A vida está mais difícil para quem quer aplicar seu dinheiro de maneira conservadora. Com o juro básico da economia em 8,5%, depois do novo corte anunciado na quarta-feira 30 pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central, a rentabilidade da caderneta de poupança vai cair. A partir de agora, a poupança pagará 70% da taxa Selic. Ou seja: quem aplicar o dinheiro daqui para a frente receberá o equivalente a 5,95% ao ano, mais TR, abaixo dos 6,17% atuais. A taxa Selic cada vez menor, obviamente, não afeta só a caderneta de poupança, mas praticamente todas as aplicações em renda fixa. Mais do que nunca, o investidor que prefere segurança e distância do risco das bolsas de valores precisa gastar algum tempo para procurar a melhor alternativa para o seu dinheiro. 

 

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Carlos Takahashi, BB DTVM: ”mesmo na renda fixa, quem procura melhor retorno

terá de assumir mais riscos”.

 

Com a redução da Selic, a taxa de administração dos fundos de renda fixa passa a ser um componente importante do rendimento final. Taxas muito acima de 1% reduzem consideravelmente o retorno para o investidor. Levantamento do Instituto Assaf feito com exclusividade para a DINHEIRO mostra que o investimento com maior rentabilidade média em 12 meses, até abril, é a compra de títulos públicos (ver quadro), que pode ser feita pelo Tesouro Direto. A rentabilidade chega a 25,14%, enquanto a média dos fundos de renda fixa foi de 11,23%. A poupança rendeu ainda menos: 7,38%. Para investir no Tesouro Direto, é preciso abrir conta numa corretora e entender o que se está comprando. 

 

Os papéis mais procurados hoje são a NTN-B e NTN-B Principal, atrelados ao índice de inflação IPCA. Mas também são bem vendidos os papéis com juros prefixados (LTN e NTN-F). A partir desta semana, o Tesouro Nacional coloca em prática uma série de medidas para atrair o investidor para os títulos públicos. Novas ferramentas facilitarão o investimento, taxas serão reduzidas e o valor mínimo de cada compra cairá de R$ 100 para R$ 30. A regra, porém, é que o comprador terá de adquirir, pelo menos, 10% do valor do papel. Atualmente, a compra mínima é de 20% do valor do título. “O objetivo é reduzir taxas e o valor de aplicação para aproveitar o momento de queda de juros e atrair ainda mais investidores para os títulos do governo”, afirma André Proite, gerente de relacionamento do Tesouro Nacional.

 

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Aquiles Mosca, Santander Asset: “os clientes estão mais preocupados

com o retorno dos fundos do que com a redução de taxas”.

 

Mas escolher o investimento não é tão simples. Para o pesquisador do instituto, Fabiano Guasti Lima, é preciso observar também a incidência de impostos (a caderneta é isenta de IR) e o prazo desejado de aplicação. Dependendo da alíquota de Imposto de Renda, não vale a pena tirar o dinheiro de um fundo de investimento para colocá-lo num título público através do sistema Tesouro Direto. “Principalmente para aquele investidor que, por conta do montante aplicado, já conseguiu negociar uma taxa de administração mais atrativa, abaixo de 1% ao ano”, diz Lima. De fato, preocupados com a concorrência num mercado de taxas mais magras, os bancos vêm reduzindo taxas de administração e valores mínimos de aplicação, em diversos fundos de investimento, para atrair o investidor. 

 

No entanto, muitas vezes, é necessário trocar de fundo no mesmo banco para conseguir uma taxa de administração menor. A renda fixa brasileira também está deixando de ser arroz com feijão. Os produtos com maior rendimento fogem da receita tradicional de aplicação exclusivamente em papéis públicos. O coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas, professor William Eid, lembra que há alternativas com rendimento mais alto. “Nem todos os fundos rendem em torno da Selic”, diz Eid. Opções de rendimento mais atraente são fundos de crédito privado que aplicam em papéis de empresas ou empréstimos, e fundos de índices. “Existem produtos bastante competitivos”, afirma Eid. 

 

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William Eid, FGV: ”nem todos os fundos rendem em torno da Selic.

O investidor tem muitas possibilidades”.

 

Para o estrategista de investimentos da Santander Asset Management, Aquiles Mosca, os investidores estão mais atentos a isso. “Eles estão mais preocupados com o retorno dos fundos do que com a redução das taxas de administração e do valor mínimo de aplicação”, diz Mosca. O Santander já vinha aumentando o foco na gestão de portfólio da renda fixa. Essa preocupação, de acordo com Carlos Takahashi, presidente da BB DTVM, maior administradora de fundos do País, com R$ 455 bilhões sob gestão, já está resultando em uma migração dos novos recursos dos investidores dos fundos referenciados em CDI para produtos que aplicam em ativos vinculados à inflação e crédito privado. De fato, dados da Anbima confirmam a mudança no destino do dinheiro. 

 

Nos últimos 12 meses, os fundos DI receberam R$ 13,7 bilhões líquidos dos investidores, enquanto os fundos de renda fixa, que incluem índices, crédito livre e renda fixa tradicional, captaram R$ 59 bilhões. Os fundos vinculados a índices de inflação receberam nada menos que R$ 22 bilhões. O cenário traz desafios para os gestores. “Se, no passado, convivemos com maior rentabilidade e liquidez, porque as aplicações eram principalmente em papéis do governo, agora o investidor que procura melhor retorno terá que assumir maiores riscos, em produtos com menor liquidez”, diz Takahashi. Títulos de empresas ou operações de crédito muitas vezes não têm negócios diários como os papéis públicos. Nesse sentido, o Banco do Brasil está atuando em duas frentes. 

 

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Joaquim Levy, Bradesco Asset: “novos produtos são mais acessíveis

aos cotistas e mais baratos para o banco”.

 

Primeiro, reformulando e lançando novos fundos, mas também treinando os funcionários para um aconselhamento mais qualificado ao investidor de renda fixa. “Na área de novos produtos, estamos ajustando as carteiras de renda fixa para aplicar mais em crédito privado e criando fundos atrelados a índices de preços.” Outra aposta do banco é em fundos imobiliários. Para incentivar aplicações de prazo mais longo e torná-las mais baratas nos canais de varejo, há algumas novidades. O Bradesco, por exemplo, tem duas iniciativas com taxas de administração diferenciadas. A primeira é um fundo no qual a taxa de administração diminui ao longo do tempo. O FIC Renda Fixa Podium começa cobrando 2,5% ao ano e chega a 1% se o investidor deixar o dinheiro aplicado por dois anos.

 

A redução acompanha a queda da alíquota do Imposto de Renda. Outra iniciativa é cobrar mais barato numa família de fundos chamada Bradesco Net, que só permite movimentações por canais eletrônicos, como terminais de autoatendimento e operações pela internet ou celular. O fundo de renda fixa da categoria de varejo cobra 1,5% de taxa de administração. Joaquim Levy, superintendente da Bradesco Asset Management, explica que as duas iniciativas reduzem os custos da instituição. “Os novos produtos são mais acessíveis aos cotistas e mais baratos para o banco”, afirma Levy. Segundo ele, custa caro contabilizar grande volume de movimentações e, quanto mais tempo o investidor fica na aplicação, mais fácil é reduzir a taxa. A distribuição também tem um peso importante nas despesas dos fundos. “Por isso, investir na mobilidade é tão importante”, diz Levy. 

 

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