a vez das regiões Sul e Nordeste. Nesta última, o presidente da subsidiária da Barilla enxerga grandes possibilidades de ganhos, especialmente com sua linha básica de massas com ovos, vendidas entre R$ 2,70 e R$ 3,50 o pacote de 500 gramas. A expectativa leva em conta o crescimento da renda média da população nordestina, que fez com que marcas consideradas premium passassem a fazer parte de seu cardápio. A região já lidera o consumo de macarrão, com 26%, seguido do Sudeste (20%). 

 

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