25/01/2012 - 21:00
Visto do alto, como na foto de satélite que estampa abaixo, é possível ter a real dimensão do transatlântico Costa Concórdia, um gigante de 114,5 mil toneladas e 295 metros de comprimento capaz de deixar pequena a ilha de Giglio, na região da Toscana, na Itália. Foi às margens desse paraíso que uma manobra desastrosa do comandante Francesco Schettino levou a embarcação a se chocar com uma rocha e naufragar, na noite da sexta-feira 13, com 4,2 mil pessoas a bordo. Até o fechamento desta edição, as consequências da barbeiragem de Schettino, que covardemente abandonou o navio, eram 11 mortes e mais de 20 passageiros desaparecidos.
Tragédia na costa: imagem de satélite da embarcação que naufragou na ilha de Giglio, na Toscana.
O lado humano dessa tragédia é irrecuperável. As consequências empresariais, embora possam ser sanadas, têm proporções desastrosas à Costa Cruzeiros, dona do navio. A companhia é uma das maiores operadoras de cruzeiros do mundo, com faturamento de € 2,9 bilhões e uma frota de 14 navios. Desde 1997, ela faz parte do grupo americano Carnival Corporation, com receita de US$ 15,8 bilhões e ações negociadas nas bolsas de valores de Nova York e Londres. Na segunda-feira 16, primeiro dia útil após o acidente, a empresa começou a sentir os efeitos colaterais da tragédia. As ações do grupo fecharam em queda de 16%, causando uma perda de US$ 1,5 bilhão em seu valor de mercado.
Na véspera do acidente, ela valia US$ 20,4 bilhões. Além disso, a Carnival informou em nota que seu lucro anual deverá cair US$ 95 milhões com o Costa Concórdia fora de operação. “A empresa terá que arcar com outros custos, que até o momento não temos como prever”, afirmou Micky Arison, CEO do conglomerado. As perdas não devem parar por aí. O analista de seguros do banco Numis Securities, de Londres, Nick Johnson, estimou que a tragédia pode causar um prejuízo superior a US$ 800 milhões às seguradoras e à própria Costa. O valor considera o reparo do navio, as operações de resgate e o pagamento de indenizações às vítimas.
O fujão: o comandante Francesco Schettino foi considerado responsável pelo
desastre e um dos primeiros a abandonar o navio.
Não é a primeira vez que a Carnival se envolve em tragédias. Em 2010, o Costa Europa bateu no cais do balneário egípcio de Sharm el-Sheik, no Mar Vermelho. Na ocasião três pessoas morreram, entre elas o brasileiro Reginaldo de Moura. “Recebemos uma quantia injusta”, disse à DINHEIRO Reinaldo de Moura, irmão mais velho da vítima. Mais que danos financeiros, o acidente também terá impacto na imagem da empresa. “Esse é o maior problema, porque se trata de uma perda em longo prazo”, diz Eduardo Tomiya, diretor da consultoria BrandAnalytics. Procurada por DINHEIRO, a filial local da Costa Cruzeiros não quis se manifestar.
No Brasil, o naufrágio chegou como uma marola. De acordo com Edmar Bull, vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem, 95% dos pacotes de cruzeiros para a temporada já estão vendidos. “As pessoas ficam um pouco amedrontadas, mas não o suficiente para desistir da viagem”, afirma. O Brasil é um dos mercados mais promissores nesse setor. Nos últimos anos, o número de passageiros subiu 470%. Saltou de 139 mil, em 2005, para 792 mil em 2011. A Costa Cruzeiros tem forte presença por aqui. Das 17 embarcações que participam da temporada 2011/2012, nove pertencem à companhia. Foi no Costa Concórdia, aliás, que o cantor Roberto Carlos realizou o cruzeiro Emoções em Alto-Mar.