Em 1924, pouco antes de morrer a caminho do cume do Everest, o explorador inglês George Mallory respondeu com ironia à pergunta de um jornalista a respeito da razão de escalá-lo: ?Porque está lá?, resumiu. É o caso de dizer o mesmo das Montanhas Rochosas do Canadá. Por que, afinal de contas, alcançar o topo, a quase 4 mil metros de altitude? Porque estão lá. O problema: como atingi-las? Os canadenses inventaram um modo, e ele se transformou numa das mais cobiçadas experiências de turismo aventureiro, o acesso por helicóptero. Dessa criação brotaram duas atividades irmãs: o heli-hiking e o heli-skiing.

A primeira é feita no verão. A segunda, ao longo do inverno, nos meses de neve. O helicóptero leva grupos de 10 a 15 pessoas para os picos. Ali, na temporada verde, caminha-se de 7 a 8 horas seguidas. No caso do ski, desliza-se em alturas desafiadoras até para experimentados alpinistas. ?É uma atividade que entusiasma um número cada vez maior de brasileiros, ansiosos em acrescentar adrenalina às viagens de férias?, diz Ana Carina Homa Alzugaray, proprietária da Landscape, agência de turismo especializada em viagens radicais. ?É, porém, um passeio que pode ser feito mesmo por quem não tem forma física de atleta.?

Por alcançar pontos do planeta inimagináveis, os adeptos do heli-hiking e do heli-skiing costumam relatá-los com adjetivos entusiasmados. ?É sublime?, resume o canadense Kenneth Helphand. ?A sensação de prazer diante de paisagens virgens, com montanhas sem fim, vulcões e glaciares, é algo difícil de explicar.? Some-se às caminhadas o luxo dos lodges construídos para o pernoite, em meio a banheiras jacuzzi, vastas refeições e sessões de massagem. As aventuras costumam durar uma semana. Há uma rotina. O café da manhã é servido antes do embarque no helicóptero e de uma rápida palestra a respeito do vôo. Com a máquina pousada no solo, tem início o trekking pelas trilhas naturais ou o deslizar nas encostas nevadas. Durante o percurso, é possível sentir uma fina poeira de neve roçando o rosto. À margem, os espelhos de água azul esmeralda, resultado do derretimento dos glaciares, compõem o cenário de tirar o fôlego. A jornada termina em estalagens com o luxo dos hotéis 5 estrelas e o aconchego das instalações rústicas, de madeira.

No Brasil, a Landscape, com sede em São Paulo, é pioneira nesse tipo de turismo em que o céu é o limite. Ela oferece viagens de sete dias, com saídas a partir de 25 de junho. Os preços variam de US$ 2.775 (quartos triplos) a US$ 4.200 (quartos simples). A empresa trabalha com dois lodges: o Bobbie Burns, na cadeia de Caribbo, e o Valemount. O perfil dos brasileiros que se interessam por excursões desse gênero, ao ar livre, é muito parecido com o comportamento de outros países. Uma recente pesquisa feita nos EUA mostrou que os adeptos do heli-hiking e do heli-skiing têm entre 35 e 54 anos. Mais de 80% têm formação superior. A maioria ? 60% ? prefere viajar em dupla. ?Talvez porque seja injusto presenciar vistas tão bonitas solitariamente?, diz Ana Carina.

Os turistas que descem dos helicópteros para mergulhar na paisagem fazem parte de uma família que cresce em todo o planeta: são os amantes do chamado ecoturismo. Segundo estatísticas da Organização Mundial de Turismo, as viagens tradicionais ao redor do planeta crescem numa base de 4% ao ano. Já o ecoturismo tem aumentado em 15% a cada doze meses. Como defini-lo? São os passeios em que o charme está na contemplação da geografia intocada, no contato direto com a vegetação e a água, muitas vezes com animais silvestres, sem que a mão do homem os incomode. Ser depositado nas montanhas por helicópteros é, possivelmente, o melhor atalho para descobrir a natureza virgem.