09/11/2011 - 21:00
Se antigamente, nas primeiras décadas do século passado, os mobiliários eram objetos utilitários, praticamente sem grandes pretensões estéticas ou ergonômicas, hoje ganham status de obras de arte – protagonistas da busca pelo bem-estar e conforto em todas as partes da casa. E com uma vantagem: o bom gosto e a exclusividade não dependem mais dos marceneiros tradicionais, que atendem somente um ou dois clientes por vez. Já é possível encomendar móveis personalizados e com muito estilo em lojas de fabricantes com escala industrial. Grifes nacionais, como a Segatto, a Ornare e a Kitchens, têm conquistado clientes de alta renda, no Brasil e no Exterior, com seus luxuosos armários produzidos em série, mas adaptados ao bom gosto do freguês. “O mercado está cada vez mais seletivo e exigente”, diz João Segatto, dono da fabricante de móveis de luxo, de São Paulo, que leva o sobrenome da família, fundada por seus avós paternos em 1936. “Hoje as pessoas querem comprar móveis com design, tecnologia, automação, que precisam ter funcionalidade e praticidade.”
João Segatto, empresário: ”Hoje as pessoas querem comprar móveis com design,
tecnologia, automação, que precisam ter funcionalidade e praticidade”
O segredo do sucesso dos armários brasileiros de luxo não está apenas na criatividade de seus mentores, mas em toda tecnologia embarcada nas mobílias, que vai muito além de colocar parafusos na madeira. Internamente, sensores de calor acionam as luzes internas de armários forrados em couro e com divisórias em camurça. A temperatura e a umidade são cuidadosamente controladas para a melhor conservação de delicados casacos. As portas já possuem puxadores feitos a partir de osso de animais ou cabides encapados com tecido para não marcar as roupas. Todas essas características foram, ao longo dos últimos anos, desenvolvidas para atender à demanda e às necessidades dos arquitetos, intermediadores entre o fabricante e o cliente final, que procuram por um móvel diferenciado. “Os clientes hoje têm um poder de barganha muito maior”, diz Segatto. Aos 53 de idade, ele está desde 1978 no comando da empresa, que sob sua batuta ampliou a linha de produtos, antes restrita a armários, fabricando de salas completas a cozinhas planejadas. “Foi uma estratégia fundamental para os negócios”, diz. Além do talento e da criatividade dos brasileiros nesse campo, a boa fase do setor da construção civil alimenta a prosperidade do nicho de armários de luxo.
No ano passado, apenas na capital paulista as vendas de imóveis residenciais chegara a R$ 14 bilhões, um aumento de 23% em relação ao ano anterior, e lançadas 38 mil unidades, segundo o Secovi, o sindicato do setor imobiliário. Desse total, cerca de quatro mil correspondem a imóveis de quatro ou mais dormitórios, foco principal para os fabricantes de móveis sofisticados. “O mercado está muito forte, com crescimento de 25% ao ano”, diz Segatto, que espera faturar R$ 20 milhões em vendas 2011. A expansão do segmento de armários premium no País já faz com que os negócios atinjam escala internacional. A Ornare, um dos principais nomes do segmento, com um ritmo de produção mensal de 14,5 mil metros quadrados de armários, decidiu apostar a sorte lá fora. A empresa, baseada em Cotia, na região metropolitana de São Paulo, inaugurou uma loja em Miami, em 2006. Nesse curto espaço de tempo, a loja atingiu a marca de US$ 5 milhões em faturamento anual. “Fizemos uma pesquisa para detectar o melhor local para iniciarmos o processo de internacionalização”, diz Esther Schattan, sócia da Ornare. Num primeiro momento, o alvo principal eram os brasileiros abonados que investem em imóveis na Flórida. “Como Miami possui forte comunicação com o Brasil, investimos US$ 1 milhão nessa loja e procuramos parcerias com o ramo imobiliário da Flórida para apresentarmos nossos produtos.”
Sucesso no Brasil e no exterior: a empresária Esther Schattan, da Ornare (acima), e a corretora Alicia Cervera Lamadrid fizeram parceria
para conquistar os endinheirados clientes que buscam oportunidades de investimento em imóveis no Estado da Flórida, nos EUA
Segundo o instituto Florida Realtors Association, os brasileiros representam 8% do total de compras de móveis de luxo na região, ficando atrás apenas dos canadenses, que representam 39% do mercado. O tiro foi certeiro. Uma das parceiras da Ornate é a Cervera Real Estate, da empresária cubana Alicia Cervera Lamadrid. Principal corretora de imóveis de alto luxo na Flórida, a Cervera comercializa o edifício Ocean House, com 17 apartamentos de altíssimo padrão, todos decorados pela Ornare. “Os brasileiros não apenas são os principais clientes latino-americanos na Flórida, como também são investidores confiáveis”, diz Alicia. “Não me recordo de nenhum caso de dívida envolvendo brasileiros, além de muitos deles preferir o pagamento a vista.” Do time dos refinados fabricantes de armários butiques, no País, faz parte a paulista Kitchens, outra marca focada no público prime. A empresa investiu R$ 5 milhões para desenvolver a coleção Gem Collection, que conta com materiais e acessórios italianos desenhados exclusivamente para o mercado brasileiro. “Nosso tíquete médio é de R$ 70 mil, sendo que um apartamento de 300 metros quadrados, no valor de R$ 4,5 milhões, pode ser decorado com nossos produtos por R$ 400 mil”, afirma Luciana Romeiro, gerente de marketing da Kitchens, que estima crescimento de 12% para 2012. “Quem sabe o real valor de ter em casa um armário com requinte e sofisticação sabe que o preço é só um detalhe.”