06/07/2005 - 7:00
Na cidade alemã de Bochum, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, um garoto pobre e órfão de pai recebeu de sua mãe trinta centavos para pegar um ônibus e visitar o parque de diversões itinerante que passava pela região. O menino decidiu ir a pé e economizar o dinheiro para poder passear na montanha-russa. Chegando lá, uma desagradável surpresa: o ingresso para o brinquedo custava cinqüenta centavos. Por horas a fio, ele ficou só assistindo às outras crianças se divertirem. Voltou para casa frustrado, mas encantado. Até sonha com o gigante de madeira. Seis décadas depois, Werner Stengel, 63 anos, tem dinheiro mais do que suficiente para passear em montanhas-russas. Melhor: pode se orgulhar de brincar nas que ele mesmo desenhou. Stengel é o criador de mais de 500 desses brinquedos que, atualmente, funcionam em países dos cinco continentes. Suas criações estão na Disneyworld, no Universal Studios, no Legoland e também no Brasil. Em suma, trata-se do maior projetista de montanhas-russas do mundo.
Segundo a revista americana ?Amusement Today?, 36 das 50 melhores montanhas-russas de aço já inventadas saíram da prancheta de Stengel. ?Se eu pudesse, andaria duas vezes por dia em alguma delas?, disse à DINHEIRO.
Sua empresa, a Roller Coaster Stengel, nasceu em 1964 e hoje tem uma equipe de oito engenheiros. Ele já perdeu as contas de quantas montanhas-russas desenhou, mas não hesita ao responder qual lhe causa maior orgulho. ?O filho mais novo é sempre o que mais empolga. Estamos desenvolvendo a Kingda Ka, a maior montanha-russa do planeta, com 138 metros em seu ponto mais alto, para um cliente americano?. A RC Stengel cria cerca de 12 modelos por ano, além de carrosséis e rodas gigantes. Ao todo, são 1,2 mil brinquedos da ?grife? funcionando no mundo. Stengel não revela o seu faturamento. Conta apenas que cobra de 3% a 5% do valor total do projeto para desenhá-lo. ?Uma montanha-russa custa de US$ 1 milhão a US$ 50 milhões.?
A primeira construção para parques de diversões de Stengel não foi uma montanha-russa, mas um carrinho de batida, em 1963. No ano seguinte, veio a encomenda do brinquedo que viria a ser sua especialidade: a primeira montanha-russa de aço da Alemanha. O talento do projetista foi imediatamente reconhecido e ele fundou a própria companhia. ?Não faço propaganda, não vou atrás de clientes. Eles vêm até mim. E até pouco tempo, eu não tinha concorrentes. Agora, os fabricantes também desenham, e isso deixou o mercado mais competitivo?, diz. Stengel não se importa em dividir sua experiência com os novos colegas de mercado. A fabricante Roller Coaster Corporation of America, dos EUA, usou conselhos do alemão na construção da primeira montanha-russa de madeira da América do Sul ? a Montezum, do parque Hopi Hari, localizado em Vinhedo (SP). Mas é difícil competir com um inventor como Stengel. Um exemplo de sua genialidade: no parque Terra Encantada, no Rio de Janeiro, está a ?Monte Makaya?, detentora do recorde mundial de inversões, com oito pontos em que os passageiros ficam de cabeça para baixo. Em 1975, Stengel tornou possível um dos brinquedos mais emocionantes dos parques de diversões: o ?looping?, aquele modelo que tem uma curva em forma de ?L?. No Hopi Hari, está um exemplar desenhado pelo alemão, o Katapult. ?O ?looping? já havia sido inventado, mas era proibido por não ser seguro. Eu desenhei a Magic Mountain, que ainda funciona em Los Angeles, e ela foi aprovada. Daí em diante, quase todas passaram a ter a famosa voltinha?, explica. Stengel está se aposentando. Vai deixar para o genro, Andreas Wild, o cargo de CEO da Roller Coaster Stengel. ?Continuarei dando consultoria, claro. Mas daqui para frente vou usar meu amor pela velocidade nas auto-estradas alemãs, junto com minha mulher?.