Tem cara de déjà vu para a Eternit, uma das principais fabricantes de material de construção brasileiras. Em 2003, a França proibiu a comercialização de produtos com o amianto, que pode provocar câncer se manuseado sem proteção. O grupo francês Saint Gobain, que a controlava, decidiu vender suas ações na empresa, em reação à medida do governo francês. Foi um período tumultuado para a companhia, que foi resgatada por um grupo de acionistas minoritários, formado pelos investidores Lirio Parisotto, Luiz Barsi Filho, Victor Adler e Guilherme Affonso Ferreira. 

 

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Élio Martins, presidente da Eternit: “Se for proibida a extração, teremos

que encontrar substituto para atender o brasil e o mundo”

 

Uma década depois, o espectro do banimento da principal matéria-prima das telhas e caixas d’água que fabrica, de onde provém 80% de seu faturamento de R$ 820 milhões, volta a assombrar a Eternit. É que o Supremo Tribunal Federal (STF) está julgando o uso do amianto. O STF analisa a validade ou não das leis estaduais vigentes em São Paulo, no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, em Pernambuco e Mato Grosso do Sul, que proibiram a fabricação e venda de produtos que usam esse insumo. A decisão, que estava empatada em 1 a 1, foi adiada para 2013.Desta vez, no entanto, a Eternit não pretende ser pega de surpresa. 


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Capacidade total: a mineração de amianto crisotila em Minaçu (GO) receberá investimentos

se o STF liberar a matéria-prima

 

Apesar da ainda alta dependência da matéria-prima, essa relação está diminuindo. Em 2007, 95% de suas receitas advinham do amianto. Novos negócios, na ocasião, representavam apenas 5,7%. Atualmente, eles detêm uma fatia de quase 18%. Explica-se: sabendo do risco da proibição, a Eternit começou a diversificar sua produção. Telhas de concreto e acessórios são responsáveis por 10% da receita líquida da companhia nos três primeiros trimestres de 2012. Louças sanitárias, uma área na qual a companhia passou a atuar em 2009, já representam 5,3%. A meta é diminuir para 50% a dependência do amianto em cinco anos e aumentar ainda mais a atuação em outras áreas. 

 

“São também interessantes os segmentos de pisos e revestimentos, tintas, argamassas, que podemos analisar no futuro”, afirma Élio Martins, presidente da Eternit. Fundamen­tal nessa estratégia de diversificação é a fábrica de louças sanitárias que a empresa está construindo no Ceará, com previsão de inauguração em 2014. Trata-se de um investimento de R$ 100 mil, em conjunto com a colombiana Corona, que ficará com 40% desse empreendimento. Outra tática para não ficar refém da decisão do STF é começar a adaptação de suas fábricas para a produção de telhas de fibrocimento sem amianto. 

 

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Aposta na empresa: Lirio Parisotto foi um dos acionistas que reergueram

a Eternit após a saída da Saint Gobain

 

Martins avalia que há mercado para os dois produtos, mas ressalta que ainda falta encontrar uma fibra que possa substituir com a mesma qualidade o amianto. Hoje, a Sama, mineradora do grupo localizada em Minaçu (GO), trabalha com 100% de sua capacidade e extrai 300 mil toneladas por ano de amianto crisotila, atendendo com sobras o consumo nacional do minério, de 170 mil toneladas. “Se for proibida a extração, teremos que encontrar um substituto para atender o Brasil e o resto do mundo, já que abastecemos outros países”, diz Martins. A intenção da Eternit é investir R$ 30 milhões para ampliar a mineração para 350 mil toneladas por ano, porém falta a decisão do STF quanto ao uso do amianto.

 

Essa indefinição legislatória tem impactado nas ações da companhia. Neste ano, elas acumulam queda de 7,7,%. Nos últimos 70 dias, desvalorizaram-se mais de 20%. Na terça-feira 4, eram cotadas a R$ 7,62, o mais baixo valor em um ano. De acordo com a analista de mercado Sandra Peres, da corretora Coinvalores, a mobilização da empresa para reduzir a dependência do amianto em seus resultados tem sido vista de forma positiva pelos investidores. “Se não tivesse essa dúvida em relação à decisão da Justiça, seria uma excelente empresa para investir.” Martins afirma que a diversificação também tem feito com que mais investidores estrangeiros apostem na empresa, passando de 3,5% para quase 12%, nos últimos seis meses.

 

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