DINHEIRO ? A Itautec sempre teve uma estratégia mais focada no segmento corporativo. O que o sr. pretende fazer para fortalecer a marca também no varejo?

MÁRIO ANSELONI ? Meu objetivo é priorizar esse canal, mas sem prejudicar a rentabilidade da empresa. Para isso, iniciei um processo de reestruturação de vários departamentos da empresa. A Itautec possui uma grande capacidade de inovação, mas não está usando esse potencial em toda sua plenitude. A marca tem uma boa reputação no mercado e isso deve facilitar minha tarefa. Hoje temos uma posição consolidada junto aos clientes corporativos. Uma boa mostra disso é que estamos desenvolvendo projetos para instituições financeiras de grande porte, cujo nome não posso revelar por questões contratuais. Nossos terminais de ponto de venda e máquinas de autoatendimento bancário estão em 27 países.

 

 

DINHEIRO ? Quanto a empresa está investindo para tirar os planos do papel?


ANSELONI ? Disponho de cerca de R$ 100 milhões para ampliar a competitividade da empresa em um mercado que muda a cada dia e entrou na rota das grandes empresas globais do setor. Essa verba, contudo, não inclui aquisições. Também contratei a consultoria americana McKinsey para nos ajudar a elaborar um plano estratégico para o período 2011-2016. A Itautec tem de voltar a ser uma referência no setor. 

 

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“Pretendo ampliar nossa presença no varejo, mas sem prejudicar a rentabilidade”

Loja de produtos de informática em São Paulo

 

DINHEIRO ? Nesse projeto estão incluídas aquisições?


ANSELONI ? Sem dúvida. Faz parte do meu dia a dia avaliar as oportunidades de mercado. A compra de uma concorrente é um caminho natural para quem está pensando em crescer de forma rápida como nós. Mas ainda não temos nenhuma companhia em vista. 

 

 

DINHEIRO ? Muitas fabricantes de computador estão entrando em novos mercados como o de tablets. O sr. pretende explorar esse setor? 


ANSELONI ? Não há nada definido nesse sentido. Mas posso lhe dizer que nossa meta é lançar mão de todas as ferramentas tecnológicas disponíveis. O consumidor brasileiro é ávido por novidades. 

 

 

DINHEIRO ? As empresas do setor falam muito em sustentabilidade. Como o consumidor pode separar quem realmente adota esse tipo de prática de quem usa esse discurso apenas como estratégia de marketing?


ANSELONI ? As empresas, de um modo geral, estão se engajando nessa causa. Contudo, existem algumas que apenas plantam árvores. É uma atitude louvável, mas não atinge o ponto central do que chamo de responsabilidade ambiental. Isso deve se refletir desde a seleção de fornecedores e os materiais utilizados até a preocupação com o descarte de materiais. Diversas empresas sérias estão atuando dessa forma e meu objetivo é fazer com que a Itautec se torne uma protagonista nesse debate.

 

 

DINHEIRO ? O sr. exige de todos os fornecedores uma política semelhante?


ANSELONI ? Claro. Hoje compramos metade de nossos insumos de empresas locais. O restante é obtido na Ásia, Europa e Estados Unidos. De todas elas cobramos certificações ambientais e de qualidade produtiva. Além disso, procuramos conhecer a política de gestão de pessoas. Essas informações são checadas pessoalmente por funcionários graduados e técnicos da Itautec que visitam essas companhias até três vezes por ano. 

 

 

DINHEIRO ? Já houve algum caso de exclusão de fornecedor que deixou de atender a esses critérios?


ANSELONI ? Exclusão não. No entanto, já deixamos de assinar contratos com empresas asiáticas que diziam uma coisa em seus relatórios e, quando fomos averiguar, a prática era bem diferente.

 

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“É cada vez mais difícil concorrer com os asiáticos”

Trabalhadores da chinesa Foxconn

 

 

DINHEIRO ? O consumidor enxerga esse atributo como um valor a ser considerado no momento da compra?


ANSELONI ? Eu creio que os brasileiros estão aumentando seu nível de conscientização e já enxergam com outros olhos as empresas ambientalmente responsáveis. Ainda não dá para dizer que isso funciona como um elemento decisivo na hora da compra. As exceções são integrantes do estrato mais elevado da pirâmide social. Penso que no futuro a sustentabilidade deverá mais um fator de exclusão do que de escolha. 

