10/11/2004 - 8:00
“Se alguém quiser assumir o meu lugar, a Vasp está à venda”
Neste domingo 7, o empresário Wagner Canhedo, dono de 16 empresas e patrão de 13,5 mil pessoas, vai reunir a família num almoço em sua casa na Península dos Ministros, Brasília. O motivo é decidir o destino da mais vistosa das companhias de seu grupo empresarial, a Vasp. A mulher, Isaura, companheira de 50 anos, está exigindo que ele desista de lutar pela recuperação da companhia de 4,4 mil empregados. ?Por mim, vendo tudo?, disse Isaura à DINHEIRO. ?Que venda, que doe ou que feche a Vasp. Vai todo mundo ficar desempregado, mas não está dando para suportar tanto sofrimento.? Os quatro filhos também querem que o pai se desfaça da companhia. ?Por enquanto, ele está vendendo apenas seus bens pessoais, como terrenos?, atesta o filho Ulisses. De setembro para cá, Canhedo fez uma transfusão de pelo menos R$ 85 milhões pessoais para os cofres da Vasp, mas isso não se mostrou suficiente para estancar a sangria na companhia. Apenas com o Banco Rural, em razão da ciranda dos juros, a Vasp tem uma dívida de R$ 70 milhões. Para saldá-la, Canhedo está dando como garantia nada menos que o Hotel Nacional de Brasília. Ele pode ir até mais longe, disposto a vender todos os seus 115 imóveis na capital federal para salvar a companhia. ?Criei muito amor pela Vasp, hoje ela é a minha vida?, diz ele com os olhos marejados. Em seguida, mais calmo, anuncia: ?Se alguém quiser assumir meu lugar, a Vasp está à venda?.
Em 1990, quando arrematou a Vasp, Canhedo tinha um patrimônio pessoal estimado em US$ 300 milhões. Com ele no manche, a Vasp chegou a ter 62 aviões, 36% do mercado e 17 rotas internacionais. Na semana passada, tinha 17 aviões voando com idade média de 25 anos, nenhuma rota internacional e caíra para 8,6% do mercado. O que teria provocada essa aterrissagem forçada? ?A política de juros altos associada ao baixo crescimento econômico me sufocou?, sustenta Canhedo, empresário da velha estirpe que dirige sozinho uma Caravan 96 e faz as contas da Vasp na ponta do lápis.
Ele sabe que não é o único em dificuldades no setor aéreo. Mas acha que o governo está privilegiando uma solução apenas para a Varig. Dias atrás, enviou um amigo para conversar com o ministro da Casa Civil, José Dirceu. ?Eu preciso salvar a Varig, ela é a bandeira do Brasil no exterior?, teria dito o ministro. ?Têm muitas empresas no mercado e a Vasp não cabe mais.? Diante da insistência do enviado
de Canhedo, Dirceu teria fechado questão: ?Os Marinho estão vendendo até o patrimônio pessoal para salvar a Globo, mas o Canhedo não paga ninguém?. Alguém precisa atualizar o ministro.
VENDE-SE Canhedo se desfez de gado, do Hotel Nacional e de terrenos no DF para saldar dívidas
Em setembro, Canhedo vendeu 30 mil cabeças de gado e levantou R$ 25 milhões para saldar a folha salarial dos empregados da Vasp em greve. A 13 de outubro, vendeu por R$ 11,5 milhões um terreno em Brasília para quitar uma dívida de R$ 9,5 milhões com a General Electric. Com a Infraero, a Vasp tem dívidas de R$ 11,5 milhões com vencimento até dezembro. O empresário convenceu o presidente da estatal, Carlos Wilson, a esperar até o próximo dia 22 para receber parte do pagamento. Canhedo está vendendo outro terreno, por R$ 10 milhões, cujo pagamento acontecerá perto dessa data. Ele é um homem acostumado à luta. Durante a construção de Brasília, trabalhou como motorista de caminhão carregando terra de uma obra para outra. Com economias, comprou um ônibus e, mais tarde, uma frota. A partir da companhia de transporte coletivo construiu seu império à base do esforço pessoal. Há dois sábados, ao casar uma neta, fez uma festa para 300 talheres no Hotel Nacional. Emocionado, gritou aos convidados: ?Pelo amor de Deus, alguém arrume um comprador para a Vasp senão eu vou morrer?.
“A Vasp tem direito a tudo o que o governo oferecer à Varig”