O grande Rogério Ceni, ídolo maior do Tricolor do Morumbi, tem data marcada para se aposentar: 6 de agosto de 2015, dia em que acaba seu contrato com o São Paulo. Pode até ser que ele mude de ideia novamente e jogue mais uma temporada – talento e brilho para isso ele tem. Nada vai mudar, porém, o fato de que, aos 42 anos, se aproxima o dia em que o craque vai pendurar as chuteiras.

É mais ou menos o que acontece com o download de música. Esse formato tem cerca de 15 anos de “carreira” e já dá sinais de cansaço. Mais que isso: não tem fôlego nem pernas para aguentar por muito tempo a paulada que é o campeonato mundial de tecnologia.

Os números comprovam: o download de música encolhe, enquanto o streaming parte para o ataque e assume a artilharia digital.

Liderança em vendas  

O modelo de música na nuvem – pelo qual o usuário não baixa o conteúdo, mas paga pelo acesso via internet –  agora é a principal fonte de faturamento de música digital no Brasil, conforme mostra reportagem da Folha de S.Paulo do dia 21/4, com base em dados da Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD).

Os números da entidade apontam que o streaming passou a representar 51% das vendas de música digital no país, superando o download (30%) e telefonia (19%). A expansão dos serviços baseados na nuvem foi de 53% no Brasil e de 39% no mundo.
Cabe lembrar também que a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI) divulgou recentemente que, pela primeira vez na história, o faturamento da música digital se igualou ao dos formatos físicos, como CDs e DVDs: 46% para cada um. E a tendência é de expansão acelerada do modelo baseado na nuvem daqui para frente.

Netflix da música

No final das contas, o que está por trás desse movimento?

Na raiz do protagonismo do streaming está o modelo de distribuição – e de negócios – que estipula o pagamento pelo acesso ao conteúdo, e não pela posse, como ocorre com o download. É o modelo Netflix aplicado à música.

O usuário aprova esse sistema. Ele aceita pagar cerca de R$ 20 todo mês pelo acesso à música, o que gera receita recorrente à indústria e alimenta a cadeia. É bem diferente do que acontece com o download, pelo qual a pessoa paga uma vez e ponto final.

Se o fã aprova e paga, isso não quer dizer que o músico esteja feliz com que recebe por ter seu trabalho veiculado via o streaming. É inegável que a nuvem está se firmando como a tecnologia predominante na música digital, mas a ponta que ainda precisa ser ajustada nesse novo modelo é a remuneração do artista.

Há reclamações quanto a isso por parte de músicos renomados do mercado internacional, como Taylor Swift, Thom Yorque e Jay-Z. E também entre os nacionais. No Brasil, organizações como Procure Saber e Grupo de Ação Parlamentar Pró-Música (GAP) já se mobilizam contra o modelo de remuneração criado pelas empresas de streaming. Entre os músicos brasileiros que participam dos movimentos está Frejat, do Barão Vermelho.

Pirataria

Em todo caso, o streaming avança e parece contribuir para arrefecimento da pirataria. Com o download, a maioria dos usuários preferia baixar arquivos de graça, de forma ilegal, em vez de pagar por serviços como iTunes. Já há dados, no entanto, que atestam que o crescimento do streaming está mudando esse cenário.

Além do preço convidativo, o consumidor se sente atraído pelo streaming em função da comodidade e do vasto acervo de músicas à disposição. Serviços como o Spotify e Deezer, por exemplo, oferecem ao assinante cerca de 30 milhões de músicas cada um.

Como se vê, a música da nuvem é a promessa do campeonato – e, pelo jeito, por várias temporadas. Até quando, não sabemos, porque a tecnologia sempre revela surpresas de tempos em tempos.

O que já se sabe é que, ainda que envolto na controvérsia sobre a remuneração dos músicos, o streaming já ganhou a vaga de titular no time da tecnologia e agita a torcida, assim como Rogério “Mito” Ceni conseguiu ao longo de sua carreira.