 

 

DINHEIRO ? Mas como concorrer com os chineses, por exemplo, conhecidos por sua política agressiva de preços?


ANSELONI ? Minha expectativa é que os consumidores olhem os jogadores desse setor e analisem não só o preço e qualidade dos produtos mas também sua ligação com o País. E, com isso, rejeitem aquelas que entram aqui para apenas surfar no crescimento do consumo e depois ir embora.

  

 

DINHEIRO ? O governo brasileiro tenta recuperar o atraso do País na área de TI, com a abertura de uma fábrica estatal de chips. O sr. acredita que dá para falar em um computador inteiramente nacional? 


ANSELONI ? Não vou dizer que essa é uma ambição impossível, mas está cada vez mais difícil de ver isso se concretizar. A velocidade de desenvolvimento do mercado asiático é muito grande, o que torna a concorrência cada vez mais difícil. No entanto, os volumes do mercado brasileiro de computadores e de ou-tros aparelhos eletrônicos mostram que podemos, ao menos, sonhar com a hipótese de produzir um computador 100% brasileiro. Mas até que ponto buscar esse sonho traria benefícios para o País? Acho que devemos apostar no fortalecimento da indústria local de transformação.

 

 

DINHEIRO ? E o que falta para que o setor cresça em bases sólidas?


ANSELONI ? O governo vem tomando decisões importantes. A redução da carga fiscal, com a isenção de PIS/Cofins, viabilizou a continuidade da produção local e fez com que o mercado interno crescesse. Sem isso, dificilmente as indústrias estariam fabricando localmente. Essas iniciativas foram positivas. Ainda falta, entretanto, tornar o País mais atrativo para quem pretende instalar aqui indústrias de base tecnológica. O Brasil ainda é extremamente burocrático e complexo do ponto de vista administrativo. 

 

 

DINHEIRO ? Como se pode mudar isso?


ANSELONI ? É preciso aprofundar as reformas estruturais. As leis precisam ser revistas, especialmente o capítulo trabalhista, pois ele estimula distorções e atuações, digamos, heterodoxas de algumas companhias. Isso acaba causando uma concorrência desleal entre os que cumprem a lei e os demais. Vejo, no entanto, alguns progressos, especialmente na questão tributária. Mas é preciso avançar ainda mais, especialmente na infraestrutura. no quesito educação. Hoje, temos uma farta oferta de empregos, mas não há gente qualificada para ocupar diversos postos em TI. Ao longo da minha trajetória como gestor de empresas multinacionais vi que o Brasil perdeu muitos investimentos por conta do chamado Modelo Brasil, que embute custos indiretos e tornam o País menos competitivo. Para preparar as próximas gerações fechamos, inclusive, uma parceria com o Instituto Ayrton Senna. 

 

 

DINHEIRO ? Como é essa parceria?


ANSELONI ? Parte do lucro da venda de nossos produtos será revertida para projetos educacionais mantidos pelo Instituto. Buscamos a entidade em março deste ano, com o objetivo de estabelecer um contrato de longo prazo. A Itautec e a holding a qual ela pertence, a Itausa, têm no País o seu principal mercado. Por isso, estamos fazendo nossa parte para ajudar no desenvolvimento sustentável do Brasil, dando suporte ao trabalho desenvolvido pelo Instituto que tem como meta ajudar a melhorar o nível da educação no Brasil.

 

 

DINHEIRO ? O que o sr. espera do próximo presidente da Repú-blica?


ANSELONI ? Primeiro, que ele mantenha o regime de-mocrático. É absolutamente fundamental que as pessoas possam se expressar de forma livre. O Brasil se desenvolveu muito nos últimos anos graças à opção pelo regime democrático. O segundo ponto é que ele se comprometa em levar adiante mudanças estruturais importantes, como as reformas trabalhista e tributária. Elas são vitais para que o País se torne ainda melhor. Também desejo que ele continue olhando de forma séria para questões elementares como a educação. Só com isso será possível avançar para além de programas importantes como o Bolsa Família. É preciso, ainda, manter o suporte ao desenvolvimento da indústria brasileira. O setor precisa de ajuda em vários aspectos. O Brasil tem grandes companhias de TI e elas poderiam estar atuando de formam mais consistente no Exterior.