O mundo corporativo acorda para o sono. Tirar o clássico cochilo depois do almoço, além de atitude saudável, transforma-se em modo de vida em empresas dos Estados Unidos, Japão, China e Europa. O relaxamento de olhos fechados, e muitas vezes com o ligeiro e inevitável ronco, já é uma pequena revolução na horizontal no horário de trabalho. Virou tendência amparada na ciência. Um estudo realizado pela Nasa mostra que 40 minutos de repouso no meio de uma jornada aumenta em 34% a performance das pessoas, sobretudo aquelas cujo cotidiano impõe atenção e vigília particular. São profissionais destinados a labutar no caminho do erro zero. No Japão, onde o repouso é compulsório (as empresas o adotaram como norma), brotam os ?salões de sesta?. Nos Estados Unidos, uma metalúrgica fez furor ao inaugurar suas novas instalações, há uma semana. Nas indústrias Yarde, além de academias de ginástica e um insólito canil com capacidade para seis cães, foi montado um setor destinado ao sono. ?Percebia que nossos funcionários dormiam dentro de seus carros na hora do almoço?, disse Craig Yarde, de 52 anos, à DINHEIRO. ?Por que não oferecer um espaço mais confortável??. São três salas, pequenas e escuras. Uma delas é reservada aos fumantes, com sistema especial de ar-condicionado. A outra oferece macas para massagem. Nenhuma delas tem cama. ?Pôr camas implica trabalhar com regras sanitárias muito rígidas?, diz Yarde. ?É preciso prever lençóis de papel, limpeza minuciosa, e tudo isso ainda exigirá tempo.?

À margem das salas, nasce também um mercado de produtos refinados, criados especialmente para o relaxamento do corpo e a indução ao cerrar de pestanas. Na Alemanha, um dos mais
conhecidos fabricantes de móveis de estilo e ergonomia, a Sedus, lançou no mercado, ano passado, a linha ?Open Up?. São
cadeiras para executivos com uma característica: elas ficam totalmente na horizontal. Na trilha de um slogan, ?dormir no escritório?, já foram vendidas 130 mil unidades. Na França, a respeitada designer Matali Crasset elaborou um colchão que pode ser dobrado, semelhante aos utilizados em campings. Batizado de ?Téo de 2 à 3?, numa referência ao horário pós-refeição, começa a circular por escritórios. Já seduziu advogados e profissionais liberais que o carregam ao lado da maleta 007.

Descompressão. No Brasil, o despertar da soneca ainda é tabu. As iniciativas são poucas e restritas a pequenos grupos. Os trabalhadores de aeroportos e das companhias aéreas fazem parte desta turma pioneira. A Infraero do Rio de Janeiro, empresa responsável pela estrutura aeroportuária do Galeão-Tom Jobim e do Santos Dumont, inaugurou recentemente a chamada ?sala de descompressão?. Há nela uma dezena de poltronas de relaxamento e massagem. Os funcionários têm direito a 15 minutos diários, num cochilo acalentado ao ritmo de sons de pássaros e ruído de água. ?Os estudos mostram que um profissional com alto grau de estresse tem quatro vezes mais chances de ter um acidente de trabalho que um outro descansado?, diz Marilda Novaes Lipp, diretora do Centro Psicológico de Controle do Estresse (www.estresse.com.br). Iniciativas como a da Infraero ainda são raras no Brasil porque navegam contra o preconceito. ?O executivo brasileiro, e portanto o operário do chão da fábrica também, ainda vê com desconfiança e piada o relaxamento durante o horário de trabalho?, diz Marilda. Oferecer alguns minutos de sono, então, é quase uma aberração. É preciso ainda uma boa mudança de comportamento para que as corporações brasileiras adotem a soneca como estilo de vida, e dos mais elegantes, como propõe o americano Craig Yarde. ?O fundamental é que as pessoas saibam que têm a liberdade de dormir um pouco durante a jornada.? Na China, elas não apenas sabem como são obrigadas a dedicar alguns minutos ao descanso total. O xiu-xi (sesta) faz parte da Constituição. Não adotá-la é sinônimo de penalidades.