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A última Mostra Internacional de Cinema, que aconteceu em São Paulo entre outubro e novembro, deixou os cinéfilos mais tradicionais com uma ponta de raiva, mas fez com que os adeptos da modernidade ficassem extasiados com a novidade. É que não era necessário ir a uma sala de exibição para ver alguns dos filmes apresentados: bastava acessar a internet e entrar em um site chamado The Auteurs.

Ali, produções israelenses, belgas e até venezuelanas podiam ser acompanhadas em tempo real pela internet – um feito que converteu a Mostra no primeiro festival de cinema online do mundo. Apesar de ter acontecido no Brasil, quem esteve por trás dessa tacada pioneira foi um argentino com cabelo propositadamente desarrumado, dono de um ar blasé e criado no mundo das artes desde pequeno.

Eis Eduardo Costantini Jr., 33 anos, dono da produtora Costa Films e filho do empresário Eduardo Costantini, o milionário das finanças que é dono do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba) e muito conhecido no Brasil por ter arrematado o quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral, por US$ 1,5 milhão, em 1995.

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Como o pai, Costantini Jr. também quer ficar famoso por aqui e, nos últimos anos, tem conseguido. Depois de investir US$ 2 milhões no então desconhecido filme Tropa de Elite, do cineasta José Padilha, ele se prepara para abrir uma produtora no Rio de Janeiro, em sociedade com a cineasta Vânia Catani, dona da Bananeira Filmes, e lançar o seu site The Auteurs, criado em 2007, numa versão em português. “A minha ideia é fazer com que o The Auteurs vire um Facebook para pessoas que gostam de cinema de autor”, disse Costantini Jr. à DINHEIRO. “Em cinco anos, valerá US$ 500 milhões.”

Para concretizar essa aposta, o jovem empresário sabe que precisa difundir o site em outros países fora da Europa e dos EUA – que concentram 80% dos 300 mil usuários. Por isso mesmo, organizou a mostra online em São Paulo e pretende traduzir o conteúdo para o português até 2011.

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O The Auteurs possui um modelo de negócios relativamente simples. Ele conta com um catálogo de mil filmes que podem ser acessados gratuitamente ou mediante pagamento de US$ 3. Mas, ao contrário do iTunes, em que é possível fazer o download, os usuários assistem ao filme sem baixá-lo. “Até o fim de 2010, teremos um acervo com duas mil produções”, diz Costantini Jr.

Além de gerar receitas com o acesso aos filmes, o site também pode se converter em uma plataforma de lançamentos para produtores independentes que não dispõem de caminhões de dinheiro para promover seus filmes. A vantagem, neste caso, é que existem grupos de discussões sobre as produções e a internet é um meio no qual as informações se espalham rapidamente. Ou seja, o universo virtual serve de termômetro para o mundo real. Enquanto o The Auteurs ainda é um negócio promissor, Costantini Jr. continua investindo milhões de dólares em filmes e na distribuição deles.

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Sucesso de público
Até o fim do ano, cerca de 110 milhões de pessoas deverão passar pelas salas de cinema em todo o Brasil

A produção cinematográfica que, no momento, tem tomado parte de seu tempo é Lula, o Filho do Brasil, do diretor Fábio Barreto. O empresário argentino será o responsável por toda a distribuição do filme na América Latina, exceto no Brasil.

Se suas previsões se confirmarem, cerca de dois milhões de pessoas assistirão à história do presidente brasileiro em todo o continente.

A primeira apresentação fora do País acontecerá, em março, na Argentina. De lá, parte para Chile, Uruguai, Venezuela… Costantini Jr., que começou a carreira trabalhando como diretor executivo do Malba, não enxerga limites quando o assunto é cinema.

Também, é verdade, fala de milhões de dólares como se fossem trocados. Por ser bem-nascido, pertencer a uma das famílias mais ricas da Argentina com negócios nas áreas de finanças e de construção civil, e ter uma agenda com bons contatos, ele sabe para quem ligar e onde conseguir verba para suas produções.

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Foi com essas credenciais que, durante o Festival de Cannes, em 2004, ele se apresentou ao poderoso Harvey Weinstein, ex-dono da Miramax. Juntos, criaram um fundo de investimentos de US$ 25 milhões para desenvolver o cinema latino-americano.

Dessa leva saíram Tropa de Elite, de José Padilha, e Burning Plain, do mexicano Guillermo Arriaga, o mesmo roteirista de Babel, entre outras produções. Paralelo a isso, Costantini Jr. prepara a inauguração de um escritório da Costa Films no Rio de Janeiro para produzir filmes em sociedade com a cineasta Vânia Catani. “Nossa ideia é fazer de um a dois filmes por ano com investimentos que variam de R$ 1,5 milhão a R$ 10 milhões”, conta o produtor.

“Em março do ano que vem, vamos anunciar os nossos projetos ao mercado”, diz Vânia. Não é à toa que a atenção de Costantini Jr. está voltada ao mercado brasileiro.

“Este ano vamos chegar a 110 milhões de espectadores e a um faturamento de R$ 1 bilhão”, diz Paulo Sergio Almeida, cineasta e diretor do site Filme B, um dos mais conceituados da área.

O cinema nacional, diz ele, deverá ficar com 15% do bolo. “Nunca chegamos perto disso.” Costantini Jr., um argentino que tem se tornado figurinha carimbada no Brasil, não tem dúvidas sobre isso.