DINHEIRO ? Como o conceito de convergência vai mudar a telefonia celular?
SILVIO STAGNI ?
As coisas já estão mudando e numa velocidade muito acelerada. O processo de convergência começou há alguns anos, quando foram incorporadas ao celular diversas funções. A primeira delas foi a máquina fotográfica. Depois, veio a função música. E a próxima onda será a da televisão. No caso das imagens, por exemplo, o celular já pode substituir as câmeras para 90% dos consumidores.

DINHEIRO ? Com qualidade?
STAGNI ?
Eu vou te dar um número. O mercado anual de celulares é de um bilhão de aparelhos. Destes, 350 milhões já vêm com máquinas fotográficas. E o mercado mundial de câmeras digitais é de 80 a 90 milhões de unidades. Nós, por exemplo, já estamos lançando celulares com a tecnologia Cybershot, que permite gerar fotos de cinco megapixels de definição. Existem outros com 2 ou 3.2, o que já atende grande parte do público consumidor. Mas essa convergência não depende apenas da agregação de novas funções.

 

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“A licitação do ministro Hélio Costa vai lançar a terceira geração no Brasil “.

 

DINHEIRO ? Como assim?
STAGNI ?
O celular não deve perder suas características próprias. Ele não pode, por exemplo, se transformar numa câmera fotográfica que fala. O aparelho só vende se for capaz de manter uma boa combinação de design, tamanho, peso e também uma interface simples para o usuário.

DINHEIRO ? E quanto à música? O celular irá tornar obsoletos os aparelhos de MP3?
STAGNI ?
Nós estamos trabalhando para isso. Dois anos atrás, quando se dizia que um celular tinha MP3, isso valia quase que só para a campainha do aparelho. Hoje, nossos telefones têm quatro gigas de memória. Isso significa quatro mil músicas, o que é uma capacidade maior do que a da maioria dos iPods.

DINHEIRO ? Portanto, o celular também irá atender às necessidades da maioria dos clientes?
STAGNI ?
Sim. E também com softwares que permitem ao cliente converter as músicas dos seus CDs para MP3, organizar por autor e assim por diante. Por isso, eu realmente acredito que, para a grande maioria da população, o celular vai substituir os aparelhos de MP3. As pessoas querem praticidade. Mas é evidente que ainda haverá públicos para máquinas fotográficas mais potentes, assim como tocadores de música mais parrudos.

DINHEIRO ? E os computadores de mão, como os palmtops? Também estão ficando jurássicos?
STAGNI ?
As pessoas querem juntar tudo. O aparelho que foi pioneiro nesse mercado do e-mail, o Blackberry, é celular. Portanto, a convergência já aconteceu. Os nossos celulares já recebem e mandam e-mail também.

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“Concorrer com o iPhone será bom. Vai reforçar o conceito de MP3 no celular”

 

 

DINHEIRO ? Com tantas funções, o usuário vai saber pilotar essa máquina?
STAGNI ?
O segredo é a simplicidade de uso. Veja o caso da máquina fotográfica. No momento em que você aperta o botão da câmera, ele abre a lente e assume automaticamente as funções Cybershot. Tudo tem que ser fácil. Mas existem outras convergências vindo.

DINHEIRO ? Qual é a próxima?
STAGNI ?
A televisão. Nós acabamos de lançar o telefone Bravia, utilizando uma marca da Sony. Ele é um pouco maior, com uma tela grande, que permite uma boa visualização. Isso vai acontecer por aqui assim que o Brasil entrar na terceira geração.

DINHEIRO ? Isso depende da definição do padrão digital no Brasil?
STAGNI ?
Depende da liberação das freqüências. Para que isso aconteça, é preciso esperar o leilão que o ministro Hélio Costa irá fazer, a princípio, no fim de 2007. Com isso, a terceira geração deverá estar disponível no Brasil no início de 2008. E isso vai mudar o panorama do setor. Hoje, é possível fazer transmissões a 140 kilobits por segundo. O Speedy tem uma velocidade média 256 k. Na terceira geração, estaremos falando de velocidades que chegam a um megabit por segundo. Com isso, é possível ter a televisão no aparelho. Vai caber tudo dentro do celular.

DINHEIRO ? Quais são os mercados mais adiantados em relação a isso?
STAGNI ?
A Europa já está toda em terceira geração. Como eles lá atrás adotaram o padrão GSM, que foi uma tecnologia única para todos os países, isso deu muita escala aos fabricantes. E, hoje, cerca de 30% dos aparelhos vendidos aos europeus já dispõem de recursos mais sofisticados.

DINHEIRO ? No Brasil, muitos definem o mercado como de renda média ou baixa e com uma participação grande de pré-pagos. Há espaço para esses aparelhos high-tech?
STAGNI ?
O mercado brasileiro vem se modificando. À medida que chegamos perto do limite de penetração do celular, ele muda. Nós já estamos perto de 110 milhões de usuários, o que era inimaginável alguns anos atrás. Quando o celular foi lançado por aqui, ele custava US$ 3,5 mil. Hoje, vende-se celular a US$ 40. Agora, o mercado nacional deixa de ser um de novos usuários e passa a ser um de reposição.

