O vietnamita Thai Quang Nghia, de 50 anos, é o que se pode chamar de sobrevivente. Saiu ileso da guerra que, praticamente, arrasou sua terra natal nas décadas de 1960/70. Foi recolhido em alto-mar após o naufrágio da embarcação na qual escapou do Vietnã. Em 1978, sem falar uma palavra em português, ele desembarcou por aqui para tentar a sorte. Hoje, Nghia comanda o Grupo Domini ? dono das grifes Goóc, ÔMely e Koan, cujas receitas somam R$ 60 milhões. O carro-chefe é a linha Goóc de bolsas e chinelos feitos de lonas e pneus reciclados. E é exatamente com esses dois itens que ele se prepara para fazer o caminho de volta para o outro lado do mundo ? mas não para o Vietnã e sim para a Austrália. Na semana passada, Nghia costurou uma série de acordos comerciais por lá para abrir lojas próprias ? tocadas por empreendedores locais ? e atuar em parceria com potências globais, como a Bridgestone-Firestone e a rede de lojas Rip Curl, uma das principais grifes globais na chamada moda surfe.

O primeiro ponto- de-venda estrangeiro da Goóc será inaugurado em 1º de novembro, em Melbourne. A meta é abrir outras três unidades até o final de 2008, um investimento total de US$ 400 mil. ?A Austrália é vital para viabilizar nosso projeto de fazer com que as exportações atinjam 20% do faturamento até 2014 ?, explica Nghia. Hoje, o mercado externo colabora com modestos 2%. O objetivo final é construir uma marca global. E a escolha da Austrália foi cuidadosamente planejada. O país tem uma forte tradição em moda jovem e o bom desempenho por lá garantiria à Goóc uma espécie de ?selo de qualidade e prestígio?. O alvo de Nghia, contudo, não se limita à garotada descolada e aos esportistas, fãs de carteirinha da Rip Curl ? que vai incluir as sandálias, as bolsas e as roupas Goóc em suas vitrines. O contrato com a Bridgestone prevê, ainda, a criação de uma linha exclusiva, a Goóc by Bridgestone, além de abrir espaço para a instalação de estandes nas 450 revendas da fabricante de pneus. ?Vamos repetir, em escala global, um tipo de parceria que fizemos no Brasil com a DPaschoal?, conta Alécio Faria, gerente de exportações da Goóc.

Na opinião de especialistas, a idéia pode vingar. ?O apelo ecológico e o uso de aspectos da cultura oriental são elementos que Nghia conseguiu transmitir para suas criações. E isso é muito valorizado lá fora?, destaca o consultor Augusto Nascimento, especializado em gestão de marcas e sócio da BBN Brasil. O viés ecológico permite, ainda, que Nghia cobre alto por suas peças. Um chinelo da marca, vendido a R$ 27 por aqui, custa até US$ 33 em pontos nobres como a francesa Galeries Lafayette. O mesmo vale para as mochilas, comercializadas a R$ 105 e US$ 156, respectivamente. Desde 2003, as três fábricas do grupo já consumiram um milhão de pneus usados. Elas abastecem 16 países e a idéia é chegar a outros 14 até o final de 2008.