Lançados pela Organização das Nações Unidas no final de setembro, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável atacam importantes pontos para a evolução de nossa sociedade, mas não enfrentam a distorção central: a concentração de riqueza.

Os ODS aprofundam e avançam as linhas mestras traçadas pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que buscaram alinhar os esforços das nações em torno de oito conquistas básicas globais entre 2000 e 2015.

A nova declaração “Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável” reconhece que o principal foco é a erradicação da pobreza e detalha 17 objetivos em 169 metas para os próximos 15 anos.

Traz consigo aspectos novos e igualmente relevantes, como manejo de água, acesso à energia, infraestrutura resiliente, industrialização inclusiva, padrões de consumo e produção sustentáveis, uso dos oceanos, promoção de sociedades pacíficas. Enfim, um excelente guia para as políticas públicas de todos os países.

Há, no entanto, o grande risco de chegarmos novamente em 2030 ao frustrante questionamento: Será que não estamos fazendo o suficiente? A mesma dúvida levantada ao final dos Anos 90, quando constatou-se que os bilhões somados de investimentos de Institutos e Fundações privados em projetos sociais provocavam baixo impacto transformador nos macro indicadores sociais.

Ou mesmo agora, quando as conquistas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio estão mais no campo da tomada de consciência e do início da mobilização do que em reais transformações da realidade global.

A realidade segue a nos desafiar. No início deste ano, a respeitadíssima organização não-governamental britânica Oxfam divulgou no Fórum Econômico Mundial um estudo apontando que, em 2016, a parcela dos 1% mais ricos do planeta irá deter mais riqueza do que a dos 99% restantes.

Expressou de outra maneira o que já havia anunciado um ano antes, quando afirmou que as 85 pessoas mais ricas do mundo possuíam a mesma riqueza que os 3,5 bilhões mais pobres.  “A lacuna entre os mais ricos e o resto da população continua crescendo a ritmo acelerado”, afirmou o estudo.

Em sua coletânea de artigos mais recentes, reunidos no livro Devagar e Simples, o economista André Lara Resende comenta o estudo do seu colega francês Thomas Piketty, Le Capital au XXI Siècle, originalmente editado em 2013. Diz ele: “A tese de Piketty é incontestável: a concentração da riqueza no mundo se reduziu no meio do século XX, mas voltou a aumentar nas últimas três décadas”.

Economistas como André Lara Resende cumprem um importante papel ao desnudar as distorções de nosso atual pensamento econômico. Para nós, leigos, basta a percepção da vida mundana. Como, por exemplo, a diferença de opções, ao se entrar em qualquer banco, caso você tenha dinheiro para investir ou busque um empréstimo.

Diante desse cenário, prevalece a sensação de que estamos enxugando gelo. Numa evolução que caminha lentamente da periferia para o centro do problema. Uma legião de indivíduos que até têm boa vontade para resolvê-lo, mas sentem-se inseguros para encará-lo. Ao mesmo tempo, agem e protelam, num persistente movimento de autoengano. 

Até quando?

Para conhecer mais sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.