Dimitri Mussard é um parisiense de 27 anos que há um ano e três meses vive em São Paulo. Veio para aprender português, encantou-se com a cidade, fixou-se e agora administra uma empresa de representação de grifes europeias, a Acaju, da qual é sócio. 

 

Apesar da classe e elegância aparentes, nenhuma de suas características indica que esse jovem, alto, loiro e de olhos azuis carrega as raízes de uma das famílias mais poderosas dos negócios do luxo no mundo. 

 

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Parceiro verde-e-amarelo: O publicitário e advogado paulista Fábio Justo aliou sua expertise
no mundo da moda brasileira com os contatos internacionais de Dimitri para montar a Acaju 

 

Discreto e simpático, Dimitri é o representante mais velho da sétima geração de Thierry Hermès, o fundador da grife que leva seu sobrenome e enlouquece as mulheres sofisticadas ao redor do planeta com suas famosas bolsas e echarpes. 

 

Por que o herdeiro de um grupo que emprega oito mil pessoas e fatura E 2 bilhões por ano resolveu morar na capital paulista, longe da mãe, Pascale, diretora artística da Hermès, e da namorada, a italiana Maria Sole? “Trabalhei no mercado financeiro, em Londres e Paris, entre 2005 e 2007”, responde ele, num português ainda carregado de sotaque francês. 

 

“Com o dinheiro que ganhei, resolvi fazer um sabático de seis meses, começando pela América do Sul. Foi quando conheci o Brasil.”  Depois de quase um ano mochilando (ele estendeu bastante a viagem), voltou à Europa e acabou sendo pego pela crise econômica mundial. 

 

Foi então que encontrou o banqueteiro brasileiro Charlô Whately, que lhe sugeriu passar uma temporada em São Paulo aprendendo português. “Ele me ofereceu um apartamento para ficar e eu topei. Apaixonei-me pela cidade e estou aqui até hoje.” 

 

Durante esse período, para ganhar algum dinheiro, Dimitri trabalhava para a inglesa Reynolds Venture, vendendo imóveis para estrangeiros. 

 

Dessa temporada paulistana, Dimitri conheceu o advogado e publicitário Fábio Justo. Jovens e antenados no mundo da moda (Justo já havia trabalhado nas revistas Cool Magazine e Wish Report), resolveram tocar o projeto de colocar no ar uma versão brasileira do site inglês Luxury Culture. 

 

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Dimitri Mussard, sócio da Acaju

 

Após quase um ano, a ideia do portal não saiu do papel. Em seu lugar, a dupla resolveu iniciar um negócio próprio, ancorado no mundo real: a  Acaju, firma de representação de produtos importados com foco no luxo e na sofisticação. 

 

Investiram R$ 1 milhão, montaram um escritório no térreo de um antigo prédio residencial, em São Paulo, e começaram a garimpar marcas que tivessem identificação com a preferência nacional.

 

“Minha família não me deu um tostão para abrir o negócio”, diz Dimitri. “Peguei emprestado em banco e com amigos franceses que acreditaram na Acaju.”  

 

Segundo ele, apesar de fazer parte do conselho de administração da Hermès, não recebe nem salário nem mesada dos pais. “Todos os dias eu acordo sabendo que tenho uma dívida para saldar.” 

 

O trabalho já começa a engrenar. Em janeiro e fevereiro chegam as primeiras peças das francesas Weill, grife de prêt-à-porter, Vicomte Arthur, de roupas esportivas, e as bolsas-carteira decoradas com pecinhas Lego da Le Petit Joueurs, marca da namorada de Dimitri. 

 

No meses subsequentes, os descolados tênis Twins for Peace, as estilosas cuecas Clemence de Gabriac e a vodca polonesa Potocki também aportarão por aqui. 

 

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“A princípio vamos vender os produtos em lojas multimarcas, como a Daslu, em São Paulo, e a M&Guia, em Belo Horizonte. Depois queremos nos estabelecer em outros mercados, como Rio, Brasília e Curitiba”, diz Justo. 

 

Além da utilização do espaço de terceiros, a Acaju pensa na operação de um espaço próprio. “Queremos abrir uma loja conceito com as marcas que representamos”, diz Dimitri. A ideia é replicar o modelo da francesa Colette (multimarcas parisiense conhecida pelo design inovador de seus produtos), com oferta de serviços diferenciados, como barbearia e massagem. 

 

Ao todo, dez grifes serão representadas pela Acaju. A expectativa é de faturar R$ 10 milhões até 2013. À primeira vista, pode parecer uma projeção pouco ambiciosa, partindo de um herdeiro de um grupo de faturamento bilionário. 

 

Dimitri, porém, sustenta que se trata de uma meta realista. “Não há espaços suficientes para absorver um volume grande de peças. Não podemos sonhar com um big faturamento”, afirma ele, que diz contar com o apoio moral dos pais.“Eles estão orgulhosos de meu trabalho no Brasil, porque estou aprendendo sozinho”, afirma. 

 

Mas será que ele pode vender produtos concorrentes da grife da família? “Só não posso vender artigos da Louis Vuitton”, diz, às gargalhadas, referindo-se à marca que é um dos ícones do incômodo grupo LVMH, que vem assediando a Hermès para ter seu controle acionário (veja quadro).

 

 

Alaranjado disputado

 

Em 1837, a Hermès instalou-se em Paris para vender produtos de selaria a abastados da França. Com a chegada dos automóveis, diversificou-se, fabricando malas, cintos e bolsas. Rapidamente, ter um produto em–balado numa caixa alaranjada, sua cor oficial, passou a ser objeto de desejo de ricos e famosos do mundo. 

 

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Os conglomerados de luxo também entraram na lista de fãs da marca, cujo valor de mercado é de  E 16,9 bilhões. Principalmente o maior deles, o LVMH, do francês Bernard Arnault. Dono já de 20,2% da Hermès, o grupo quer mais, apesar da resistência da família fundadora, que tem rechaçado suas investidas. 

 

Agora Arnault tem uma oportunidade. Vinte dos mais de 50 herdeiros decidiram não abrigar suas ações, que representam 7% do capital da empresa, na holding familiar, que controla a marca. Isso deve abrir caminho para o LVMH conquistar mais um pedaço da Hermès.