23/03/2005 - 7:00
Há empresas que têm sua alma na área financeira, como os bancos e as administradoras de cartão de crédito. Outras a possuem no setor de marketing, a exemplo das operadoras de celulares. E existe um grupo no qual ela está localizada nos departamentos de pesquisa e desenvolvimento. Foi nos laboratórios que a subsidiária brasileira da Magneti Marelli, uma das maiores fabricantes de autopeças do País, conquistou a liderança nas vendas de um dos mais promissores produtos do setor automobilístico: os sistemas que permitem ao veículo rodar com diversos tipos de combustível, flex fuel, ou simplesmente flex. A Marelli, controlada pelo grupo Fiat e dona de marcas como Cofap e Kadron, não o inventou ? essa primazia coube a um engenheiro brasileiro, funcionário da concorrente Bosch. Mas os italianos o simplificaram de tal maneira que logo seduziram seus grandes clientes, as montadoras. A diferença era visível. No caso da Bosch e da Delphi, o sensor para identificar o combustível se localizava na entrada do motor. No caso da Marelli, o dispositivo encontrava-se no sistema de escapamento. Parece pouco, mas isso garantia uma economia nos custos de pelo menos US$ 100. Tanto que os dois concorrentes seguiram o exemplo dos italianos. Mas esses já haviam tomado uma dianteira que os outros não conseguiram descontar.
Por isso, a Marelli já é dona de 61% desse mercado, contra 33% da Delphi e apenas 5% da Bosch. Em 2004, a novidade, sozinha, foi responsável por um aumento de 10% no faturamento da companhia. ?A maior importância não está nesse número?, afirma Silverio Bonfiglioli, presidente da Marelli no Brasil. ?O mais interessante é que ela nos abre as portas para novos negócios.? Graças a ela, a empresa conquistou, por exemplo, o fornecimento de todo o sistema de ignição do Ford Fiesta 1.6, posto até então ocupado pela Visteon.
Nas duas últimas semanas, Bonfiglioli, um italiano de Bologna, recebeu outra boa notícia. Quase simultaneamente, duas montadoras anunciaram o lançamento dos primeiros populares equipados com o Flex. A Volks colocará no mercado um Gol 1.0. A Fiat respondeu em seguida com o Palio 1.0 e Uno 1.0. O sistema multicombustível dos dois modelos será fornecido pela Marelli. Com isso, suas vendas podem se multiplicar, embora o faturamento não salte na mesma proporção. ?A diferença de custo entre o sistema tradicional e o flex não é muito significativa. Além disso, será uma substituição de produtos, pois já somos fornecedores do sistema de ignição desses modelos.?
A participação de mercado subirá, segundo cálculos de Bonfiglioli, para 70%, puxando o faturamento para um patamar acima de R$ 1,4 bilhão anuais. ?Graças ao flex, somos reconhecidos como líderes em tecnologia?, afirma o executivo italiano. Para o final deste ano, Bonfiglioli dará uma nova tacada para reforçar essa imagem, com o lançamento do tetra flex. Esse sistema permitirá o uso de álcool, gás e dois tipos de gasolina ? a E22 (com 22% de álcool, utilizada no Brasil) e E0 (sem adição de outros elementos, usada na Argentina). A novidade acrescentará 10% ao faturamento da companhia e alimentará as exportações. Hoje a Marelli vende para o exterior o equivalente a 18% de suas receitas. Com o tetra elevará esse percentual para 22%. ?Um automóvel com o tetra flex cruzará a fronteira de diversos países sem desrespeitar as condições de cada localidade?, diz Bonfiglioli. ?Vamos viabilizar o carro do Mercosul.?
Em 2005, a Marelli vai faturar R$ 1,4 bilhão