Luís Octavio da Motta Veiga é um advogado acostumado ao tiroteio. Ex-presidente da Petrobras e também ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários, ele hoje tem uma posição estratégica na área de telecomunicações. Motta Veiga hoje preside o Conselho de Administração da Brasil Telecom, terceira maior operadora do País. Como advogado do Opportunity, ele também defende o banco nos processos contra a canadense TIW, que briga pelo controle da Telemig Celular e da Tele Norte Celular. Motta Veiga diz que o aval que o Opportunity recebe do Citibank é um aval da qualidade da sua gestão. Ele também desqualifica seus adversários. ?O ex-controlador da Telecom Italia, Roberto Colaninno, está sendo procurado pela polícia. A TIW, com seus problemas financeiros, praticamente saiu do jogo. Os fundos de pensão têm dificuldades para aprovar suas contas.? Nesta entrevista a DINHEIRO, Motta Veiga fala dos planos do Opportunity e afirma que os contratos têm de ser respeitados. ?Não dá para comprar um bilhete de São Paulo a Londres e querer desembarcar em Roma ou Caracas.?

DINHEIRO ? O Opportunity enfrentou resistências de alguns sócios nos negócios. Por quê?
LUÍS OCTAVIO DA MOTTA VEIGA ? Existe essa imagem de que o Opportunity é briguento, mas não poderia ser diferente. O que você faria se alguém entrasse na sua casa e decidisse, de repente, levar sua televisão? Você negociaria com ele ou chamaria a polícia? Não dá para negociar. Nós temos contratos, que têm de ser respeitados.

DINHEIRO ? Quando começaram as diferenças na Brasil Telecom?
MOTTA VEIGA ? Tudo começou no episódio da compra da CRT, quando o Roberto Colaninno (ex-controlador da Telecom Italia) quis obrigar a empresa a pagar mais. Nós avaliávamos a CRT em US$ 700 milhões e o negócio foi fechado por mais de US$ 800 milhões. Essa compra está sendo alvo de uma investigação lá na Itália e eles têm de se explicar. O Colaninno adora
pagar mais caro. Por isso ele caiu.

DINHEIRO ? A compra da Telecom Italia pela Pirelli muda esse quadro?
MOTTA VEIGA ? A Pirelli é uma grande empresa, que tem métodos mais convencionais. É um parceiro mais sério e mais confiável. Nosso interesse é o mesmo: valorizar uma empresa que é a sétima maior companhia privada do País, pelo ranking da FGV. A Telecom Italia, em agosto, terá de rolar US$ 35 bilhões no mercado de Nova York. Se não aparece uma Pirelli na jogada, a posição ficaria complicada.

DINHEIRO ? Os italianos falam que foram alijados do controle, embora tenham colocado 40% do dinheiro na privatização e dizem que os diretores deles foram demitidos…
MOTTA VEIGA ? Isso é parte verdade. Só quem demite um diretor é o presidente. Um acionista não pode nomear um diretor e esperar que ele dê satisfações a ele e não ao presidente da companhia. Não dá para ter dupla fidelidade. Nós nunca demitimos um cara deles para colocar um nosso no lugar. Quando isso aconteceu, pedimos um nome a eles. O diretor deve ser leal à companhia e não a um acionista.

DINHEIRO ? E o caso da canadense TIW, que briga com vocês pelo controle da Telemig Celular e da Tele Norte?
MOTTA VEIGA ? A ação da TIW no mercado internacional já caiu 99% e vale pouco mais de um dólar. Eles se meteram em alguns negócios ruins na Europa e perderam muito dinheiro, por desmandos e por falta de estratégia. A única saída que eu vejo para a TIW é vender as participações deles.

DINHEIRO ? Por que os fundos de pensão estão se aliando à TIW?
MOTTA VEIGA ? Fico surpreso com o grau de solidariedade deles com uma empresa como a TIW. Uma das subsidiárias deles na Europa praticamente faliu e os bancos nomearam como síndico a Kroll. Para mim, é um caso inédito ver uma empresa de investigação ser chamada a entrar num caso desses. No próprio Canadá, eles também estão mal, enfrentando muitos problemas com os credores.

