Não é apenas uma expectativa de ordem interna. Também mundialmente, observadores, investidores e empresas em geral aguardam com certa ansiedade o resultado do pleito que irá escolher o novo presidente brasileiro. Algo que, por tabela, inevitavelmente, também sinaliza a direção de política econômica que seguirá adiante. Muito embora não se prevejam mudanças bruscas de estratégia, é tido e havido que uma gestão mais ou menos intervencionista pode gerar ruídos desnecessários. Há decerto o temor de que algumas privatizações, concessões e parcerias dentro do programa de PPIs venham a ser alvos de revisão, o que retardaria a tão sonhada liberalização econômica. Gente de dentro das duas principais campanhas que lideram as pesquisas buscam tranquilizar o mercado apontando que o modelo rumo a um Estado mais enxuto veio para ficar. Em que velocidade a desmobilização de ativos para consagrar tal princípio será feita segue como incógnita. Na atual gestão, muitos planos foram retardados e mesmo a privatização da Eletrobrás só saiu nos acréscimos de prazo e, ainda sim, para funcionar como bandeira de campanha. O recorrente aceno de repasse da jóia da coroa, Petrobras, voltou à baila nas discussões, mas, definitivamente, não passa de marketing. Nem de um lado, nem do outro, vislumbram-se possibilidades de andar com tamanha operação, que encontra resistências altas não apenas no Congresso e na legislação, como na própria sociedade. É carta fora do baralho. Restaria a incógnita sobre as reformas. A administrativa e a tributária estão na bica para acontecer, tem pelo menos uma década, e nunca saem do papel. O ministro Guedes ameaçou nesse sentido por inúmeras ocasiões, mas ficou na promessa. O arcabouço fiscal em andamento não dá margens para continuar como está. A própria ideia de furar o teto dos gastos vingou e, qualquer um que assuma, já manifestou a intenção de mexer nesse vespeiro para gerar alternativas. Entre os parceiros vizinhos do Mercosul, o aguardado resultado tem sabor de vitória ou derrota ideológica. Argentina, Chile, Colômbia, dentre outros, aguardam o escolhido pelas urnas para estabelecer os novos laços políticos e diplomáticos. Seus respectivos embaixadores por aqui ainda não foram designados. O tipo de nome que entrará em avaliação tem de contemplar uma estratégia diferenciada em sintonia com os planos do governante vitorioso. Os latinos estão com um pé atrás, especialmente quanto a algumas propostas levantadas recentemente pelo ministro Paulo Guedes de abrir o País com maior ênfase ao resto do mundo, deixando os aliados do bloco em segundo plano. Leem dessa forma as suas palavras. De outro modo, tais parceiros possuem a firme convicção de que o petista Lula olhará com mais atenção para o Mercosul e trará a aliança de volta ao destaque de outrora. São visões muito próprias de como as relações externas se darão a partir do veredicto eleitoral. Mas, no conjunto, o comportamento converge para a cautela. Poucas vezes uma escolha presidencial por aqui galvanizou tanto as atenções e esteve tão polarizada entre os extremos.

Carlos José Marques
Diretor editorial