09/11/2005 - 8:00
Depois de ficar 40 dias preso ao lado do filho, acusado de tentar intimidar um doleiro no processo que o investiga por evasão de divisas, Paulo Maluf já começa a retomar a vida normal. Exilado na Casa dos Lagos, sua mansão em Campos do Jordão, o ex-prefeito de São Paulo saiu às ruas, comprou chocolates, posou para fotos e até deu autógrafos. De lá, ele falou à DINHEIRO e se definiu como ?ex-preso político?. Disse ainda que o doleiro Vivaldo Alves, que o acusou de manter milhões no exterior, opera para o PT. ?Ficou fácil: o doleiro vai lá, diz que o dinheiro é meu, escapa da prisão e ainda ri na cara de todo mundo?, disse Maluf, que ainda enfrenta um problema nos negócios. Sua empresa, a Eucatex, tenta se enquadrar na nova Lei de Falências. A seguir, sua entrevista.
DINHEIRO ? O sr. já se recuperou do trauma da prisão?
PAULO MALUF ? Estou descansando e me recuperando devagar, bem aos poucos. O que fizeram comigo, eu até consigo superar. Mas eu fiquei arrasado com o que fizeram com o meu filho Flávio. Ao longo da história do Brasil, muita gente já foi colocada na cadeia por razões políticas. Em alguns casos, quem não foi preso, teve de se exilar. Mas o Flávio não tem nada a ver com isso.
DINHEIRO ? O sr. se considera um preso político?
MALUF ? Claro. E digo mais. Perseguição política já aconteceu com o Washington Luís, com o Juscelino Kubitschek, com o Carlos Lacerda, com o Adhemar de Barros, com o João Goulart, com o Lula, com o José Dirceu e com o Fernando Henrique. Agora chegou a minha vez. Mas e o meu filho? Ele nunca se meteu com política e nunca teve cargo nenhum na prefeitura. Se tem um político que nunca foi nepotista, que nunca distribuiu favores para os familiares, este político sou eu. Cheguei até a ficar dez anos brigado com uma tia por não ter nomeado um primo meu.
DINHEIRO ? Mas a prisão do senhor e do seu filho ocorreu devido à suposta intimidação de uma testemunha, o doleiro Vivaldo Alves, conhecido como Birigüi.
MALUF ? Para começar, ele não é testemunha coisa nenhuma. Ele é reu no processo. A tal conta Chanani, ele mesmo admite, é dele. Não é minha.
DINHEIRO ? Ele admite que a conta é dele, mas diz que o dinheiro todo é do senhor.
MALUF ? Quem acreditou na tolice contada por esse doleiro só caiu nessa por burrice ou por má-fé. Você não leu o que saiu no Estadão [jornal Estado de S. Paulo]? Descobriram que essa conta Chanani pagou várias viagens ao exterior e bolsas Louis Vuitton para as duas filhas do Birigüi. Aliás, saiu também que essa conta recebeu o tal nome Chanani em homenagem às duas filhas dele. O apelido de uma é Cha e de outra é Nani.
DINHEIRO ? Ele disse que o senhor e seu filho Flávio já o presentearam várias vezes.
MALUF ? Com bolsas Louis Vuitton? São coisas que eu não compro nem para a Sylvia, minha mulher há cinqüenta anos. Não compro para as minhas amigas. Agora vou comprar para as filhas do Birigüi? Saiu também no Estadão que essa conta pagou a compra de um apartamento de US$ 1,5 milhão dele em Nova York. Você acha que eu daria isso para o Birigüi? A burrice, no Brasil, chegou ao limite. É o fim.
DINHEIRO ? E por que, então, o senhor foi preso e o doleiro Birigüi ficou solto?
MALUF ? Isso tem que ser perguntado para os promotores do Ministério Público. Mas você não leu o Mainardi [Diogo Mainardi, colunista da revista Veja]? O Birigüi é, na verdade, o doleiro do Lula. Do Lula e do PT! E que também opera para o Carlos Jereissati [acionista do grupo La Fonte e da Telemar] e para o Tasso Jereissati [senador pelo PSDB]. Tá na coluna dele. Talvez seja por isso que eu fui preso e ele ficou solto. Apareceu até um grampo do Birigüi em que ele se espanta por não ter sido preso e por poder manter aberta a casa de câmbio lá no Shopping Iguatemi.
DINHEIRO ? A Polícia divulgou grampos telefônicos mostrando que o senhor e seu filho Flávio teriam tentado convencê-lo a não o denunciar no processo?
MALUF ? Existem horas e horas de grampos telefônicos nesse processo. E foram todos editados. Só ficou lá o que podia ser usado contra mim para motivar essa prisão absurda e arbitrária. A parte em que me pedem US$ 1 milhão para não me atacar e não me prender não foi divulgada.
DINHEIRO ? Existe isso? Houve mesmo um achaque?
MALUF ? Claro que existe.
DINHEIRO ? O senhor insiste em dizer que o dinheiro não é seu e que não tem conta no exterior?
MALUF ? Claro. No Brasil, com a delação premiada, agora tudo ficou fácil. O doleiro vai lá, diz que o dinheiro é do Maluf, se livra da prisão e ainda ri da cara de todo mundo. E não importa se ele comprou um apartamento de US$ 1,5 milhão em Nova York ou se pagou viagens para as filhas.
DINHEIRO ? Como será o seu futuro?
MALUF ? Eu só penso agora em descansar. O que fizeram com o meu filho foi uma terrível monstruosidade. Respeite, por favor, o meu descanso.
DINHEIRO ? Como as pessoas têm reagido às suas primeiras aparições públicas?
MALUF ? Muito bem. Recebo muito apoio e me pedem até para tirar fotos comigo. O povo não é tolo.