Omaître abre a porta e indica uma mesa na área de espera. ?Ele já está chegando?, avisa. No fundo do restaurante, um homem alto trajando calça jeans e camisa dobrada até metade do antebraço desliga o telefone sem fio e passa o aparelho para o garçom ao lado. Caminha devagar, desvia de uma cadeira e se apresenta. ?Prazer, sou Sérgio Arno?, diz ele. Senta-se, puxa o maço de cigarro do bolso esquerdo e começa a falar emendando um assunto no outro. O irrequieto cozinheiro (sim, ele não gosta de ser chamado de chef) está longe de querer se mostrar sofisticado ou criador de tendências ? marketing muito usual no mundo da gastronomia. Ele põe a mão na massa e, se preciso, suja a cara de molho. Não há mais o que provar. No dia 23 de outubro, Arno completou 20 anos de carreira à frente do restaurante italiano La Vecchia Cucina com o mesmo faro aguçado de quem levou novos aromas aos pratos e agregou novos negócios ao seu cardápio. ?Imagine só? diz Arno. ?Terei a minha primeira reunião de board?, explica. O curioso é escutar isso de um homem cujo sobrenome é sinônimo de indústria, herdeiro da dinastia dos eletrodomésticos Arno.

Ele nunca quis saber dos negócios da família, a empresa foi vendida em 1997 para o grupo francês SEB e Sérgio Arno continuou trilhando o seu caminho no comando das caçarolas. E quem diria que, de uma acanhada casa com espaço para 36 pessoas, ele ergueria um pequeno império da gastronomia com marcas como Vecchia Cucina, o Pasta Gialla e suas nove franquias, uma fábrica de massa, o restaurante Alimentari, a Universidade da Cachaça, o Duets e o 33 Sérgio Arno. ?Em janeiro, vou lançar uma grife de carnes chamada A La Griglia?, avisa. ?Serão cortes diferentes vendidos em supermercados.? Antes disso, contudo, ele pretende levar o Pasta Gialla, restaurante que serve comida italiana sofisticada a preços mais acessíveis, às cidades do Porto, em Portugal, e Orlando, nos Estados Unidos.

Para quem não gostava do dia-a-dia nos escritórios, é uma reviravolta. ?Ele virou um gestor de marcas?, diz Eduardo Tomiya, sócio-diretor da consultoria BrandAnalytics. ?Ele soube passar os atributos de sabor e qualidade que o nome Sérgio Arno reúne para outras marcas.? Silvio Lancelotti, nome respeitado no universo da boa comida, define: ?O Sérgio Arno tem talento para a cozinha e para os negócios.? Prova disso é o sucesso do Pasta Gialla. Criado em 2001, ele deu origem a outras nove franquias. Hoje é possível encontrar o restaurante de Arno em cidades como Recife, Curitiba, Maceió e por aí vai. ?Pretendo abrir mais oito franquias em 2008?, diz ele. Na operação do Gialla, Arno tem como sócio o empresário Roberto Maccioni. Um trabalha o cardápio e o outro desenha a expansão. A julgar pela abertura de novos pontos, a receita tem dado certo. Para abrir uma franquia do Gialla é necessário pagar uma taxa de entrada que varia de R$ 100 mil a R$ 120 mil e investir mais R$ 300 mil no ponto. Arno e Maccioni ficam com os 5% do faturamento a título de royalties e mais 1,5% de taxas para publicidade. ?O investimento em uma franquia nossa se paga em 18 meses?, diz Arno. O faturamento da unidade do Itaim, em São Paulo, por exemplo, gira em torno de R$ 4,5 milhões por ano.

O sucesso do negócio não se esconde apenas nos pratos de qualidade. Nas unidades do Pasta Gialla é possível comprar as massas produzidas por Arno. Ou seja, um negócio alavanca o outro. E a grife Sérgio Arno impulsiona os outros estabelecimentos espalhados pelo Brasil. Em Salvador, ele tem o 33 Sérgio Arno, em Ribeirão Preto, comanda o Duets, um restaurante que mescla comida italiana com sanduíches. Como gosta de cachaça e de café, montou uma cachaçaria, em São Paulo, e, de quebra, lançou rótulos com o seu nome. Tempos atrás o restaurateur inaugurou uma lanchonete de hambúrgueres chamada General Prime. Vendeu sua participação há dois meses e já anuncia a criação de outra lanchonete para o ano que vem. ?Ah! Em janeiro, também vou lançar um bar lounge na alameda Franca?, revela. Isso mesmo, o irrequieto Sérgio Arno emenda um negócio no outro, assim como emenda um assunto no outro. Se essa receita tem dado certo até hoje, é melhor não mudar o tempero.