É em Nova York, e não em Brasília ou São Paulo, que está sendo decidido o destino daquela que já foi considerada um patrimônio nacional, ao lado da Petrobras e da Vale do Rio Doce. Foi na cidade americana que, na quinta-feira passada 11, os interessados em adquirir a Embratel, maior operadora telefônica de longa distância do País, entregaram as propostas à controladora da empresa, o grupo americano MCI. Estão no páreo a mexicana Telmex, o fundo de pensão Telos e um grupo formado por Telefônica, Telemar e Brasil Telecom. Criada em 1965 pelo regime militar como símbolo da integração nacional, a Embratel perdeu mercado, prestígio, dinheiro, mas mantém intacta sua importância estratégica. Sob seu controle estão cinco satélites por onde transita, entre outras coisas, toda a comunicação militar do País.

Por isso, a corrida pela empresa provocou, mais do que nunca, uma forte movimentação no Palácio do Planalto e no Ministério das Comunicações. Afinal, era a oportunidade de colocar sob comando brasileiro uma empresa que, segundo os atuais inquilinos de Brasília, nunca deveria ter parado
nas mãos de controladores estrangeiros. E pode ser que delas não saia. Dos candidatos a arrematar a Embratel, o mais forte é o grupo mexicano Telmex, do milionário Carlos Slim. Um dos homens mais ricos da América Latina, Slim não tem poupado recursos. Sua última tacada foi a aquisição da BCP. Com ela tornou-se o segundo maior operador de telefonia celular no Brasil.

O governo, porém, vê com mais simpatia a possível vitória de um grupo com assinatura brasileira. No mercado, comenta-se que partiu do Ministério das Comunicações o estímulo para que o Telos, o fundo de pensão dos funcionários da Embratel, entrasse na parada. Os fundos, porém, só podem investir 10% do patrimônio em uma só empresa ? e no caso da Telos esse montante seria de apenas R$ 230 milhões. O valor de mercado da Embratel atinge R$ 3,6 bilhões. Por isso, a fundação precisaria de sócios para arrematar a Embratel. A intenção não é comprar a operadora inteira. As ações ordinárias, que dão direito a voto, é que interessam. A MCI tem 51,79% desses papéis em seu poder, que equivalem a 19,26% do patrimônio total
da Embratel. É essa parcela da operadora, avaliada em US$ 300 milhões, que está à venda.

Um dos possíveis sócios da Telos nessa empreitada seriam os pró-
prios dirigentes da Embratel. Dois nomes liderariam a operação: o presidente Jorge Rodriguez e a vice-presidente Purificacion Carpintero. Na segunda-feira 8, Rodriguez e a superintendente da Telos, Solange Paiva, desembarcaram em Brasília e apresentaram
ao ministro Miro Teixeira as intenções do fundo.

A Embratel cairia como uma luva nas necessidades da Telos. DINHEIRO teve acesso exclusivo a um estudo intitulado ?Por que comprar a Embratel Participações?. O documento conclui que os papéis da Embratel podem render o dobro do obtido hoje com títulos públicos. A fundação tem hoje quase todos os seus recursos aplicados em renda fixa. Com a queda dos juros, seus administra-
dores pensam em investir em renda variável.

A idéia de entrar na briga, segundo um executivo da Telos, surgiu quando a MCI anunciou, em 12 de novembro, o desejo de se desfazer das ações da Embratel. O presidente Rodriguez fez uma apresentação na ?TV Executiva?, canal dirigido ao público interno da operadora. A idéia era apenas comunicar a novidade. Ao final de sua exposição, Rodriguez abriu espaço para perguntas. Inesperadamente, um funcionário levantou uma questão sobre a possibilidade da Telos participar da disputa. A partir daquele dia, outros funcionários começaram a enviar e-mails à própria Telos, solicitando um estudo sobre a viabilidade do negócio. Solange autorizou os estudos, que levaram à avaliação de que o cenário é favorável ao investimento na compra de ações da Embratel.

O empurrão decisivo teria vindo de uma articulação comandada nos gabinetes do Ministério das Comunicações, tendo à frente dois colaboradores de Miro Teixeira: José Palácio, seu secretário executivo, e Pedro Jaime Ziller, recém-indicado para a Anatel. ?Miro Teixeira já tinha conversado esse assunto com o fundo de pensão no ano passado. Em conversas reservadas, Miro chegou a prometer uma solução boa para o Brasil e que deixaria as pessoas estarrecidas?, afirma um especialista desse setor.

Uma outra alternativa verde-amarela é um grupo formado pelas três grandes operadoras de telefonia fixa, a Telefônica, a Telemar e a Brasil Telecom. A favor, está a origem majoritariamente brasileira na formação do consórcio. Contra, a dificuldade de driblar a regulamentação. Segundo as regras vigentes, um mesmo grupo não pode controlar duas operadoras diferentes. Em função disso, a proposta do trio dividiria a Embratel em dois pedaços. Um deles abrigaria a operação de longa distância. Neste haveria um sócio majoritário e a trinca ficaria com a menor parcela do capital. ?Dessa forma, a regulamentação não seria ferida?, diz um executivo envolvido nas negociações. No segundo ?pedaço?, ficaria a operação de transmissão de dados, e nele as três operadoras teriam o contro-
le acionário. Nada impede, porém, que no desenrolar das negociações novos consórcios surjam, unindo inclusive os adversários de hoje. ?A Telos pode ser o sócio que Telemar, Telefônica e Brasil Telecom precisam para não ferir a legislação. E as três podem ser os parceiros que garantirão o dinheiro que a Telos não possui?, diz um empresário do setor.