A melhor frase sobre o câmbio veio de Nelson Barbosa, ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda e cotado para a pasta em um eventual segundo governo Dilma. “Procurar um preço ideal para o dólar é como procurar vaga em estacionamento de shopping”, disse ele durante um almoço em São Paulo. “Assim que você encontra um bom lugar, surge um melhor.”

Variável menos previsível do mercado financeiro, as taxas de câmbio são tão indecifráveis por serem o primeiro reflexo de qualquer mudança nas expectativas dos investidores. Para entender o que ocorre no Brasil é preciso compreender três vetores:

O primeiro é que o Brasil é um pais que precisa de dólares. Apesar dos quase US$ 400 bilhões em reservas internacionais, o País é importador, tanto de bens e de serviços, quanto de capital. Assim como o petróleo que se produz por aqui não basta para abastecer todos os carros, o capital disponível nos bancos, na Bolsa e no BNDES não consegue abastecer todas as empresas. Então, é preciso importar dinheiro.

O segundo é que o Brasil, apesar de tudo, ainda é visto como um país pouco seguro, exatamente por depender de dólares. Há fartos estoques de moeda, que são capazes de pagar, com folga, o total do endividamento externo. Mesmo assim, uma ameaça ao fluxo de dólares dispara, paradoxalmente, problemas no câmbio. Na dúvida, quem precisa da moeda forte compra primeiro e pergunta depois.

Finalmente, esse cenário favorece a especulação, das tesourarias de bancos, dos fundos de investimento e de investidores brasileiros e internacionais. Especulação, aqui, não é crime. É meramente o desejo de ganhar dinheiro com a disposição de correr riscos.

Se há problemas estruturais com o câmbio e há sinais de que o dólar pode ficar mais caro, o especulador é quem se arrisca comprando dólares de que não precisa para revendê-los com lucro.

Funciona exatamente como o preço da banana na feira: quando o tempo é ruim e o produto escasseia, os feirantes cobram mais caro. Temendo o desabastecimento, a distinta freguesia compra banana, mesmo pagando mais caro, o que pressiona os preços ainda mais para cima.

Nesse cenário, o dólar subiu consistentemente nos últimos dias, e avançou mais 0,36% nesta quinta-feira 18 para fechar a R$ 2,3644. Há semanas o mercado vem testando o nível “psicológico” de R$ 2,40, na expectativa de que o Banco Central (BC) intervenha no câmbio no caso de esse patamar ser registrado.

E a Dilma com isso? Na expectativa de uma reeleição da presidente, a escassez estrutural do dólar deverá continuar. E com essas expectativas, o dólar poderá subir mais. A conferir.