21/06/2013 - 3:00
Quando desembarcou no salão do móvel de Milão, em abril, levando na bagagem nove luminárias da coleção Yawanawá ? Força da Floresta, o arquiteto paulistano Marcelo Rosembaum não esperava tamanha repercussão. As peças, criadas em parceria com os estúdios Nada Se Leva e Fetiche, ganharam elogios da crítica especializada e de colegas internacionais. ?Foi uma reação de encantamento. Os europeus adoraram!?, diz Guilherme Leite, um dos sócios do Nada Se Leva, presente na mostra. A coleção foi resultado de uma imersão de quase um mês de trabalho de uma equipe de 30 pessoas, entre artesãos e designers, em duas aldeias dos yawanawás no Acre, no início do ano.
A luminária pendente Runuãkenê entre os índios yawanawá: jiboia foi a inspiração
Dessa experiência cotidiana surgiram grafismos e cores que definiram a coleção. A cobra jiboia, por exemplo, inspirou o pendente Runuãkenê, de 2,2 m de comprimento, com iluminação de LED no interior. Flechas de caça foram usadas para a estrutura da luminária de chão Puriti. ?Até os rituais sagrados, como o do chá de ayahuasca, ajudaram, porque é de onde os índios vislumbraram as cores que estão nas peças?, diz Leite. O projeto tem o apoio da marca de luminárias La Lampe, que venderá a coleção produzida em escala comercial, a partir de agosto. Rosembaum, no entanto, diz que o mais importante foi promover essa troca de informações e criar uma maneira de se relacionar com essas culturas tão complexas.
Marcelo Rosembaum (ao centro), com parceiros do projeto
A Gente Transforma na aldeia da tribo no Acre
?Não vou ganhar um centavo com as vendas?, diz o arquiteto, criador da ação AGT-A Gente Transforma. ?Meu objetivo é tornar nosso artesanato mais valorizado e não tratado como suvenir.? A arquiteta paulista Cândida Tabet é outra que lança mão do trabalho dos índios do Xingu para ornar os ambientes que decora. Na última edição da Mostra Black de decoração, em São Paulo, Cândida usou uma rede para dormir da tribo kalapalo, que torce a fibra de palmeira buriti para confeccionar o objeto. ?Essas redes são móveis extraordinários, confortáveis, com uma ergonomia vernacular e de muito bom resultado prático e estético?, afirma Cândida.
Papel de parede feito por tribos africanas a partir de casca de figueiras
Quem também faz uso de fibra natural manufaturada é a fabricante de móveis Vermeil. Com design de Pedro Useche, a poltrona Tucum tem assento e encosto de fios feitos da fibra da tucumã, uma palmeira típica da região do Alto Rio Negro, com manejo sustentável de comunidades indígenas. ?A proposta é usar matéria-prima confortável, sustentável, bonita e nacional?, afirma Fábio Stal, diretor de projetos da empresa paulista. ?É o que podemos chamar de economia criativa que aceita a diferença entre os povos e suas culturas.?
A poltrona Tucum, de fibra da palmeira tucumã, custa R$ 8.600
Mas não é só no Brasil que esta tendência tem se revelado. A marca belga Arte, trazida ao País pela loja Orlean, tem no papel de parede Bark Cloth seu carro-chefe nesse nicho. Confeccionado em Uganda, na África, é feito com cascas de figueiras tratadas, que ganham textura de tecido e são costuradas e tingidas naturalmente pelos próprios índios. Cada painel de três metros de comprimento sai por R$ 18 mil. ?O conceito de subsistência também é um fator que agrega, pois o produto recebe uma certificação da Unesco, o que confere ao produto muito mais que beleza, mas um apelo social e humano?, diz Marcelo Orlean, diretor da empresa.