19/12/2007 - 8:00
A grande novidade do atual ciclo de expansão da economia brasileira é o equilíbrio macroeconômico que lhe dá suporte. No passado, seguíamos o padrão “arrancadas e freadas”: baixo crescimento e crises recorrentes, derivadas do clássico ciclo de desvalorizações cambiais, disparadas da inflação, choques de juros e freqüentes períodos de recessão. Uma dívida pública elevada e crescente em relação ao PIB gerava necessidade de ajustes periódicos, e com isso vivemos décadas de incertezas recorrentes quanto à solvência do setor público.
Nesse contexto, a busca de soluções para alguns setores do pensamento econômico passava sempre pela defesa do calote. Esta defesa adicionava incertezas e, combinada com a volatilidade inflacionária, gerava uma taxa de juros mais elevada, que por sua vez aumentava ainda mais o quadro de incerteza. Para completar, a fragilidade externa condicionava a política econômica como um todo e também limitava o potencial de crescimento da economia. Com efeito, as fortes restrições de financiamento constrangiam os esforços do capital nacional em investir e globalizar-se e, portanto, preparar-se para enfrentar desafios e oportunidades mais amplas.
Hoje o quadro é radicalmente diferente. O Brasil investiu na consolidação da estabilidade com base no sistema de metas de inflação, no câmbio flutuante e na responsabilidade fiscal. Aproveitamos parte do momento favorável da economia internacional para consolidar os fundamentos da economia, acumulando um valor confortável de reservas internacionais, invertendo a trajetória da relação divida/PIB e ancorando firmemente as expectativas de inflação.
Essa estratégia e uma situação de solvência externa nova – derivada do aumento da capacidade competitiva da economia brasileira como resultado direto da estabilização – permitiram a abertura das empresas brasileiras à exportação. Com as condições domésticas favoráveis podemos capitalizar o aumento da demanda mundial por nossos produtos e o choque favorável nos termos de troca. Esta combinação de fatores produziu uma realidade inédita.
O mundo hoje nos olha com atenção e respeito. Afinal, somos a nona economia mundial em termos de produto, quando medido pela paridade do poder de compra. Nossa importância transcende o fato de sermos um grande supridor global de matérias-primas, com fronteiras agrícolas ainda em expansão e riquezas minerais enormes. Hoje temos uma indústria competitiva e um crescente mercado consumidor. É a nossa demanda interna o que mais tem impulsionado o crescimento da economia.
As empresas souberam tirar proveito do aumento da previsibilidade propiciado pela estabilidade econômica para fazer investimentos, modernizar suas linhas de operação e aumentar a competitividade dos seus produtos, seja para abastecer o mercado doméstico, seja para competir no mercado internacional.
Como seria de se esperar, as mudanças dos últimos anos levaram a uma inserção mais dinâmica do capital brasileiro na economia global. Se nunca os estrangeiros investiram tanto no Brasil como agora – mesmo levando em conta a série de privatizações e a eliminação de barreiras à entrada, que aconteceu nos anos 90, também nunca as empresas brasileiras investiram tanto no Exterior. Segundo dados do Banco Central, as companhias brasileiras acumulam atualmente investimentos diretos no Exterior da ordem de US$ 110 bilhões. Em outras palavras, globalização é uma força de mão dupla.
A conquista do mercado internacional é um dos desafios que se impõem às empresas brasileiras que querem sobreviver num mundo globalizado. Já temos provas de que nossa cultura corporativa é flexível e nossos executivos capazes de adaptação a ambientes difíceis e até hostis. Com a “casa” arrumada – tarefa que o governo está cumprindo, cabe agora à iniciativa privada vencer o desafio da globalização.