Os vírus Sars-Cov-2 e suas variantes, todas batizadas pelo alfabeto grego, não matam sozinhos. Como a grande maioria já sabe, eles identificam os pontos fracos da pessoa contaminada e, como parasitas astutos, levam os órgãos fragilizados à falência. Se não encontram fraquezas, fazem estardalhaço: tosse, febre, dor de cabeça e desconforto muscular. Se chegam ao pulmão, a situação se agrava. A chance de morte é grande.

O modus operandi do coronavírus serve de prenúncio para o que está a caminho: a morte do presidente Jair Bolsonaro. Até outubro, o chefe do Executivo será corroído pelo vírus que ele ridicularizou. Será derrubado pela gripezinha, pelo resfriadinho, apesar do longo histórico de atleta e pelos shots regulares de cloroquina e ivermectina. Vai morrer pela incapacidade de enxergar sua própria fragilidade e sua finitude. Vai morrer porque não soube lidar com o medo de ser derrotado por um ser invisível, microscópico e que não veste camisetas vermelhas do Lula Livre ou do MST.

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A morte de Bolsonaro será televisionada. STB, RedeTV!, Record e Jovem Pan terão edições especiais na madrugada, reprisadas à exaustão como a Sessão das 10 de Silvio Santos. Militantes com sinal de arminha e camisetas da seleção vão chorar em bando na Avenida Paulista. Vai ter tiro para o alto em Lucas do Rio Verde (MT), Vilhena (RO) e em Jataí (GO). Tratores e colheitadeiras irão bloquear a rodovia MT-010, que liga Cuiabá à Alta Floresta. A bandeira do Brasil ficará a meio mastro por várias semanas em Itajaí (SC), laboratório de ozônio e do kit-Covid, e em Nova Pádua, cidade gaúcha com maior percentual de votos ao mito em 2018: 92,96% dos eleitores.

O fim de Bolsonaro não será uma morte física. Nenhum cidadão civilizado torceria pela morte de alguém – por pior que pareça. O sepultamento de Bolsonaro será político. Bolsonaro precisa ser extinto, o senhor Jair Messias precisa viver. Por justiça, ele caminhará na Terra por muitas décadas. Ele terá de presenciar os efeitos devastadores de sua desastrosa passagem pelo poder. Bolsonaro dilacerou a economia com a mesma gula de um neandertal devorando frango com farofa. Piorou o que estava ruim, destruiu o que estava mais ou menos. Estrangulou a classe média, envergonhou a elite empresarial – que o apoiou, inclusive – e empurrou para a miséria e a fome a base da pirâmide social. Aqueles que, antes dele, sobreviviam com muito pouco, mas que hoje nem pouco têm.

A Covid-19 não derrubou Jair Messias, mas está deixando o candidato Bolsonaro combalido. O vírus expôs a fragilidade de um presidente incapaz de reagir às suas próprias fraquezas. Revelou os defeitos de um parlamentar do baixo clero que nunca teve grandeza nem mesmo para estar no baixo clero fisiológico – e não ideológico – da Câmara dos Deputados. Os erros do PT elegeram Bolsonaro. O fracasso de Bolsonaro tende a eleger o PT.

Com seus dias contados, Bolsonaro vai viver a vida adoidado até o fim deste ano. Vai distribuir dinheiro para os caminhoneiros – numa PEC de potencial de R$ 100 bilhões em déficit –, vai declarar juras de amor aos apoiadores ruralistas, vai recitar João 23 para a base evangélica, vai espalhar o pânico contra o socialismo bolivariano e até se vender como defensor da liberdade de imprensa. Como um moribundo político, vai balbuciar “talkeys”, “qüestões” e no “tocante disso daí” até o dia do velório, em 30 de outubro. Que a morte política o eternize em um personagem da história.