DINHEIRO ? Na troca de aparelho, busca-se sofisticação?
STAGNI ?
Isso é fato. Toda vez que o cliente busca um novo aparelho, ele quer algo melhor. E, aos poucos, ele passa a entender mais do assunto. Em vez de ter só uma câmera, ele busca uma que lhe permita imprimir fotos. E por aí vai. Esse comportamento dos clientes também muda a política das operadoras.

DINHEIRO ? De que forma?
STAGNI ?
Antes, o subsídio na venda de aparelhos era focado no pré-pago para incorporar novos clientes. Agora, ele é mais seletivo. Busca agradar ao cliente pós-pago, que gera um retorno maior para as operadoras. E isso favorece a venda de aparelhos como os nossos.

DINHEIRO ? Qual é a participação de mercado da empresa?
STAGNI ?
Posso te dar os números globais. A Sony Ericsson é uma empresa de cinco anos, que fechou 2006 com uma participação de mercado de 8%. Mas o que mais impressiona é a nossa taxa de crescimento. No ano passado, vendemos 75 milhões de aparelhos, dos quais 80% têm câmera e 60 milhões têm MP3. Uma pesquisa recente da Nielsen constatou que o nosso cliente, em geral, é jovem, ambicioso, bem-sucedido e antenado com tecnologias. E estamos avançando. Enquanto o mercado cresceu 26% no ano passado, o nosso salto foi de 46%, vendendo aparelhos mais caros, em média, do que os dos nossos concorrentes. O cliente está pagando pela inovação.

DINHEIRO ? Como vocês encaram a concorrência de produtos como iPhone e o celular do Google que será lançado no futuro?
STAGNI ?
Isso é bom. Esses concorrentes irão ampliar o mercado na linha mais sofisticada, reforçando o conceito de convergência entre telefonia e música. E na hora da compra o consumidor poderá comparar o que cada um oferece.

DINHEIRO ? O cliente irá comprar pela marca ou pela tecnologia?
STAGNI ?
Há um pouco de cada coisa. Alguns clientes fazem uma análise mais emocional, associada à marca, e outros uma mais racional, olhando cada pormenor do aparelho. Nós queremos conquistar o consumidor nas duas pontas. E isso sem abrir mão do design, que é algo que o brasileiro valoriza muito. Mesmo nos celulares com mais estilo, nós não abrimos mão do valor agregado. Nossa aposta é que o nosso cliente tem que levar um conteúdo mínimo de tecnologia. Outros concorrentes focam em outros aspectos, como o preço.

DINHEIRO ? De quanto em quanto tempo se dá a troca de aparelhos?
STAGNI ?
Em média, de dois em dois anos. Mas há públicos que trocam a cada seis meses. O cara que compra um celular de um giga de memória é aquele que valoriza o último grito da moda. A renovação é maior, portanto, no público mais propenso a comprar um aparelho Sony Ericsson.

DINHEIRO ? Como a Sony Ericsson imagina que irá se comportar o mercado brasileiro em 2007?
STAGNI ?
Nós estamos prevendo a venda de 25 milhões de aparelhos, dos quais 14 milhões serão de reposição. De acordo com a Nielsen, cerca de 30% do mercado brasileiro é de aparelhos de até R$ 199. Depois, entre R$ 299 e R$ 499, você tem uns 55% do mercado, num segmento onde nós também atuamos fortemente. E os 15% restantes são o que nós chamamos de high-end. Já é uma mudança. No Brasil, o preço médio representa mais do que o preço baixo. Hoje, o aparelho já é um grande motivador de troca de operadora.

DINHEIRO ? Antes, ele mudava mais em função do pacote de preço e de serviços da operadora, não?
STAGNI ?
Era isso, mas o mercado está mudando. Nós trabalhamos a venda dos nossos aparelhos diretamente nas operadoras, mas também nos pontos de venda, que são as grandes redes varejistas, para que o consumidor reconheça e demande a nossa marca.

DINHEIRO ? Muitos desses serviços, como a boa foto, não geram tráfego nem receita para a operadora. O que leva Vivo, TIM ou Claro a vender um celular com uma câmera de 5 megapixels?
STAGNI ?
É um engano achar que o aparelho não gera receita. Ao contrário. Nossos aparelhos, por exemplo, têm um serviço que envia as fotos diretamente para o blog do cliente na internet. E aí há um tráfego. Imagine a situação: o sujeito viaja, fotografa e as imagens são enviadas instantaneamente para a família ou para os amigos.

DINHEIRO ? O celular, além de incorporar todas essas funções, irá também substituir o telefone fixo?
STAGNI ?
Certamente. No futuro, os nossos filhos não saberão mais diferenciar um aparelho fixo de um móvel. Essa distinção não fará mais sentido.

DINHEIRO ? Fala-se muito numa tendência de consolidação das operadoras nacionais. O sr. aposta nisso?
STAGNI ?
Isso vem sendo previsto há muito tempo, mas ainda não aconteceu. Em várias regiões do País, existem quatro concorrentes, o que contribui para fomentar o mercado. Em Brasília, por exemplo, a penetração é de 110%, o que revela que várias pessoas têm mais de um aparelho habilitado. Se houver fusões aqui ou acolá, isso não irá reduzir a agressividade das operadoras. O mercado continuará sendo muito competitivo.