Há uma maneira rápida de medir o QI financeiro de qualquer investidor. Basta perguntar a ele quanto está pagando nas taxas de administração e performance de suas aplicações. Se ele não souber, você certamente está falando com alguém que perde dinheiro. Algumas instituições financeiras cobram taxas tão altas que corroem todo o ganho da aplicação ? ou, pior, fazem um investimento pouco rentável se transformar em prejuízo.

As maiores taxas de administração do mercado são do Banrisul e do Cidade Asset Management. O BancoCidade FIF Curto Prazo, um fundo de renda fixa, cobra taxa de 20% ao ano. Os bancos cobram, em média, entre 0,5% e 2% por um fundo com o mesmo perfil. ?A vantagem é que nós devolvemos a CPMF, o que quase ninguém faz?, diz Isaac Kafif, diretor do Cidade Asset Management, lembrando que o imposto sobre movimentação financeira é de 0,38%. ?Só ganha quem aplicar por menos de 10 dias. De 10 a 20 dias, há empate. Acima disso, o investidor estará perdendo dinheiro?, diz. ?Sabemos que a taxa é elevada, mas o fundo é um ótimo negócio para quem deseja investir dinheiro no curtíssimo prazo, como aquele do caixa das empresas?, explica Kafif que, para evitar confusão, não permite aplicações de investidores pessoas físicas. O Banrisul Automático, da Banrisul Corretora, também tem taxa elevada. Como compensação, reembolsa integralmente a CPMF. Hoje o fundo só permite aportes de empresas pré-cadastradas. Pessoas físicas, nem pensar. ?Não queremos que ninguém se sinta enganado. Quando alguém quer aplicar no Automático, nós sugerimos um fundo parecido, com taxa menor?, diz Álvaro Kafruni, diretor da corretora.

?As taxas de administração estão caindo, mas não para o público em geral. Elas estão em queda apenas para os grandes investidores, como os fundos de pensão, empresas e donos de pequenas fortunas pessoas, os chamados clientes de private bank?, diz Henrique Spinosa Netto, diretor da consultoria Thomson Financial Invest Tracker, especializada em fundos. Para os mortais as taxas estão nos mesmos níveis de sempre. Segundo a Invest Tracker, dos 20 fundos que cobram as menores taxas de administração do mercado, apenas um aceita aportes do público em geral, o Century DI Faqfi, da Sul América Investimentos. A taxa é de 0,1% ao ano. Os demais são fundos exclusivos ou destinados a clientes donos de pequenas fortunas e pessoas jurídicas.

Outro detalhe a ser observado é a cobrança da taxa de performance, debitada quando o fundo supera uma meta pré-determinada. O referencial mais aceito pelo mercado é o CDI. Alguns administradores, no entanto, utilizam como indicador o Índice Geral de Preços do Mercado, o IGPM. O que muita gente esquece é que o IGPM é
utilizado pelo mercado para medir a inflação no Brasil. Ou seja,
superar a inflação não é exatamente nenhum mérito, mas quase
uma obrigação. Por isso, fique atento!

Há um último caso, no qual a taxa se torna devastadora. É o daqueles fundos que ficam esquecidos, à beira da extinção. O MultiStock FIA rendeu 6% de janeiro a novembro, muito melhor que o Ibovespa, que caiu 16% no mesmo período. Quem tinha R$ 100 investidos, porém, não resgataria R$ 106, como se pode imaginar, mas apenas R$ 95,4. O ganho seria corroído pela taxa de administração de 10% ao ano. O diretor da corretora, José Gonçalves, explica que se trata de um antigo fundo 157, do tipo que foi criado na década de 70 para aproveitar uma isenção fiscal. Ele não aceita novos investidores, e os antigos não aparecem para resgatar o dinheiro. ?Metade dos cotistas mudou de casa ou registrou endereço errado, o que impossibilita a localização?, diz Gonçalves. Pela lei, a MultiStock não pode simplesmente acabar com o fundo. ?Temos que manter a carteira até que o patrimônio seja zero.? Com as taxas de administração praticadas, o fundo dificilmente vai crescer de tamanho. A tendência é que diminua até desaparecer.

Venda direta de títulos públicos

O governo promete para este ano a comercialização de títulos públicos pela internet. Será uma revolução no mundo dos investimentos pessoais. Comprando os títulos direto do governo, o aplicador fugirá dos intermediários (no caso, os bancos) e, conseqüentemente, da taxa de administração, que pode chegar a 4% ao ano. Títulos públicos são os papéis mais confiáveis do mercado brasileiro, e também os mais líquidos. Os fundos de renda fixa tradicionais, por exemplo, são quase todos compostos somente por títulos públicos, os mesmos que o governo vai negociar pela web. Como têm liquidez, o investidor não corre o risco de micar com eles na mão. A venda também poderá ser feita para o próprio governo, via internet.

O investimento mínimo será de R$ 200 e o máximo, de R$ 200 mil por mês. Serão negociados três tipos de papéis, as Letras do Tesouro Nacional (LTN), as Letras Financeiras do Tesouro (LFT) e as Notas do Tesouro Nacional série C (NTN-C). As LTN são títulos pré-fixados. Se um investidor comprar o papel e os juros subirem, sai perdendo. Se os juros caírem, sai ganhando. As LFTs são pós-fixadas e atreladas à Selic. Ou seja, se os juros subirem ou caírem, a rentabilidade sobe ou cai junto. E as NTN-C são atreladas ao desempenho do IGPM, um dos índices mais utilizados para medir a inflação.