Subir em um avião é motivo de pânico para muitas pessoas. Mas, ultimamente, descer dele também. Motivo: a perda ou o extravio de malas. Desembarcar para uma reunião de negócios ou para as férias somente com a roupa do corpo é um transtorno comum. Dados do Departamento de Transporte dos Estados Unidos mostram que, em 2003, 2,2 milhões de bagagens sumiram nos aeroportos. No Brasil, de acordo com o Departamento de Aviação Civil, o DAC, de cada 100 mil pessoas que voam, 1 mil reclamam seus direitos ao órgão federal. A taxa só não é maior porque grande parte das pessoas não chega a comunicar a perda ao DAC. Diante desse cenário, cabe uma pergunta. Como agir em uma situação como essa?

A primeira providência é fazer uma queixa por escrito no departamento de ocorrências da própria companhia. Se a mala não aparecer em 72 horas, em caso de vôo doméstico, a empresa é multada em R$ 3 mil. Com os vôos internacionais, o custo para a empresa é de US$ 4 mil. Se em ambas situações a bagagem não aparecer o único recurso a ser tomado é recorrer à Justiça. Em tese, o processo mais rápido ocorre no Juizado de Pequenas Causas. Os valores dependem da decisão do juiz. ?É difícil estabelecer prazos quando se trata de uma Justiça morosa?, diz Luiz Fernando Corrêa de Mello, advogado especializado em direito aeronáutico. O grande número de ocorrências se deve a problemas envolvendo logística e infra-estrutura.

Não são raros os acidentes por conta de manutenção. No vôo 963, da American Airlines, que saiu de Dallas com destino a São Paulo, em 13 de junho, a mangueira de combustível escapou contaminando mais de 90 bagagens. Os passageiros só descobriram o desastre quando chegaram ao Brasil. A companhia informa que as malas estão retidas nos EUA para limpeza. Algumas, porém, estarão definitivamente destruídas. Os donos das bagagens comprometidas serão ressarcidos pelo seguro da companhia. Mas não há dinheiro que pague bens como fotografias e lembranças, de valor sentimental. E, mesmo assim, nem sempre o seguro é confiável.

O professor de educação física Maurício Ribeiro, de 30 anos, sabe disso. Em 2001, antes de embarcar para África do Sul, ele fez um seguro contra a perda de bagagem. Onze dias depois, não viu sinal da mala. ?Perderam e a seguradora não queria pagar?, diz ele. Recorreu à Justiça e foi ressarcido em R$ 11 mil. ? Só consegui este valor por ter declarado na Polícia Federal que minha câmera estava na mala.?

O 11 de setembro fez surgir um novo problema. Com medo de terrorismo, os funcionários dos aeroportos são instruídos a arrombar malas perdidas. Embora legítima, é uma atitude que incomoda por destruir malas ? mesmo que o dinheiro seja devolvido. Mais grave, talvez, sejam as supostas máfias que agem nos terminais. ?Os aeroportos são dominados pelo crime organizado?, acusa o advogado Mello. Os criminosos agem em grupos e escolhem a dedo a mala que será roubada. As mais visadas são aquelas que contêm equipamentos digitais e objetos de valor. ?Existem profissionais de má-fé que observam as bagagens pelo raio X do aeroporto e selecionam as malas que serão roubadas?, diz Mello.

DICAS DO VIAJANTE ATENTO

Opte por vôos diretos. As conexões aumentam os riscos de a bagagem ser extraviada ou perdida.

Se dinheiro não for problema, envie as malas por uma empresa particular
como a Fedex.

Se a bagagem for extraviada ou perdida, não deixe de registrar sua reclamação por escrito. Servirá como prova para o ocorrido.

Não use malas de grife. Também não ponha equipamentos digitais dentro da bagagem.

 

COMO JAMES BOND

HARDLITE: Modelo da Samsonite
pode ser localizado pelo GPS
Se depender da marca Samsonite, a perda de malas está com os dias contados. A empresa americana desenvolveu uma bagagem dotada de tecnologia de última geração. A Hardlite tem um chip com GPS. Este dispositivo armazena todos os dados do dono da mala e, por meio de ondas de rádio, se comunica a computadores e telefones celulares. É mecanismo semelhante ao instalado no Aeroporto Internacional de Hong Kong. Desde o início do ano, as malas postas nas esteiras são rastreadas por um equipamento de radiofreqüência, sem que funcionários do aeroporto ponham a mão na bagagem.