Como muitos jovens de Encantado, no interior do Rio Grande do Sul, a 130 quilômetros de distância de Porto Alegre, Arri Coser, aos 14 anos, e seu irmão Jair, aos 19 anos, deixaram sua terra natal em busca de oportunidade na cidade grande. Seus objetivos não eram diferentes dos de tantos outros moradores das pequenas cidades de colonização italiana da Serra Gaúcha: fazer carreira com a especialidade local, o churrasco. Mas os Coser percorreram um caminho mais longo. Primeiro, trabalharam no Rio de Janeiro, onde juntaram dinheiro para montar seu próprio negócio, a churrascaria Fogo de Chão. O restaurante, que abriu as portas em 1980, em um prédio simples de Porto Alegre, deu origem a uma potência gastronômica. 

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Fim de banquete: depois de 31 anos no negócio, o fundador Arri Coser deixará o conselho do Fogo de Chão

São 23 restaurantes, sete no Brasil e 16 nos Estados Unidos, que garantem um faturamento de US$ 170 milhões por ano. No domingo 7, a jornada de 31 anos dos churrasqueiros Arri e Jair na Fogo de Chão chegou ao fim. Seu sócio, o fundo GP Investiments, dono de 35% das ações desde 2006, fez uma oferta pelos 65% restantes do capital da rede. A transação teria rendido cerca de US$ 62 milhões à dupla, considerando a avaliação divulgada pelo GP. O feito dos irmãos Coser, que deixam o negócio com a venda, no entanto, foi muito maior do que simplesmente indica a narrativa dos empreendedores esforçados de origem humilde, que fundam e depois vendem uma empresa de sucesso. Afinal, eles criaram a primeira marca brasileira de gastronomia internacional. Atualmente, 60% da receita do Fogo de Chão vêm das unidades dos Estados Unidos.  

Para chegar a esse ponto, foi decisivo o apoio inicial do pai, Ângelo, que usou recursos da poupança para financiar o restaurante dos filhos. Mesmo assim, a vida dos irmãos nunca foi fácil. Na década de 1980, quando o Fogo de Chão não passava de uma pequena churrascaria regional, eles tiveram de recorrer à criatividade para driblar a falta de dinheiro. Como não tinham capital de giro, a compra da carne era feita sempre no mesmo açougue. Só no final do dia, depois de apurar a féria da churrascaria, eles saldavam a dívida com o açougueiro. A expansão do Fogo de Chão começou em 1986, ao abrir, em São Paulo, o seu primeiro restaurante fora do Rio Grande do Sul. Localizado em Moema, bairro de alta renda da capital paulista, a filial foi essencial para que os irmãos Coser desenvolvessem uma fórmula que permitisse seu crescimento.

 

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“Brazilian Taste”: cerca de 60% da receita do Fogo de Chão vem das 16 unidades dos Estados Unidos, como a de Washington (acima) 

 

A partir daí, abriram churrascarias sempre em locais de alto poder aquisitivo, ao contrário do que faziam os seus conterrâneos, que montavam restaurantes à beira de estrada. A estreia nos Estados Unidos aconteceu em 1997, em Dallas, no Texas, usando recursos próprios. No começo, os americanos confundiam o Fogo de Chão com um restaurante de culinária chinesa, em razão da grafia da palavra “chao”. Superado esse obstáculo, a rede deu tão certo que hoje mantém unidades em cidades como Washington, a capital dos EUA, Los Angeles e Chicago, entre outras.A dúvida, agora, é como a rede se sairá nas mãos de um fundo que possui US$ 3 bilhões investidos em setores tão diferentes quanto administração de shopping centers (BR Malls) e mineração (Magnesita). 

 

O GP Investments já deixou claro que será agressivo na expansão. A expectativa é abrir, pelo menos, três unidades por ano: duas nos Estados Unidos e uma no Brasil. Cerca de 30 localidades dos dois países são avaliadas. Não está descartada a expansão para o Canadá e para os países asiáticos. Para preservar a cultura implantada pelos irmãos Coser, o CEO Larry Johnson, um americano recrutado por Arri durante a conquista do Texas, será mantido no posto (Johnson cuidava da conta do Fogo de Chão no banco em que trabalhava). “Os profissionais seniores da companhia são de inteira confiança da GP e acreditamos que executarão com sucesso o próximo ciclo de expansão da companhia”, informou o GP, por meio de um comunicado. Procurado, Arri não quis dar entrevista.

 

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