Até o sobrenome remete à nobreza: Conde. Durante décadas, sua família compôs, juntamente com Amador Aguiar, Olavo Setubal, Aloysio Farias e Gastão Vidigal, um grupo de banqueiros clássicos, a mais fina flor da elite financeira do País. Com seus irmãos Pedro e Arlindo, Armando Conde, hoje um senhor com 72 anos e uma incrível semelhança com o escritor Ernest Hemingway, foi controlador do Banco de Crédito Nacional, o BCN, uma das maiores instituições do País, até ser adquirido em 1997 pelo Bradesco. Desde então, na hora de fazer negócios, o pragmatismo do banqueiro tem pesado mais do que o sangue azul. Conde se tornou um grande investidor imobiliário e colocou como alvo brasileiros das classes D e E, e não os endinheirados que atendia no banco. ?Pobre paga em dia. Pergunte ao Samuel Klein?, diz Conde, referindo-se ao fundador das Casas Bahia, que fez fortuna vendendo para consumidores mais carentes. Com essa filosofia, Conde já vendeu 10 mil lotes, sempre em cidades do interior do estado de São Paulo. ?A capital é muito cara?, afirma. Hoje, seu patrimônio bate em R$ 100 milhões. Outros oito loteamentos em municípios como esses sairão do papel em breve. Mas sua próxima tacada, a maior na carreira imobiliária, nada tem a ver com loteamentos. Até 2007, Conde espera inaugurar o Parque Ecológico da Serra do Guararu, uma imensa área verde colada à praia de Perequê, em Guarujá, litoral de São Paulo. A Serra (na verdade, um morro de 330 metros de altura) é um paraíso verde, último local intocado numa região já densamente habitada por moradores e turistas. O projeto enfrenta obstáculos. O Ibama ainda não deu sinal verde e uma ação do Ministério Público também incomoda, mas não assusta Conde. ?A ocupação disciplinada é a melhor forma de preservação?, diz .

Parte da área pertence à família Conde desde 1971. Para criar o parque, ele e quatro outros proprietários já doaram seis milhões de metros quadrados. Os outros 19 donos da Serra podem aderir à iniciativa nos próximos meses. Assim, a área total do parque atingiria 17 milhões de metros quadrados. O empreendimento só ocupará parte da Serra. O restante será destinado a reservas florestais e condomínios residenciais.

Até agora os investidores desembolsaram R$ 1,5 milhão na elaboração do projeto inicial. Mais R$ 1 milhão serão absorvidos antes do início da implantação do parque. O total do investimento ainda não está definido, pois depende do nível de intervenção na área que o Ibama permitirá. Dinheiro não faltará, garante Conde. Entidades e ONGs ambientalistas certamente contribuirão. Outra fonte de recursos são empresas com o chamado passivo ambiental ? aquelas cujas atividades agridem a natureza e que, como compensação, são obrigadas a destinar recursos para preservação do meio ambiente. O próprio empreendimento gerará receitas, como a cobrança de ingressos, esportes e visitas ao sítio arqueológico São Filipe. Também haverá uma programação de cursos sobre ecologia para estudantes.

A atuação de Conde no setor imobiliário é um retorno às origens. Entre 1956 e 1961, ele construiu 500 casas em São Paulo. Batizou o local de Vila Rosália, homenagem à mãe. Na ocasião, ele era engenheiro recém-formado pela Politécnica da USP, onde foi colega de Paulo Maluf e Mário Covas. ?Jogávamos bola juntos?, recorda ele, um palmeirense que não acompanha futebol há anos. ?O único verde que me interessa é o da Serra de Guararu.?