A presidente afastada, Dilma Rousseff, deixa para o sucessor a mais maldita das heranças: uma economia crivada por rombos acintosos. Só nos chamados “esqueletos” – os gastos desconhecidos, ainda não contabilizados, como possíveis capitalizações de estatais – a conta pode superar os R$ 250 bilhões. Somadas as perdas na negociação das dívidas dos Estados e em fundos públicos, o número vai além de R$ 600 bilhões. Impagáveis, mesmo com as ginásticas fiscais pretendidas pela equipe econômica que entra.

Anos de desalento administrativo não serão superados num piscar de olhos. Mas – é fato! – a mera troca de guarda já converteu os ânimos no mundo dos negócios. O otimismo com a retomada contagia o parque produtivo. Fora dele, o mercado financeiro também responde com estimativas promissoras. Os palpites são de juros e inflação em queda logo mais, enquanto bolsa e balança comercial ensaiam recuperação. Decerto, a bagunça irresponsável no orçamento público vai continuar a pesar contra o esforço de um estado indutor do crescimento.

Dilma arrastou as estatais para a insolvência. Petrobras e Eletrobrás, para ficar nos exemplos mais notórios, vão precisar de aportes do Tesouro superiores a R$ 150 bilhões. A afronta que a mandatária fez às leis fiscais foi o pressuposto da ruína. Equívocos como a baixa artificial e eleitoreira das tarifas de energia, bem como o controle do preço dos combustíveis, deixaram no rastro um cenário de terra arrasada. De uma maneira deliberada, a presidente que diz não ter culpa de nada abandonou o compromisso da disciplina orçamentária, estimulou a farra das desonerações e deu aval à maquiagem das contas dentro da perversa “contabilidade criativa”.

Foi o mais eloquente dos seus crimes de responsabilidade. No todo e em parte, quis Dilma esconder de seu eleitorado as consequências de tantos abusos, de olho na reeleição. Prometeu mundos e fundos para ganhar nas urnas. Mentiu descaradamente, para depois aplicar o mais estrondoso tarifaço de que se tem notícia na história recente. Consagrou o estelionato eleitoral como prática corriqueira e veio, desde ali, em modo de negação das barbeiragens que continuaram até seus últimos dias no Planalto. O legado da mandatária que deixou o poder na quinta-feira 12, dificilmente será esquecido.

(Nota publicada na Edição 967 da Revista Dinheiro)