Desde o início do ano, a moeda americana subiu 7,5%, passando de R$ 2,65 para R$ 2,85  o maior patamar em 11 anos. Metade dessa valorização ocorreu na semana passada, em um movimento abrupto, mas não surpreendente. Embora o câmbio seja a variável econômica mais difícil de ser prevista – é comum encontrar analistas que se recusam a cravar uma cotação para alguma data futura –, bastava dar uma olhada nos principais eventos globais e na bagunça doméstica para concluir que a tendência do dólar no Brasil era realmente de encarecimento. Mas continua sendo?

No cenário internacional, o grande centro das atenções é o prédio do Federal Reserve (Fed), em Washington, onde são realizadas as reuniões mensais da principal autoridade monetária do mundo. Todas as vezes que indicadores constatam a recuperação da economia americana, os “olhos do mercado” se voltam para o Fed, na expectativa de que a presidente Janet Yellen e sua trupe sinalizem o início do aperto monetário. Afinal de contas, já são seis anos de taxa de juros entre 0% e 0,25%, um patamar propício à formação de bolhas como a que estourou em 2008.

Outro evento que tem gerado uma corrida por títulos públicos americanos – e, consequentemente, valorizado o dólar no mundo inteiro – é a possibilidade de saída da Grécia da zona do euro. Desde a vitória da esquerda radical, no fim de janeiro, as negociações seguem tensas entre o novo primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, e a chamada Troica, formada por FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia. Tsipras quer que os vizinhos deem mais tempo para renegociar os termos do socorro financeiro. A Alemanha, da durona chanceler Angela Merkel, não quer ceder, o que aumentou o risco de um calote grego.

Apesar do cenário internacional agitado – podemos incluir o conflito da Rússia com a Ucrânia –, são as incertezas internas que têm pressionado o preço do dólar no Brasil, nas últimas semanas. O primeiro ponto de desconfiança dos investidores é o pacote fiscal. O novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, se comprometeu a economizar R$ 66,3 bilhões neste ano, o equivalente a 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB). As primeiras medidas anunciadas, no entanto, correm o risco de serem barradas no Congresso pela – pasmem – maioria governista. É o fogo amigo contra o ajuste fiscal (leia reportagem aqui).

Acrescente ao caldeirão econômico a crise na Petrobras, a comunicação falha do Banco Central, que alterna rigor com leniência no combate à inflação, e o risco de racionamento de água e energia. Está pronto o prato perfeito para especuladores apostarem contra a moeda brasileira, embora o País pague uma das maiores taxas de juros reais do mundo. Na semana passada, o dólar turismo era vendido acima de R$ 3 nas casas de câmbio, obrigando muitos turistas a refazerem as contas da viagem de férias programada para julho.

Nessas horas, fica sempre a dúvida: o dólar está caro? Vai subir ou vai cair? Não há bola de cristal séria que preveja os próximos movimentos. Para o “guru do mercado” Luis Stuhlberger, gestor do Fundo Verde, o maior do segmento multimercado no País, “o câmbio é o ativo com preço mais profundamente errado”. Em outras palavras: ele acha que as contas externas e fiscais estão em patamares tão negativos que tendem a desvalorizar ainda mais o câmbio. Tem lógica, mas vai que a dona Janet resolver adiar a alta de juros para 2016…