22/12/2004 - 8:00
Não se enganem: o chapéu de vaqueiro e as botas de caubói, que em qualquer pessoa denunciariam um homem dedicado à sua terra, à província, voltado para o interior, são quase um disfarce na pele de Alan Faena, o mais cosmopolita dos argentinos. Ele tem 40 anos de idade e é, hoje, o mais audacioso empresário dos pampas. Alan tem um delírio na cabeça, e nada o demove: erguer um bairro inteiro, o Barrio Faena, numa das regiões mais badaladas de Buenos Aires, Puerto Madero, ali onde a capital argentina encosta no estilo de vida de Miami. Ele acaba de construir um hotel, o Faena+Universe, erguido a US$ 30 milhões. A partir do ano que vem começam a brotar um complexo residencial, um imenso salão para festas, um jardim de rosas e o setor comercial. É uma nova cidade cujo ponto de partida é o hotel recém-inaugurado. ?Quando trabalhava com moda, tudo era efêmero ? as criações eram medidas por estações, por temporadas?, diz Alan ?Queria a antítese disso. Queria algo que durasse séculos, e não meses. O Porteño, o prédio onde foi construído o hotel, é do começo do século XX e quis dar-lhe outros 200 ou 300 anos.?
A frase soa presunçosa. Na boca de qualquer um, seria, de fato. Na de Alan é apenas a metáfora de um modo de encarar os negócios de um país que volta a respirar. Com desenho do celebradíssimo francês Philippe Starck, que restaurou um antigo armazém de 1902 para fazer subir o hotel, em tons de madeira e tijolos, o prédio é um novo marco na cidade que, debruçada na correnteza do rio, olha para o futuro. Nessa loucura juvenil de um quarentão, amigo de músicos como Fito Páez e Charly Garcia, há parceiros poderosos. A Faena Properties tem sociedade com gigantes do mundo financeiro como Austin Hearst (neto de William Randolph Hearst, que inspirou o Cidadão Kane de Orson Welles), os irmãos Christopher e Robert Burch, do fundo de investimentos americano Red Badge, e o bilionário russo Len Blavatnik, principal acionista das indústrias Acces. É uma turma que ajuda Faena a voar alto. Numa entrevista ao jornal La Nación ele resumiu, sem modéstia, a que veio. ?Não compito com os hotéis cinco estrelas porque nenhum deles pode fazer o que fazemos, que é acender a chama que Buenos Aires precisava para ser uma cidade internacional.? Preparem-se, porque ainda ouviremos falar muito de Alan Faena.
E nada como um passeio pelo Faena+Universe com suas 83 suítes, para entender o que pode vir a ser este pedaço de Buenos Aires debruçado no Prata. As diárias, que começam em US$ 300 e chegam a US$ 1.200, pontuam um festival de tecnologia e elegância no desenho. A piscina parece um espelho plantado na horizontal. O bar El Bistro exibe na parede os unicórnios que Starck celebrizou na França. O restaurante El Mercado mistura cadeiras em estilo francês com mesa rústica de fazenda e lustres industriais, de aço escovado. Os espelhos no teto refletem o tom dourado do ambiente. Nada é exagerado, mas também não se pode dizer que seja reca-
tado ? um pouco como o próprio Alan, para quem ?não há empresários, e sim gente com visão?.