19/03/2003 - 7:00
O empresário Selmo Nissenbaum já fez de tudo nos pregões das bolsas de valores. Aos 16 anos, era auxiliar, tempos depois chegou a operador e ainda passou pela Bolsa de Mercadorias & Futuros. Trabalhava por gosto. Filho de família tradicional, o pai era dono da Incasa, construtora de renome no Rio de Janeiro. Mas o que o entusiasmava mesmo era o mercado financeiro. Em sua opinião, isso ajuda a explicar como, em 10 anos, ele ergueu a maior corretora de valores do País, mesmo enfrentando nomes ilustres do mundo financeiro, como Bradesco, Itaú e J.P. Morgan. Em 2002, a Ágora Sênior administrou R$ 17,7 bilhões, quase 6,5% do total movimentado pelo mercado de capitais. O braço on-line também ficou com o primeiro lugar. Sua carteira acumulou R$ 616 milhões, cerca de um quarto do total dos negócios com ações realizados via computadores. Dessa forma, o lucro líquido chegou a R$ 6 milhões.
Aos 40 anos, Nissenbaum cultiva a discrição. Por isso, não
comenta aquele que pode ser o mais arrojado lance na curta
mas ascendente trajetória da Ágora. Ele e seus sócios negociam a compra da Patagon. Para quem não se lembra, a Patagon foi
o mais ambicioso projeto de portal financeiro da América Latina. No auge da euforia da internet, seus criadores, os argentinos Constancion Larguia e Wenceslao Casares, embolsaram US$ 585 milhões, quando venderam o negócio para o Banco Santander. Pouco tempo depois recompraram a marca e a colocaram debaixo de um novo negócio, o Lemon Bank, um banco voltado para o público de baixo poder aquisitivo. Com a aquisição, a Ágora aumentará em 20% seu volume de negócios. As conversações estão em fase final, mas ainda faltam os retoques finais para que o negócio se concretize. Mais que uma oportunidade episódica, compras de concorrentes são a própria estratégia de crescimento da Ágora. Em 1993, para criar a corretora, Nissenbaum aproveitou o surgimento de um tal de Anexo IV. A norma permitia que investidores estrangeiros apostassem nas bolsas brasileiras. ?Não havia ninguém estruturado para assessorá-los aqui e resolvi apostar nesse nicho?, conta Nissenbaum. Na hora de batizar a empresa, ele buscou um nome ?universal?. Escolheu uma palavra de origem grega, ágora, antigas praças onde se localizavam os mercados. ?Os americanos conseguem pronunciá-la sem dificuldade?, conta.
Nissenbaum ocupava até então a diretoria financeira da empresa da família, a Incasa. ?Mas minha paixão era o mercado financeiro?, diz ele. Aos poucos, porém, descobriu as agruras dessa paixão. Primeiro notou que, ao menor sinal de risco, os estrangeiros corriam para casa. ?Éramos muito dependentes de um único tipo de cliente?, diz Paulo Levy, um dos sócios da Ágora. ?Desde então, perseguimos a redução da dependência.? Assim, a Ágora passou a atender também os chamados investidores institucionais, sobretudo fundos de pensão. Não demorou muito para perceber que, em certos momentos, os brasileiros também se afastavam dos pregões. O foco virou-se para pessoas físicas. Primeiro a Ágora fundiu-se com uma corretora, a Sênior. A seguir, comprou a Exata, outro importante nome do mercado financeiro. Há dois anos, os sócios da Ágora perceberam que os investidores mais jovens perguntavam se não poderiam fazer suas movimentações via internet. Era o embrião da Vip Trade, o ramo on-line da Ágora, hoje a maior do setor. A receita de sucesso nesse caso, diz Levy, chama-se tecnologia. Só em 2003, R$ 3,5 milhões foram reservados para esse item. Resultado: uma ordem de compra ou venda de ações consome quatro segundos no portal da Vip Trade. Em outras corretoras, esse tempo atinge dois minutos. ?Essa diferença pode ser a diferença entre lucro e prejuízo em uma operação?, garante Levy. Há um outro ingrediente para explicar a ascensão da Ágora, diz Cláudio Honigman, outro sócio da empresa. ?Somos única e exclusivamente corretores?, afirma ele. Os grandes bancos dedicam-se às mais variadas atividades. Algumas delas, como a compra de títulos públicos, garantem um dinheiro mais seguro e rápido do que a compra e venda de ações. ?Há por parte deles desinteresse em corretagem nas bolsas de valores?, explica Nissenbaum. ?Não fazemos, e não queremos fazer, outra coisa.?
O mais recente projeto de Nissenbaum une esse mandamento supremo à sua origem profissional. Em poucos meses, a Ágora se dedicará à intermediação de recebíveis do setor imobiliário. É um mercado incipiente no Brasil, mas que pode atingir um volume de
R$ 2 bilhões a 3 bilhões por ano, segundo Nissenbaum. ?Há 10 anos pouca gente acreditava no trabalho com os estrangeiros?, lembra ele. ?A história mostrou que estávamos certos.?