No ano passado, entrevistei o presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, em uma ampla reportagem sobre os programas de sócio-torcedores dos clubes brasileiros. Durante a conversa, Nobre proferiu uma frase emblemática. “Os dirigentes têm uma vaidade muito grande em ganhar títulos e destruir as contas.” Pura verdade. A julgar pelos números, a situação dos principais clubes do futebol brasileiro é quase falimentar. A dívida das 24 maiores agremiações deve ter ultrapassado os R$ 5 bilhões em 2013, crescimento de 20% sobre o ano anterior, de acordo com estimativas da consultoria BDO. A receita, por sua vez, segundos os consultores, deve ter ficado estável, em torno de R$ 3,2 bilhões.

 

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Apesar disso, alguns dirigentes, conhecidos pejorativamente pela alcunha de cartolas, continuam a pagar salários astronômicos para os seus jogadores, agravando cada vez mais a situação de calamidade. Não tenho nada contra os altos salários. Craques da bola, assim como os executivos que fazem a diferença, merecem ser bem remunerados. Astros do futebol como Neymar e Messi valem cada centavo de seus polpudos contracheques. O que não consigo entender é a razão pela qual os clubes ainda são administrados de forma pré-histórica, sem seguir nenhum manual de gestão. Chamam a atenção figuras como o bicho, prêmio extra que os atletas recebem quando a equipe vence, mesmo sem convencer a torcida. 

 

Como me disse um dirigente, que, por motivos óbvios, não quer o seu nome citado: “Pago salário para o jogador perder. Para vencer ou empatar tem de dar o bicho”. Por esse motivo, o modelo que está sendo testado no Palmeiras deve ser observado com lupa pelos bons dirigentes do futebol brasileiro. Executivo do mercado financeiro, o presidente Nobre está levando à agremiação alviverde práticas de gestão consagradas pelo empresário Jorge Paulo Lemann, um dos sócios da AB InBev, maior cervejaria do mundo. Palavras como meritocracia, produtividade, metas e bônus passaram a fazer parte do repertório dos atletas palestrinos. 

 

A partir deste ano, os jogadores contratados pelo verdão passarão a receber uma remuneração variável, baseada em critérios de produtividade. A regra vale tanto para desconhecidos, como o meio-campista Marquinhos Gabriel, quanto para o consagrado zagueiro Lúcio, pentacampeão mundial em 2002. Ambos ganharão bônus em razão das partidas em que atuarem e dos títulos que conquistarem. Até o técnico Gilson Kleina renovou seu contrato nessas bases. O bicho continua existindo, mas agora depende também do número de torcedores no estádio. Quanto mais gente nas arquibancadas, mais os jogadores recebem em caso de vitória. Portanto, não é de estranhar que, neste início de ano, o Palmeiras tenha a melhor média de público entre todos os times do Brasil. 

 

É cedo para dizer se o projeto palmeirense será bem-sucedido. Outros times precisam aderir a ele. Além disso, tetos salariais deveriam ser negociados entre os principais clubes brasileiros, a exemplo do que ocorre na NBA e na NFL, as ligas do basquete e do futebol americano. Mas uma coisa é certa: o contrato de produtividade representa uma luz no fim do túnel para os clubes brasileiros, que observam o endividamento aumentar e as fontes de receita secarem. A medida do sucesso do Palmeiras será a capacidade de ganhar títulos com esse modelo de gestão. Se isso acontecer, os dirigentes vão descobrir que uma gestão profissional não só ajuda a equilibrar as contas como também a levantar o caneco.