11/12/2002 - 8:00
Um projeto ambicioso está em curso na sede do Citibank no Brasil. Desde agosto, executivos do maior grupo financeiro do mundo trabalham para criar sua própria administradora de cartões de crédito no País. Há mais de 30 anos, os cartões do Citi são gerenciados pela Credicard. Com a gestão própria, o banco comandado por Gustavo Marin espera que o número de seus cartões de crédito salte dos atuais 415 mil para 1 milhão até o final de 2004. ?O processo de migração dos cartões já está em andamento?, diz Carla Schmitzberger, diretora-executiva de marketing e produto do Citibank. ?A transferência total deverá terminar em junho do ano que vem.?
Ao se tornar o emissor dos seus próprios cartões de crédito, o Citibank terá o controle de um lucrativo negócio. As empresas de cartões ganham em várias frentes, como na cobrança das taxas de administração, na porcentagem sobre as compras efetuadas pelos clientes e até na venda de uma série de produtos, como seguros e previdência privada. Neste ano, o volume de transações por cartões de crédito no País deverá somar R$ 71 bilhões, um crescimento de 15% em relação ao ano passado.
?O negócio de cartão de crédito é uma mina de dinheiro e faz todo o sentido o Citibank ter a sua própria administradora?, avalia Simone Escudêro, gerente setorial da consultoria Austin Asis. ?Eles ficariam com a clientela de renda mais alta e deixariam com a Credicard o público em geral?. Enquanto o Credicard exige renda mínima a partir de R$ 300 para a aquisição de um cartão de crédito, no Citibank o valor mínimo é de R$ 1.500.
Criada em 1971, a Credicard tem como sócios os bancos Citibank, Itaú e Unibanco, cada um dos parceiros com um terço da empresa. Líder no mercado brasileiro de cartões de crédito, com 5,3 milhões de plásticos das bandeiras Visa, Mastercard e Diners Club, a Credicard faturou R$ 17 bilhões no ano passado. Entretanto, dos três sócios, apenas o Citibank ainda mantinha a administração de seus cartões na Credicard.
O primeiro a sair foi o Unibanco, que ao comprar o falido
banco Nacional em 1996, herdou uma operação de cartão
de crédito com a bandeira Visa. Na época, o Unibanco tinha menos de 200 mil cartões de crédito, enquanto o Nacional tinha cerca de 1 milhão de plásticos e o know-how da operação. O resultado foi a migração dos cartões do Unibanco na Credicard para a estrutura comprada do Nacional. Em 1999, com a criação da Orbitall, a empresa responsável pela gestão operacional dos cartões nascida a partir da Credicard, foi a vez do Itaú assumir a administração de seus cartões. A exemplo do Itaú, todo o processamento dos cartões do Citi também ficará com a Orbitall. A filiação e o gerenciamento com as lojas e outros estabelecimentos comerciais dos cartões Citibank continuará sendo feito pela Redecard, outra empresa do grupo Credicard, criada em 1996. ?Com isso, vamos focar na estratégia e ganhar mais flexibilidade para atuar no mercado de cartões?, afirma Carla, do Citibank.
No mercado, a tal flexibilidade pregada pelo Citibank é interpretada como uma intenção de crescer agressivamente na área de cartões. Analistas apostam que o Citi não medirá esforços para arrematar o controle da administradora de cartões de crédito da Nossa Caixa, o banco estatal paulista, que irá a leilão pelo preço mínimo de R$ 77,2 milhões. Com 812 pontos de atendimento e mais de 3 milhões de clientes, a Nossa Caixa não tem cartão de crédito próprio. Além disso, o edital da venda vetou a participação no leilão de bancos com ativos superiores a 2% do sistema bancário, como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú, Unibanco, Banespa, ABN Amro Real, Safra, Santander e HSBC. Uma liminar obtida pela Associação dos Funcionários da Nossa Caixa suspendeu temporariamente o leilão, que só deverá ocorrer no ano que vem.
Com tamanha vantagem em relação aos seus concorrentes, o Citibank poderá atingir seu objetivo para o mercado de cartões de crédito antes mesmo do prazo inicialmente planejado.
O FUTURO DA CREDICARD
Presidente nega que empresa esteja à venda
e aposta em novos produtos e serviços para
conquistar cada vez mais clientes
Para onde vai a Credicard? Depois que os sócios Unibanco, Itaú e agora o Citibank resolveram gerir seus próprios cartões de crédito, muito se tem especulado sobre o futuro da empresa líder do mercado de cartões no País. O destino da Credicard, para alguns, seria a venda para um grupo estrangeiro. Essa idéia é descartada pelo presidente do Conselho de Administração da Credicard, Roberto Lima. ?Seria um
contra-senso entregar para um concorrente a melhor operação de cartões do País?, argumenta.
Segundo Lima, o futuro da Credicard é emitir cartões de crédito para mercados diferenciados, como os consumidores que não têm conta em banco. Outra estratégia é oferecer cada vez mais produtos aos clientes. Em setembro, foi lançado um serviço de pagamento de boletos bancários pelo cartão. A Credicard paga a conta e depois cobra do cliente na data da fatura, com juros. O mais novo produto é um título de capitalização. ?A Credicard vai continuar livre para buscar o cliente onde ele estiver?, diz Lima.