21/03/2012 - 21:00
Errar é humano – principalmente na hora de investir dinheiro. Essa afirmação acabou de ser provada cientificamente por dois acadêmicos, o sueco Henrik Cronqvist e o alemão Stephan Siegel, em um artigo divulgado no dia 19 de fevereiro na publicação americana Social Science Research Network. Para chegarem a essa conclusão, os dois estudiosos aproveitaram-se da riqueza das bases de dados suecas, genéticas e financeiras. Eles analisaram as estratégias de investimento de 30 mil irmãos gêmeos entre 1999 e 2007. Parte da amostra foi formada por gêmeos univitelinos (ou seja, idênticos) e a outra incluiu apenas os chamados gêmeos fraternos.
Que falta faz um duplo: Se Warren Buffett tivesse um irmão gêmeo idêntico, a fortuna da família
poderia superar a de Carlos Slim.
Os idênticos compartilham 100% de seus genes, ao passo que os fraternos – como quaisquer irmãos – têm apenas 50% em comum. Ao comparar os dados, os pesquisadores concluíram que, mesmo submetidos a ambientes diferentes, os univitelinos mostram comportamentos muito parecidos na hora de lidar com o dinheiro. Mesmo nos casos clássicos de “separados no nascimento”, eles correm riscos semelhantes e cometem erros parecidos. No caso dos fraternos, essa semelhança não é tão nítida. “Pelo menos metade de nossas decisões de investimento podem ser explicadas pela herança genética”, escreveram os pesquisadores.
Diante dessa tese, se o megainvestidor Warren Buffett tivesse tido um irmão gêmeo idêntico, sua família provavelmente seria a mais rica do mundo, superando por larga margem as fortunas dos bilionários Carlos Slim e Bill Gates. Mas será que o gêmeo de Buffett reproduziria o sucesso do irmão? Talvez. A relação entre algo tão básico como nossa herança genética e um comportamento aparentemente racional como o ato de investir parece distante, mas essa aparência engana. Segundo a geneticista Lygia da Veiga Pereira, professora livre-docente do Instituto de Biologia da Universidade de São Paulo, o fato de os comportamentos serem hereditários é uma conclusão indiscutível.
“Basta comparar diferentes raças de cães”, diz ela. Algumas, como as do tipo labrador, são dóceis e domésticas. “Outras, como a weimaraner, passaram por anos de seleção genética para se tornar agressivas e belicosas”, afirma a professora. “Essas características também se aplicam às finanças.” Traços psicológicos herdados, como agressividade, ansiedade, apego e tendência à familiaridade, definem em larga maneira o perfil das estratégias financeiras. Segundo Gonçalo Guimarães Pereira, doutor em genética molecular e professor da Universidade de Campinas (Unicamp), um dos fatores decisivos para o investidor é sua agressividade, um comportamento essencial para a sobrevivência da espécie.
“Nossos ancestrais mais agressivos sobreviveram aos ataques dos inimigos e transferiram seus genes para os descendentes”, diz ele. É dessa característica que decorre a vontade de assumir mais ou menos riscos. Pais que gostam de viver no limite podem gerar descendentes que se alavancam em excesso no mercado, assim como filhos de antepassados ansiosos podem comprar e vender demais, prejudicando a rentabilidade das aplicações. Já a compulsão pela familiaridade restringe a diversificação dos portfólios, e o excesso de apego dificulta o reconhecimento de que uma determinada decisão foi errada. No entanto, os filhos de desastrados financeiros não precisam se resignar com a perspectiva de uma vida de pobreza.
Lygia pereira, Geneticista: ”Influência da herança genética
no comportamento é indiscutível”
A genética é uma boa explicação, mas não é a única. Apesar de os autores do estudo frisarem que a educação formal tem pouca eficácia para conter certos impulsos, a experiência permite usar melhor as características herdadas. Ou seja, com o passar do tempo, e caso se dedique ao autoconhecimento, o investidor pode transformar suas características herdadas em vantagens. “Um investidor pode arriscar demais e quebrar, duas ou três vezes”, diz Lygia. “Isso não impede que ele aprenda com os erros e descubra como canalizar sua agressividade e tolerância ao risco para investimentos bem-sucedidos.”
Da mesma forma, quem tem uma necessidade de investir apenas no que é familiar pode compensar essa fraqueza com uma grande especialização no mercado em que prefere trabalhar. A genética responde por 50% das decisões. A influência do ambiente também é preponderante. Segundo Gonçalo Pereira, da Unicamp, um investidor agressivo não necessariamente fará investimentos mais arriscados se foi criado em uma família muito conservadora em termos financeiros ou se sua infância foi marcada por privações.
Voltando ao Oráculo de Omaha: o pai de Buffett, Howard, foi deputado e um bem-sucedido corretor de ações, mas estava longe de ser um magnata.
Da mesma forma, nenhum dos três filhos do bilionário – Howard Jr., Susan e Peter – encabeça as listas da revista Forbes. Não é um sinal de que os cromossomos da esposa de Buffett entrem em pane na hora de consultar o saldo bancário, mas sim de que as competências dos filhos foram direcionadas para outras áreas. O caçula Peter, por exemplo, é um bem-sucedido compositor de trilhas sonoras para cinema – área em que o bilionário não demonstra nenhuma competência. Então, dedique-se ao estudo do mercado e abandone a ideia de conseguir uma amostra genética de Buffett para criar seu pequeno bilionário em casa.