DINHEIRO ? E por que as fundações estão insatisfeitas com vocês?
MOTTA VEIGA ? Acho que isso faz parte de uma cultura escravocrata. Eles são os senhores de engenho, compraram o escravo e se acham donos do escravo. É uma cultura que confunde propriedade e gestão. O mundo hoje é mais sofisticado. Eu posso botar o dinheiro em um negócio e não mandar, desde que eu tenha um retorno adequado.

DINHEIRO ? Devido às brigas, a Brasil Telecom e a Telemig Celular são negociadas com desconto, não?
MOTTA VEIGA ? Claro, existe mesmo um desconto no preço das ações dessas empresas. Mas isso não acontece por uma falha de gestão. O desconto ocorre pela briga de acionistas, que foi
causada pelos fundos de pensão, pela Telecom Italia e pela TIW.
É importante ver com quem os fundos, como a Previ, se aliaram.
A Telecom Italia era controlada pelo Roberto Colaninno, uma
pessoa que deve satisfações à polícia italiana. A TIW tem uma
ação que virou pó. É uma empresa que está virtualmente fora do jogo. A Previ, o maior fundo de pensão, também tem dificuldades para aprovar suas contas. Outro dia, o próprio Everardo Maciel, secretário da Receita, disse que os fundos são os piores
pagadores de Imposto de Renda.

DINHEIRO ? Se os investimentos dessas empresas estão sendo bem remunerados, por que os sócios abrem uma frente de disputa com o Opportunity?
MOTTA VEIGA ? Eles querem o controle das companhias para vender suas ações com um prêmio maior.

DINHEIRO ? Como está a relação do Citi com o Opportunity?
MOTTA VEIGA ? Muita boa. O Citi está entrando junto conosco em algumas ações judiciais e vê o Opportunity como alguém que defende seus interesses, ou seja, que luta pelas posições de controle nas empresas em que investiu. A visão deles é que nós estamos defendendo o que foi contratado. Além disso, eles mandaram correspondências para o Malan e para o Tápias dizendo que estão satisfeitos com a gestão.

DINHEIRO ? Daqui a quatro anos, vence o contrato de vocês de administração de recursos do Citi e dos fundos de pensão. Teoricamente, eles podem escolher um novo gestor, não?
MOTTA VEIGA ? Podem. Isso reforça a importância do contrato. Se são sete anos, vamos cumprir. Não dá para pegar um vôo de São Paulo a Londres e desembarcar em Roma.

DINHEIRO ? Que desfecho o senhor prevê para a situação?
MOTTA VEIGA ? Acho que não dá para ficar a vida inteira brigando com um vizinho. Um dia alguém muda. Já fizemos propostas de compra pelas participações da Telecom Italia e da TIW. O que está definido é que nós não vamos vender. Nós temos o controle e vamos manter o controle.

DINHEIRO ? O Opportunity construiu uma grande posição no setor de telefonia, mas, por ser um banco de investimentos, não perde credibilidade num negócio que depende de confiança?
MOTTA VEIGA ? O importante é o seguinte: qual é a visão que se tem lá fora de alguém que o Citi diz que defende bem seus interesses? Não pode ser melhor. O problema é que o Opportunity era um grupo estritamente financeiro que entrou num nicho de grandes negócios no Brasil. Essa entrada incomoda e não é confortável. Não é todo mundo que gosta. Muitos interesses foram contrariados. É algo fora do eixo tradicional do capitalismo brasileiro.

DINHEIRO ? Como vocês avaliam a posição da Anatel nessas disputas?
MOTTA VEIGA ? A agência reguladora tem que ver se o serviço está sendo prestado com qualidade. Acho que é isso que eles têm feito e o Renato Guerreiro já provou que é uma das pessoas mais competentes e sérias deste governo. Não é o papel da agência entrar em disputas societárias.

DINHEIRO ? Como está a participação do Opportunity na Telemar?
MOTTA VEIGA ? Ali não existe uma disputa entre os sócios. O que há é um impedimento de que o Opportunity participe da administração por já ser sócio da Brasil Telecom. O Daniel Dantas uma vez já disse ao Guerreiro: ?Graças a Deus não estou lá, porque assim não sou responsável por dar certo ou errado?.