Um tapume de madeira com estampa quadriculada nas cores caramelo, vermelho, preto e branco cerca um espaço de 82 metros quadrados ao lado da loja Louis Vuitton, no Shopping Iguatemi, em São Paulo. Não há nome da marca, apenas uma inscrição em inglês, ?Opening november 2004?, indicando que no fim deste mês ali nascerá um novo endereço de luxo em São Paulo. Mas para bom entendedor uma imagem basta. A tal estampa é a cara da tradicional Burberry, a grife inglesa fundada em 1856 e que escolheu a capital paulista para iniciar suas operações no Brasil. Inicialmente no Iguatemi e, em 2005, na nova Daslu, a meca do mercado de primeira linha no País. ?Vamos trazer o conceito de luxo acessível?, diz Alan Haddad, um dos responsáveis pela franquia da marca no País ao lado dos sócios André Haddad e Joice Falcato. ?Teremos peças exclusivas cujos preços não são exorbitantes.? Entende-se por não exorbitantes camisetas pólo de R$ 300, bolsas de R$ 1,2 mil, gravatas de R$ 295 e lenços que chegam a custar R$ 500.

O desembarque da grife no Brasil foi preparado durante um ano. O primeiro contato com os ingleses foi feito por Carlos Ferreirinha, ex-presidente da Louis Vuitton no Brasil, e um dos mais respeitados consultores deste setor. Antes de dar o sinal verde para o início das operações, contudo, os executivos da Burberry pediram dados sobre o desempenho dos negócios finos, que movimenta US$ 1,5 bilhão por ano no País. ?Durante meses, mostrava o potencial do setor para os diretores da Burberry?, diz Ferreirinha. Neste meio tempo, convidou o empresário Alan Haddad para almoçar. Haddad, que estava prestes a deixar a Bally, franquia da grife suíça de acessórios em couro, se interessou pela Burberry e decidiu bancar a aposta. O investimento inicial é de R$ 8 milhões. A primeira loja no Iguatemi já nasce com destaque mundial entre todos os 145 pontos-de-venda e as 54 lojas próprias da grife. As prateleiras brasileiras serão as primeiras a receber a coleção de verão de 2005. O ponto-de-venda na Daslu também promete causar furor. Pousada em uma área de 310 metros quadrados, ela oferecerá uma gama variada de produtos, inclusive peças da linha infantil.

Durante décadas, a Burberry foi identificada como um rótulo ultrapassado, guiado pela tradicional estampa Check, em alusão ao tradicional xadrez que vestiu a família real britânica e o exército na 1ª Guerra Mundial. Essa percepção só começou a mudar em 1997, com a entrada da executiva Rose Marie Bravo. Saída dos quadros da loja americana de departamentos Macy?s, a executiva revolucionou a Burberry. Aos seus interlocutores prefere dizer que não causou uma revolução e, sim, uma evolução. Convocou o estilista Christopher Bailey, que havia trabalhado na casa Gucci, e transformou a Burberry numa grife mais jovem. O resultado pode ser visto no balanço financeiro da companhia, divulgado na semana passada. Lê-se ali que o faturamento cresceu 14% no primeiro semestre de 2004 em relação ao mesmo período de 2003. Saltou de US$ 595 milhões para US$ 643 milhões. Isso não significa que a estampa foi deixada de lado. Apenas demonstra que, agora, a Burberry pode vestir tanto os nobres ingleses como os jovens plebeus.