04/06/2008 - 7:00
A VERSACE NÃO FICOU PETRIFICADA no tempo. Apesar de seu ícone ser uma medusa, monstro da mitologia grega com o poder de transformar em pedra todos que a olham, a marca evoluiu. Com 87 butiques em mais de 60 países, como Japão, França, Estados Unidos, entre outros, a grife italiana, dona de um faturamento de 310 milhões de euros, comemora um crescimento de 7% em relação a 2006. Porém, o cenário não foi sempre assim. Após a morte de seu fundador Gianni Versace, em 1997, a marca enfrentou um período difícil. ?Havia muitas linhas de produtos. Para não perder o foco, houve a necessidade de cortar algumas delas?, conta Fernanda Boghosian, proprietária da filial brasileira da Versace. ?Além disso, os prazos de entrega nem sempre eram tão pontuais?, completa. A partir de 2004 tudo mudou. Com a contratação de Gian Carlo Di Risio como CEO mundial da grife, a casa entrou em ordem. Ele fechou mais de 40 butiques em todo o mundo, abriu escritórios em Nova York e Tóquio, além da filial de Milão, assumiu o controle da maioria das lojas, que até então eram franquias, e investiu em setores como hotelaria e decoração. O resultado: hoje a empresa respira aliviada com um lucro operacional de 25 milhões de euros e um saldo de caixa de 7 milhões de euros. ?Planejamos abrir capital em 2010?, declara o executivo. Em visita ao Brasil, Gian Carlo Di Risio concedeu a seguinte entrevista exclusiva à DINHEIRO. Acompanhe:
Como a marca superou a morte de Gianni Versace?
Foi um período muito difícil. A empresa teve que passar por uma fase de profissionalização. Tiramos a gestão familiar e hoje a família, apesar de ser a dona da marca, partilha as decisões com a diretoria.
Qual é o papel de Donatella Versace nessa nova administração?
Ela é dona de 20% da grife e responsável por toda a parte criativa. Ela foi muito competente em entender a necessidade de uma mudança. Hoje a moda que ela cria é uma moda diferente da época de Gianni.
Como assim?
A moda muda com o tempo e nossa marca acompanhou essa mudança. Mantivemos, é claro, nosso perfil refinado e elegante, com qualidade, mas de uma maneira um pouco mais clean. Nossa tendência é ser menos extravagante. Sem dúvida, Gianni deixou um patrimônio inestimável, mas nossa empresa teve que se adaptar às novas tendências. Acreditamos que o glamour está nas coisas cleans, minimalistas. O verdadeiro glamour é conseguir impor um valor agregado de uma marca, porém com um certa simplicidade.
O que a Versace faz para se manter uma marca luxuosa?
Nossa grife é mais um estilo de vida do que uma marca. Criamos novas frentes dentro do mercado de luxo, como a decoração e a hotelaria. Hoje a Versace pode estar presente na sua casa, nas suas férias, no seu armário.
O sr. pode dar um exemplo?
Nossos hotéis, por exemplo (há um hotel, o Palazzo Versace, em Gold Coast, na Austrália, e outro Palazzo sendo construído em Dubai), foram inspirados em Gianni Versace. Ele tinha muitas casas ao redor do mundo e queríamos traduzir seu estilo de vida. Quem desenvolve esses projetos são os mesmos arquitetos que faziam as reformas e a decoração na casa de Gianni. Entrar em um hotel Versace é como entrar em contato com o estilo de vida de nosso fundador, com as coisas que ele tinha em sua casa.
Como será o Palazzo Dubai?
Será um hotel com conceito de altíssimo luxo, com 200 quartos, uma praia com sistema de refrigeração no solo, que manterá a areia a 22°C, e um sistema de refrigeração para formar uma brisa. Além disso, teremos três piscinas com peixes e corais.
Com tantas ramificações, não há risco de se massificar a Versace?
Não, porque só trabalhamos com produtos de altíssimo luxo. Além disso, a Versace sempre foi muito inovadora. Fomos os primeiros a criar relógios e uma linha para a casa. Inventamos também as supermodelos.
Qual a relação da Versace com as celebridades?
A Versace sempre foi uma grife de Oscar. Não vestimos todo mundo, mas personalidades cujo trabalho tenham a ver com os valores que a Versace passa. No decorrer destes anos, a Donatella desenvolveu muitas amizades no meio artístico. Logo, a relação direta com quem usa acaba sendo natural.
Qual o ramo mais lucrativo da marca?
Seguramente o mercado de moda e os acessórios.
O sr. vem da Fendi, marca de luxo que pertence ao grupo LVMH. Quais as diferenças encontradas na Versace?
A Versace é uma das poucas marcas que ainda são 100% italianas. Muitas marcas produzem uma parte de seus produtos na Índia ou na China e só finalizam seu produto na Itália. Nós somos italianos todo o tempo.
Quais são os planos de expansão da Versace no mundo?
Acabamos de abrir uma filial de móveis em Milão. Além disso, em 2008, iremos nos concentrar na Ásia, onde serão abertas nove butiques. Isso representa um investimento de 45 milhões de euros.
Existem investimentos futuros no Brasil?
Temos apenas uma loja aqui, nossa única experiência na América do Sul (a loja de Buenos Aires fechou). Estou vindo pela primeira vez para o Brasil, portanto, ainda não tenho dados suficientes para analisar esse potencial. Porém, trata-se de um mercado importante que vamos começar a avaliar.
O fato de o País ter sido elevado a investment grade muda a perspectiva de investimento?
O que realmente nos importa hoje em relação ao Brasil é que existe um mercado consumidor de luxo.