27/08/2003 - 7:00
A Rua Amauri, no Itaim, bairro nobre de São Paulo, poderia se chamar Rua João Paulo Diniz. O empresário, de 39 anos, herdeiro do Pão de Açúcar, o maior grupo varejista do País, é dono de quase tudo o que funciona num espaço de 400 metros que vai da Avenida Brigadeiro Faria Lima à Rua Campos Bicudo. Ali, ele ergueu um pequeno império gastronômico. Os restaurantes do pedaço são alguns dos mais badalados de São Paulo: Dressing, Parigi, Ecco e Forneria San Paolo. Para aumentar a sua influência no quarteirão, reino de mauricinhos, patricinhas e metrossexuais, Diniz foi ainda mais ousado. Comprou uma casa, mandou derrubá-la e construiu uma pequena praça no terreno. A chamada Praça da Amauri, com 200 m2, consumiu mais de R$ 1 milhão. ?É um presente para a cidade?, diz. Pousada em frente ao Forneria San Paolo, ela foi projetada pelo arquiteto Isay Weinfeld, reconhecido pela habilidade em trabalhar com ambientes ao ar livre e paredes de vidro. No espaço, repleto de árvores e mesas, há um café cuja renda é revertida para caridade.
A idéia de construir uma praça surgiu das freqüentes viagens
que Diniz faz a Nova York. ?Há um lugar entre as ruas 46 e 47
que é uma espécie de refúgio em meio à loucura da cidade?, afirma. ?Quis fazer o mesmo em São Paulo.? Da metrópole americana, ele importou a arte da boa comida mas também as tendências de comportamento. Como uma espécie de prefeito social da
Amauri, Diniz ajudou a antecipar tendências. O Dressing, inaugurado em 1987, entrou na vida dele dez anos depois, ao se associar com o empresário Sérgio Cusin. Rapidamente transformou-se num dos primeiros endereços em São Paulo a oferecer pratos saudáveis, prioritariamente verdes, sem gordura. Ali também brotou uma nova modalidade de atendentes: mulheres vistosas, chamariz para o público de executivos jovens da vizinhança.
Como não é o mestre do tempero, Diniz comanda a gestão financeira dos restaurantes. Assim, libera os sócios para fazer o que mais sabem: montar novas receitas e atender o cliente com minucioso cuidado. Nesse quesito, os seus parceiros são craques. ?Cuido do menu e o João Paulo fica com a parte administrativa?, diz Sérgio Cusin, sócio no Ecco e no Dressing. Em duplas, trataram de montar uma alquimia perfeita, de modo a abraçar tribos diferentes. De um lado da rua está o Parigi, em sociedade com Rogério Fasano, que abriga boa parcela do PIB paulistano. A decoração é sóbria, em tons de madeira escura. Entre os pratos há um saboroso escalope de foie gras com cogumelo e batata. Na outra ponta, na construção da democracia do paladar na Amauri, desponta o Forneria San Paolo. É um lugar mais descontraído, barulhento, cujas portas fecham às 4 da manhã. Os sanduíches parecem pratos.
A Amauri, com toda sua diversidade, tornou-se a segunda casa do empresário. No Ecco, ele tem 25% do negócio. Um de seus sócios é o apresentador de TV Luciano Huck. No Parigi e na Forneria associou-se a Rogério Fasano. Diniz adquiriu 30% de participação do grupo Fasano por R$ 1,5 milhão e, no ano passado, ampliou sua fatia para 44%. No hotel Fasano, bem próximo da Amauri, ele é dono de 50% de um empreendimento de R$ 50 milhões. E mais: é sócio na indústria de bebidas Flying Ice e do estilista Marcelo Sommer. Juntos, os negócios movimentam R$ 100 milhões por ano. Dentro de dois meses outro empreendimento entrará no leque de Diniz. Uma banca com jornais, revistas, livros e CD?s para o seleto público da Amauri. ?Não há lugares assim na região?, diz.
A empresa de João Paulo, a Componente, ainda está longe do grupo que seu pai, Abílio Diniz, construiu. Mas as ambições são grandes, ao apostar em comida. No fim do ano passado, ele deixou o Pão de Açúcar devido a um processo de reestruturação do grupo. Retirou seus pertences da gaveta, limpou os armários e partiu para seu novo escritório no mês passado. Sabe onde fica? No sétimo andar do prédio de número 255 da Rua Amauri. ?Sob os meus olhos, comando tudo com mais facilidade?, avisa.