Ele já esteve na capa de revistas como Fortune e Business Week. O Financial Times já dedicou meia página de elogios ao seu estilo de trabalhar. A empresa que ele comanda foi eleita um dos 10 melhores lugares para se trabalhar na Europa. Este senhor na foto acima é o doutor Daniel Vasella, 50 anos, CEO da Novartis e a nova sensação no mundo dos negócios. Com seu jeito calmo, o médico está promovendo uma verdadeira revolução americana dentro da suíça Novartis, empresa criada em 1996 fruto da fusão da Sandoz com a Ciba-Geigy. Vasella descreve a Novartis como companhia suíço-americana. Primeiro porque o lema é dar agilidade e aposentar o formalismo europeu. Segundo porque quase a metade do fatura-
mento total da empresa de US$ 24 bilhões vem dos EUA. O resultado da estratégia é que em 2003 a companhia divulgou um lucro de US$ 5 bilhões, um recorde na história da Novartis, agora a quinta maior indústria farmacêutica do mundo. A receita desse sucesso? ?Nós tentamos focar no que temos que fazer, que é levar remédios para os pacientes?, disse o médico suíço em entrevista exclusiva à DINHEIRO.

As mudanças que o executivo implementou na Novartis começaram com a venda da divisão de agronegócios. Sob a batuta de Vasella, a empresa passou a investir pesado em pesquisa e desenvolvimento. Sua obsessão em desenvolver novas drogas é tamanha que Vasella criou um grande laboratório em Cambridge nos EUA, ao lado do MIT, um dos locais que mais produzem gênios por metro quadrado no mundo. Outro salto protagonizado pela empresa foi o lançamento de uma pequena pílula laranja: o Gleevec. O medicamento é considerado uma revolução no combate ao câncer. Inicialmente criado para o tratamento de leucemia, o Gleevec vem sendo testado para outros formas de tumor, como o de próstata. Mas a grande tacada do executivo para dar musculatura a Novartis veio com a compra de 32,7% da Roche. Vasella aproveitou a briga entre os herdeiros do fundador Fritz Hoffman-La Roche para levar um terço da outra gigante suíça ? o limite para uma oferta hostil segundo a legislação suíça. O mercado mundial especula que a aquisição do controle da Roche é apenas uma questão de tempo.

 

No Brasil, o negócio mais promissor para a Novartis reside no mercado de genéricos. A companhia é a única das grandes que tem um pé na indústria tradicional e outro na de cópias. No ano passado, os 26 produtos comer-
cializados renderam à companhia suíça US$ 13 milhões, o dobro do valor registrado em 2002. Ao todo, as operações da Novartis movimentaram no Brasil R$ 708 milhões no setor farmacêutico ? pouco se comparado aos negócios nos EUA, que faturaram US$ 10 bilhões. O Brasil costuma ser encarado como uma promessa de grande mercado que nunca se cumpre e também com desconfiança. Isso por conta da conhecida posição do governo brasileiro em favor da quebra de patentes ? assunto tabu na indústria farmacêutica. ?Ninguém no sistema capitalista vai investir dinheiro se não tiver retorno?, diz Vasella.

Quem ouve o executivo falar nem imagina que nos anos 80 Vasella ainda era um clínico que atuava na cidade de Berna, no centro da Suíça. O médico chegou relativamente tarde à indústria farmacêutica, aos 35 anos de idade. Quando ele entrou na Sandoz, seu chefe lhe disse que se fosse realmente bem, quem sabe um dia poderia comandar as operações de um país do porte de Portugal. Mas o talento do médico à frente dos negócios o levou para os EUA. De volta à Suíça, foi galgando postos na companhia. Foi o responsável pelo comando da empresa após a fusão, e em 1999, tornou-se o primeiro CEO da organização. Vasella implementou um estilo informal na companhia. Gosta de ser chamado de ?Dan? por seus subordinados e não é o tipo de executivo que entope a agenda de compromissos. Prefere ter espaços livres ao longo do dia para poder pensar. Esse
é o estilo do doutor Novartis.