É evidente que Nelson Barbosa não foi bem recebido pelo mercado como novo ministro da Fazenda. Logo na sua posse o risco Brasil bateu recorde, a bolsa derreteu e o dólar passou dos R$ 4. Barbosa se apressou a falar com financistas. Marcou um encontro com eles antes mesmo da cerimônia de oficialização ao lado de Dilma. Mas não adiantou. Sua fala cuidadosa, repisando o compromisso fiscal, não convenceu. Nove entre 10 analistas levantam dúvidas sobre a capacidade – e disposição – do escolhido para cumprir o objetivo.

Primeiro, e fundamentalmente, porque o verdadeiro titular da pasta daqui para frente será Dilma Rousseff, com seus pendores nada responsáveis pela gastança. Barbosa ocupará a cadeira de ministro, mas será tutelado. Bem de perto! Ato contínuo a transferência de cargo, a presidente já cancelou as folgas de final de ano para tratar justamente de economia. E de seus planos na área. Foi explícita: quer a volta do crescimento. Sem “guinadas bruscas”. Ninguém ainda entendeu bem como isso poderá ser feito.

Na verdade, pessoas como Dilma, Lula & Cia. imaginam que abrir cofres enquanto aumentam impostos indefinidamente é uma decisão meramente política. Se vai ocorrer estouro orçamentário é um detalhe. O desafio de Barbosa nesse contexto está, justamente, em ser mais responsável que seus superiores. Tanto no Governo como no partido que lhe dá respaldo. E isso significa repetir, com pouquíssimas variações, a fórmula perseguida até aqui pelo antecessor, Joaquim Levy. Do contrário, o País perde de vez o rumo.

A retirada de Levy da pasta foi, diga-se de passagem, um daqueles eventos previsíveis e ao mesmo tempo lamentáveis. A austeridade proposta por ele era, decerto, a melhor das vias a seguir depois que a mandatária quebrou o caixa com a famigerada “nova matriz econômica”. Barbosa, ao substituir Levy, não pode nem de longe pensar na reedição dessa ideia tresloucada, que os simpatizantes petistas defendem com unhas e dentes como uma “alternativa desenvolvimentista”. Barbosa foi artífice e promotor de vendas da tal matriz, em outros tempos. Participou inclusive das artimanhas orçamentárias que levaram as pedaladas fiscais – crime previsto na lei e pelo qual a gestão Dilma ainda não foi julgada.

Agora ele precisa passar bem longe dessa proposta para angariar alguma confiança sobre sua condução na Fazenda. É possível que ele já tenha feito essa escolha. As declarações iniciais que deu foram nesse sentido e, como técnico de larga experiência, o ministro também já deve ter percebido que não pode insistir duas vezes no mesmo erro. De suas próximas deliberações, e negociações junto aos políticos, depende o processo do impeachment, que volta a agenda em fevereiro de 2016. Se ele for bem, o assunto será encerrado. Do contrário…

(Nota publicada na Edição 948 da Revista Dinheiro)